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Crise na Grécia

28 de junho de 2011

Sindicatos convocaram greve de dois dias contra as medidas do governo, que serão votadas pelo Parlamento na quarta. Com privatizações, impostos e cortes salariais, Grécia pretende economizar 78 bilhões de euros até 2015.

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Manifestante usa um extintor de incêndio contra policiais em Atenas
Manifestante usa um extintor de incêndio contra policiaisFoto: ap

Em protesto contra as medidas de austeridade econômica que serão votadas nesta quarta-feira pelo Parlamento grego, ônibus e bondes pararam de circular na manhã desta terça-feira (28/06) na capital Atenas.

Como parte da greve de 48 horas convocada pelos mais importantes sindicatos do país, trabalhadores portuários impediram a partida de balsas do porto de Pireu, ministérios e empresas estatais não funcionaram, controladores de voo trabalharam parcialmente e médicos em hospitais atenderam somente casos de emergência.

Supermercados, hotéis, restaurantes e cafés continuaram abertos e os táxis também estão circulando. Apesar de os protestos não configurarem uma greve geral, dezenas de milhares de cidadãos se posicionaram em frente ao Parlamento, em Atenas, muitos pretendendo ficar até mesmo dois dias no local.

A manifestação foi pacífica no início, mas acabou em violência devido à ação de grupos radicais. A polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar dezenas de jovens extremistas que arremessavam garrafas e pedras contra os policiais, em frente ao Parlamento.

Os manifestantes incendiaram latas de lixo e guarda-sóis de restaurantes. Segundo a polícia, 18 manifestantes foram detidos e quatro policiais ficaram feridos. Anteriormente também houve confrontos entre grupos rivais de extrema direita e extrema esquerda. Para assegurar a segurança principalmente do Parlamento, cerca de 5 mil policiais estão em ação em Atenas.

Pacote de austeridade

A aprovação do pacote de austeridade econômica na quarta-feira é condição para a liberação da nova parcela de mais de 12 bilhões de euros referente ao empréstimo concedido pela União Europeia (UE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para salvar a Grécia da inadimplência estatal.

O governo socialista do primeiro-ministro George Papandreou pretende economizar 78 bilhões de euros até 2015. A medida também é condição para um novo pacote de resgate no valor de até 120 bilhões de euros, que deverá ser aprovado no próximo final de semana pelos ministros de Finanças da UE.

Razões do protesto

Gregos protestam contra pacote econômico
Gregos protestam contra pacote econômicoFoto: DW

No entanto, para uma população de pouco mais de 11 milhões de habitantes, economizar 78 bilhões de euros nos próximos anos equivale a 7 mil euros de economia para cada grego. E isso se repercutirá no bolso de cada um dos helênicos.

Os salários irão diminuir em breve, porque o Estado cobrará um imposto de solidariedade. Contribuintes com até 1.000 euros de renda mensal estão isentos, a partir desse valor o imposto passa a ser cobrado. Ele varia de 1% a 4% para vencimentos mais elevados.

Ministros, prefeitos e autoridades governamentais de alto escalão terão de dar o melhor exemplo: eles pagarão 5% de imposto de solidariedade. O imposto sobre veículos irá aumentar 10%, o litro do óleo para aquecimento ficará 5 centavos de euro mais caro e advogados e outros profissionais liberais terão de pagar 300 euros de imposto extra. Nessa situação, é claro que a resistência popular se levanta.

Fim das mordomias

Ministro Venizelos tem difícil tarefa pela frente
Ministro Venizelos tem difícil tarefa pela frenteFoto: dapd

Principalmente os mais ricos irão pagar mais impostos. Quem possuir uma casa em valor superior a 200 mil euros terá futuramente que pagar um taxa adicional, o mesmo vale para proprietários de iates com mais de 6 metros de comprimento, como também para donos de piscinas: quanto maior elas forem, mais elevado será o imposto.

A ida a um bar ou restaurante também deverá ficar mais cara na Grécia. Futuramente, restaurantes e cafés não poderão mais pagar a alíquota de 13% do Imposto sobre Valor Agregado, mas o valor total de 23%.

Todos esses novos impostos deverão trazer, nos próximos quatro anos, 28 bilhões de euros para os cofres públicos. Outros 50 bilhões de euros deverão vir da venda de empresas do Estado grego. A empresa ferroviária estatal, as estações de tratamento de água de Salônica, os gasômetros – tudo deverá ser vendido, incluindo a parcela do Estado no aeroporto de Atenas ou nas companhias de eletricidade.

Os empregados dessas empresas já haviam entrado em greve contra as privatizações. Os funcionários temem que um investidor privado vá cortar seus salários acima da média e outras generosas gratificações. Até o momento, empregados das companhias de eletricidade dispõem de energia elétrica quase gratuita em suas residências, tendo que pagar somente 15% da conta.

Construir um fundo para o poço

Em breve, essas mordomias acabarão. No último fim de semana, o ministro grego das Finanças, Evangelos Venizelos, admitiu que o programa de austeridade econômica é duro e até mesmo injusto, mas não há outra forma de salvar as finanças gregas.

"Este poço sem fundo tem que ter um fundo. E quando esse fundo for colocado, chegaremos novamente ao crescimento e diminuiremos o desemprego. Mas antes temos de nos certificar que podemos pagar as dívidas", disse Venizelos.

Para que o deficit orçamentário da Grécia diminua de 10,5% para 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB), as primeiras medidas de austeridade econômica têm que entrar em vigor ainda neste ano. Mesmo assim, a Grécia seria uma das lanterninhas na zona do euro, mas estaria em situação melhor do que o Reino Unido, EUA ou Japão. Em 2011, esses países esperam um deficit de 8% a 10% do PIB.

Autor: Thomas Bormann / Carlos Albuquerque
Revisão: Alexandre Schossler