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Haddad terá como impedir um "Bolsunami" completo?

8 de outubro de 2018

O candidato do PT parecia intimidado na noite da eleição, diante da onda conservadora que atinge o Brasil. Será que ele já jogou a toalha ou ainda terá forças para virar o jogo, questiona o colunista Thomas Milz.

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Fernando Haddad
Fernando Haddad fala à imprensa na noite do primeiro turnoFoto: picture-alliance/AP Photo/A. Penner

Nos dias anteriores à eleição, a onda política pró-Bolsonaro era palpável. A foto de Bolsonaro estava em todos os lugares, em bandeiras, santinhos e adesivos. Já dos outros partidos e candidatos, pouco se via. Era como se o coelho assustado olhasse hipnotizado para a serpente, incapacitado de se mexer.

Um clima de medo também era palpável, tanto quanto eu nunca experimentara antes de uma eleição nos 20 anos em que estou aqui. Uma conhecida me contou que, no caminho para a padaria, foi ameaçada por cinco jovens com camisetas do Bolsonaro porque ela vestia um top vermelho.

E no avião, no sábado, um senhor idoso usando uma camiseta do Lula foi ameaçado por outro passageiro, que disse que logo ele também iria parar na cadeia. No aeroporto, os motoristas de táxi aplaudiam os passageiros que chegavam com camisas do Bolsonaro. E, em todos os lugares, eu via fisiculturistas com as camisas escuras e tatuagens – será que eles são seguidores de Bolsonaro?

Fernando Haddad também parecia intimidado quando apareceu diante da imprensa na noite da eleição. Será que seus assessores não lhe disseram para sorrir para a multidão, como fazia valentemente sua vice, Manuela D'Ávila? E para que fizesse um discurso agressivo, no qual se dirigisse aos eleitores do centro do espectro político? Em vez disso, Haddad gaguejou de forma peculiarmente insegura. Ele visita o ex-presidente Lula da Silva com tanta frequência, será que não pode pegar lá nenhuma dica para discursos inflamados?

Diante da forte rejeição de Lula entre os que não são simpatizantes do PT, Haddad deveria se abster de visitar seu mentor em Curitiba nesta segunda-feira. O sinal seria devastador: Haddad, o fantoche. O que seus conselheiros dizem sobre isso? Não seria agora o momento certo de fazer um mea culpa junto com um estrondoso chamado ao ataque? Ou será que Haddad não tem, dentro do PT, liberdade para desenvolver seu próprio perfil, que precisa ir além das fronteiras políticas do PT para poder vencer?

Ainda mais surpreendente do que a contenção de Haddad, no entanto, foi a apresentação do próprio triunfante Bolsonaro. Ou melhor: a não apresentação. Podia ser esperada, frente ao excelente resultado, uma aparição festejada diante de seguidores entusiasmados. Em vez disso, Bolsonaro postou na internet um vídeo caseiro mal iluminado, onde leu um texto sem graça por 15 minutos.

Em tom quase de choro, queixou-se das injustiças do mundo, incluindo supostas manipulações nas urnas, que lhe teriam custado a vitória. Ele acusou o PT de Haddad de dispor de bilhões para a próxima campanha e do apoio de grandes setores da imprensa. Discursos de vitória soam bem diferentes disso.

Enquanto isso, seu guru da economia, Paulo Guedes, estava sentado ao lado dele com cara de tédio. A intérprete de libras à sua esquerda até deu um certo tom de comicidade ao vídeo pouco inspirado. O que era aquilo? Ou será que nem mesmo ações de marketing tão ruins como essa afetam Bolsonaro?

Se de fato ocorrerem debates na televisão entre Bolsonaro e Haddad, o perigo é que tenhamos uma tragédia midiática, e isso justamente quando seria necessário – pelo menos para o campo de Haddad – motivar e mobilizar os 30 milhões de brasileiros que no domingo não votaram em nenhum candidato para que se desloquem às urnas em 28 de outubro. Pois nesses eleitores resta aquela que talvez seja a única chance de Haddad de virar o jogo.

Ou Bolsonaro já ganhou, mesmo – isso ao menos explicaria a falta de entusiasmo de Haddad. A ver.

Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há quase 20 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, há 15 anos, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como o Bayerischer Rundfunk, a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há quatro anos.

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