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Igreja Protestante leva Lutero à tela

Neusa Soliz30 de outubro de 2003

O filme "Lutero", sobre a vida do reformador, estréia nos cinemas alemães esta semana. Com grandes atores, a produção co-financiada pela Igreja Protestante visa apresentar o religioso e sua mensagem às novas gerações.

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Joseph Fiennes no papel do reformador Martinho Lutero

O diretor canadense Eric Till colocou um elenco de primeira grandeza a contar a história do monge alemão que se rebelou contra o abuso de poder na Igreja Católica há 500 anos. Lutero é representado pelo ator britânico Joseph Fiennes (Shakespeare in Love); o grande ator suíço Bruno Ganz faz o papel do superior dos agostinianos e sir Peter Ustinov interpreta Frederico, o Sábio, príncipe eleitor da Saxônia e protetor de Lutero.

História concentrada num personagem

Martinho Lutero, de fato, fez história e "mudou o mundo, para sempre", como indica o cartaz anunciando sua exibição nos cinemas da Alemanha, a partir desta quinta-feira (29). O filme, contudo, procurou comprimir muitos acontecimentos em duas horas, falhando, segundo parte da crítica, por "sua abordagem ahistórica, que os figurinos e os cenários luxuosos não conseguem disfarçar", como observa o Stadt-Anzeiger de Colônia.

No estilo de um filme de aventuras, o empreendimento "procurou atender ao pretenso desejo de um amplo público que quer ter seus heróis, mas acaba caindo num tipo de 'reflexo católico': ligar a história a uma personalidade única, que se destaca". "A lenda de um santo - contada à evangélica", intitula-se a crítica do jornal.

Fiennes, o Lutero "certo"?

No altar cinematográfico, o reformador pareceria mais um pálido intelectual do que o monge real de constituição forte e mais para um rude camponês que foi o verdadeiro Lutero. Pelo que o jovem Fiennes não seria o ator certo para representá-lo, embora nada haja a objetar em sua atuação. Inadequada os críticos também acharam a escolha de Uwe Ochsenknecht para interpretar o papa Leo X. O ator alemão destacou-se em várias comédias.

Ficará frustrado quem esperar uma interpretação original dos agitados anos entre 1505 - quando Lutero entrou para o monastério agostiniano de Erfurt - até 1530, ano da Confissão de Augsburg, a proclamação da fé protestante pelo Imperador Carlos V. A película foi rodada na Alemanha, Itália e Republica Tcheca.

O papel da Igreja Protestante

Co-financiado pela milionária organização assistencial americana Thrivent Financial for Lutherans, que contribuiu com quase 10 milhões de dólares, e contando com o auxílio da Igreja Evangélica da Alemanha (EKD) para a divulgação, o filme tem uma intenção pedagógica: contar a vida do reformador para crianças, jovens e quem não tem noção de como se deu a cisão das igrejas católica e evangélica. "Talvez o filme seja uma maneira de levar a mensagem protestante a um novo grupo de pessoas", declarou Christof Vetter, porta-voz da EKD.

Peter Ustinov
Peter Ustinov interpreta Frederico, o Sábio. O príncipe eleitor da Saxônia deu abrigo a Lutero

Nos Estados Unidos, onde já está sendo exibido, Lutero está em 16º lugar na lista de bilheteria, o que não passa de um sonho para a maioria das produções alemãs. Críticas intelectuais à parte, o filme tem tudo para agradar ao grande público, a começar pela encenação de uma Idade Média obscura, que poucos conseguem imaginar em pleno século 21: o povo vivendo na miséria e morrendo de medo do demônio e de ser assado no fogo eterno do inferno.

Teses contra a venda de indulgências

O papa e os cardeais atiçam o medo para encher os cofres eclesiásticos e "vendem" o perdão divino através do tráfico de indulgências. Quem comprar as cartas de indulgência, tem seus pecados perdoados e escapa do inferno. A luta de Lutero contra esse tráfico é um dos temas centrais do filme. Ela leva-o a elaborar suas famosas 95 teses contra o abuso da autoridade papal, que teriam sido afixadas na Igreja de Winttenberg.

O príncipe Frederico da Saxônia manteve o monge escondido durante um ano, para salvá-lo da perseguição. É quando Martinho Lutero traduz a Bíblia para o alemão. A cena da entrega do Novo Testamento a Frederico deveria ser cortada do filme, por recomendação dos consultores. Mas acabou ficando, por insistência do ator Peter Ustinov. A cena "é bonita demais para não ser verdadeira", observou com certa ironia o diário Süddeutsche.

Lutero online

A partir de quinta-feira, várias atividades da Igreja Evangélica giram em torno de Lutero, o filme. A Igreja da Baviera transferiu sua recepção anual para um cinema de Munique. Em Erlangen, haverá uma noite especial de projeção. Grupos de confirmandos já estão reservando entradas. Na internet, a EKD colocou material didático de acompanhamento para professores de religião e realiza até um concurso sobre as teses de Lutero. O prêmio é uma viagem - não para a Turíngia, terra do reformador - mas para a Austrália.