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Imprensa européia

(sm)10 de março de 2007

Visita do presidente norte-americano, George Bush, a cinco países latino-americanos é avaliada pela imprensa européia como tentativa de reverter relações de poder no continente. Lula teria um papel de destaque nisso.

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Manifestações anti-Bush em São PauloFoto: AP

"Bush descobre a América Latina", "Turnê contra a fama arruinada", "Bush quer reverter antiamericanismo da esquerda latino-americana", "Fortalecimento de uma relação adormecida com o 'quintal' dos EUA". A imprensa européia avalia como tentativa de recomeço diplomático a viagem de Bush ao Brasil, Uruguai, Colômbia, Guatemala e México.

Segundo reconhecem os jornais europeus, deter o antiamericanismo latino-americano e a crescente influência do presidente venezuelano, Hugo Chávez, na região é a principal meta política de Washington numa região esquecida desde o 11 de Setembro e do conseqüente desvio da atenção norte-americana para o mundo islâmico.

Lula é visto como o parceiro oportuno de Bush na formação de um outro pólo de poder na América Latina. Mas a opinião pública européia duvida de que o Brasil possa tirar vantagens econômicas disso – por exemplo, com a abertura do mercado norte-americano para o etanol brasileiro.

Leia algumas opiniões divulgadas pela imprensa européia sobre a tentativa de Bush restabelecer relações com um continente negligenciado pela política externa de Washinton.

O que Bush quer é brecar Hugo Chávez. E o ex-sindicalista Lula lhe parece especialmente apropriado para isso. Graças à força e à economia de seu país, o brasileiro é o líder natural da região, já tendo de vez em quando se mostrado enervado com o alto-falante venezuelano. Até já se descobriu um negócio em comum: a energia alternativa. O Brasil é, antes dos EUA, o mais importante produtor de etanol e biodiesel; os veículos do país são movidos em grande parte com esses combustíveis. (...) Ambos querem fechar um acordo de aproveitamento comum; Bush até cogita uma espécie de bioaliança, como modelo alternativo à Opec. Isso deverá minimizar a dependência do petróleo árabe e também de Chávez, que – apesar de toda a guerra verbal – continua sendo o principal fornecedor de combustível dos EUA. Quem está menos convencido disso tudo é o partido de Lula.

(Süddeutsche Zeitung, Alemanha)

Washington está preocupado com o forte clima antiamericanista e com a crescente influência do presidente esquerdista venezuelano, Hugo Chávez. Melhorar as relações com os vizinhos do sul é uma das poucas metas de política externa que a Casa Branca considera realizável até o fim deste mandato.

(Frankfurter Rundschau, Alemanha)

O presidente Lula quer levar Bush a abrir o mercado norte-americano para o etanol brasileiro e a suspender a taxa alfandegária ou pelo menos a reduzi-la para 54 cents por galão. É bastante improvável que o americano se deixe convencer disso. Afinal, 2008 é ano de eleições nos EUA e uma concorrência barata para a indústria de etanol das regiões norte-americanas produtoras de milho é politicamente impensável. Por outro lado, não se sabe se os brasileiros teriam etanol suficiente para fornecer, caso os EUA realmente viessem a importar em grande estilo.

(Frankfurter Rundschau, Alemanha)

De modo geral, as expectativas pela visita de Bush são moderadas na América Latina. Apesar de haver consciência da importância econômica dos Estados Unidos, (...) o presidente americano terá que se confrontar com um grande ressentimento nestes dias de visita à região. Sobretudo sua política no Iraque é alvo de críticas. Muitos movimentos esquerdistas estilizam o representante da maior economia do mundo como seu adversário ideológico.

(Neue Zürcher Zeitung, Suíça)

Após 2006, um ano repleto de eleições na América Latina, Washington pretende tornar 2007 um ano de contatos. Diante de sociedades cujo principal problema é a distribuição da riqueza, o discurso americano pretende focalizar a partir de agora o desenvolvimento.

(Le Monde, França)

Embora as procedências ideológicas sejam muito diferentes, Bush sempre admirou Lula e não faria objeção se o presidente brasileiro passasse a desempenhar o papel de protagonista, usurpado hoje por Chávez. Isso também não desagradaria Lula.

O encontro de ambos, portanto, é um encontro de dois personagens unidos pelas circunstâncias. Lula chama tanto Bush quanto Chávez de amigos e nunca quis romper suas boas relações formais com o venezuelano. Bush, com uma política pragmática na América Latina, também não está coagindo Lula a nenhuma direção específica, no que diz respeito à Venezuela. Mas tanto Lula como Bush estão cientes de que só eles podem deter o expansionismo ideológico do novo Fidel Castro.

(El País, Espanha)