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Imprensa européia condena violência islâmica e falta de tato do papa

(sm) 19 de setembro de 2006

A imprensa européia comenta o atual conflito em torno das declarações do papa sobre o islã e as reações dos extremistas muçulmanos em todo o mundo.

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Jornais da Europa avaliam controvérsia entre o papa e o islãFoto: dpa

Frankfurter Allgemeine Zeitung, Alemanha

"O papa João Paulo 2º já havia considerado uma perversão da religião a fé que possa justificar tais ações [violentas] e a imagem de Deus que possa permitir atitudes como essas. Ele exigiu que os representantes do mundo muçulmano repudiassem a violência em nome de Deus. Tais apelos não deram muitos frutos, pelo menos não a ponto de impedir muçulmanos de explodir bombas em trens e metrôs em nome de Alá. Neste contexto, é um fato de dimensão histórica o papa ter se pronunciado sobre as 'patologias' das religiões."

Financial Times, Reino Unido

"Este papa extraordinariamente culto deveria saber que na Idade Média, de onde ele extraiu o provocante diálogo [citado em sua conferência], mal fazia distinção entre a guerra santa cristã ou muçulmana. Foram as cruzadas apoiadas pelo papa [de então] que praticaram as piores agressões à civilização, que massacraram os habitantes muçulmanos, judeus e ortodoxos em 1099 e saquearam Constantinopla em 1204. Seu apelo por um debate aberto é bem-vindo, mas irritar o mundo muçulmano sem razão nenhuma dificilmente é o caminho certo para alcançar isso."

Le Monde, França

"Na realidade, as palavras abertas e desafiadoras de Bento 16 são um pretexto cômodo para manifestações contra os valores do Ocidente e seu culto à razão. E, para tal, nem importa o que o papa realmente quisesse dizer. Trata-se de um caso político. (...) Daria para imaginar massas revoltadas em Israel, na Europa e nos EUA, exigindo do presidente iraniano que retirasse suas declarações sobre o sionismo? E que se desculpasse por ter declarado reiteradamente que Israel deveria sumir do mapa? É claro que não. Exigir desculpas é uma arma da qual somente fanáticos, déspotas, arrogantes e populistas lançam mão."

Tageszeitung, Alemanha

"O texto do papa não era nenhuma encíclica, muito menos um dogma. Sendo assim, ele pode perfeitamente lamentar o pretenso mal-entendido sobre seu discurso. No cristianismo, não é vergonha nenhuma assumir um erro, muito pelo contrário. (...) Se não fossem novamente os fundamentalistas a jogar lenha na fogueira, tudo poderia terminar de forma tranqüila."

De Telegraaf, Holanda

"O papa lamentou que os muçulmanos tenham entendido seu discurso como uma ofensa. Grupos islâmicos moderados se deram por satisfeitos. Para eles, o assunto está encerrado. Para os muçulmanos radicais, a coisa é bem diferente. Eles ainda vêem as observações do papa como uma agressão radical contra o islã. Embora esta interpretação seja um disparate, trata-se de mais uma prova de que os líderes extremistas muçulmanos e seus aliados políticos usam qualquer chance para incitar o ódio contra tudo o que cheirar a Ocidente e cristianismo."

Corriere della Sera, Itália

"Com as conseqüências das caricaturas de Maomé, a liberdade de expressão sofreu na Europa a maior agressão desde o tempo dos totalitarismos triunfantes. A história terminou com a vitória dos agressores. A Europa aceitou passivamente que a liberdade da sátira continue valendo para tudo, menos para o islã, para o qual a autocensura se tornou dever. Agora eles estão tentando atingir uma meta ainda maior: querem acertar o coração religioso do Ocidente e impedir até mesmo o papa de refletir sobre as singularidades do cristianismo e aquilo que o distingue do islã."

Guardian, Reino Unido

Não é nenhuma surpresa que Bento 16 considere o cristianismo melhor que as outras religiões – caso contrário, ele não seria papa. Mas isso não o torna um militante antimuçulmano. Afinal, seu controverso discurso só tinha como meta pregar que a conversão através da espada é errada, independentemente de ela ser praticada por muçulmanos ou, na época das cruzadas, por cristãos. Contudo, ele devia atentar mais para o contexto político em que faz declarações sobre outras religiões.