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Imprensa europeia destaca primeira crise no governo Temer

Karina Gomes24 de maio de 2016

Mídia afirma que a política brasileira, que parecia ter acalmado ânimos, é abalada por novo escândalo, que coloca credibilidade do governo interino em xeque. "Governo ou um bando de gângsters?", questiona "Die Zeit".

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Romero Jucá
Foto: Geraldo Magela/Agencia Senado

A "sangria" provocada pela Operação Lava Jato é destaque nos jornais europeus nesta terça-feira (24/05), um dia depois de o ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB-RR), ter se licenciado do cargo.

O termo foi usado pelo ministro ao dizer que era necessário "estancar" os efeitos das investigações da Polícia Federal. A gravação da conversa com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado foi revelada na segunda-feira pelo jornal Folha de S.Paulo.

Numa análise repleta de questionamentos, o correspondente do jornal alemão Die Zeit Thomas Fischermann diz que a política brasileira parecia estar calma até que a Folha estourou a bomba: "O jornal recebeu gravações que fazem o governo de transição parecer gângster", afirma no texto intitulado "O complô de Brasília".

"Se o Brasil se acalmou? Um escândalo político joga o recém-formado governo de transição numa crise", escreve o jornalista, que lança questionamentos como: "Governo ou um bando de gângsters?"

"Pode-se ainda acreditar nas boas intenções de um governo de transição para a 'salvação da pátria' que rege em Brasília desde a saída de Rousseff?", continua. "Ou a presidente afastada tinha razão, e está no poder uma espécie de junta que apenas quer esconder os próprios crimes?"

O texto destaca que os brasileiros já sabiam que um escândalo deveria acontecer, já que muitos ministros estão envolvidos em corrupção. "Inquéritos e investigações de corrupção estão em andamento contra eles [os políticos]", diz.

O Die Zeit cogita até ser possível que Dilma volte ao poder após os 180 dias de afastamento, porque a maioria do Senado que votou pelo seu afastamento pode mudar de ideia em meio a este escândalo e outros que podem vir. Mas as investigações sobre as "pedaladas fiscais" e a falta de apoio a ela no Congresso podem fazer que, com uma pitada de azar, ela deixe novamente o Palácio do Planalto.

O Frankfurter Allgemeine Zeitung diz que em menos de duas semanas o governo interino já foi "abalado". O jornal alemão destaca que Jucá é um homem próximo de Temer e um importante membro da equipe econômica do governo interino, que prepara um amplo programa de austeridade.

O inglês The Guardian diz que a credibilidade do governo interino foi colocada em xeque com a revelação de um "plano maquiavélico" para afastar a presidente Dilma Rousseff. E prevê que esse não será a último golpe que vai atingir Temer, já que seu gabinete é composto por ministros investigados pela Lava Jato.

O jornal britânico afirma que "as motivações dúbias e a natureza maquiavélica da trama para retirar Dilma Rousseff do poder ficam aparentes na transcrição da conversa" entre Jucá e Machado e que Temer pouco fez para reduzir a tensão no país.

"Seu gabinete todo branco e masculino foi duramente criticado por não representar o país, suas medidas de austeridade são impopulares e seu líder já voltou atrás da decisão de tirar da Cultura o status de ministério após protestos de artistas, músicos e cineastas", escreve o correspondente Jonathan Watts.

A publicação destaca o temor de que o novo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, que já foi defensor de Cunha, tente interferir nas investigações da Polícia Federal e que o governo interino tente influenciar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), como sugerem os áudios da conversa.

O espanhol El País ressalta que bastaram apenas 11 dias para o governo interino de Temer sofrer sua primeira baixa. As gravações insinuam que a saída de Dilma ajudaria a frear as investigações anticorrupção.

"Em suas palavras, vieram um mau presságio a respeito do novo Executivo: que, apesar de o governo interino insistir num discurso de renovação contra a corrupção estabelecida no Partido dos Trabalhadores (PT), o que se pretende na realidade é minimizar o caso Petrobras, que afeta vários partidos, incluindo o presidente Temer", escreve o jornal espanhol.