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Imprensa europeia vê "vitória apertada" em "país dividido"

Carlos Albuquerque27 de outubro de 2014

Sites destacam divisão entre "Norte e Nordeste pobres" e "Sul e Sudeste ricos", comentam que a campanha foi marcada pela troca de acusações e afirmam que Dilma terá a tarefa de unir o país.

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Foto: picture-alliance/landov/Xinhua/Xu Zijian

A apertada vitória da presidente Dilma Rousseff no segundo turno da eleição presidencial foi manchete nos sites dos principais jornais e revistas europeus neste domingo e segunda-feira (27/10). Na tentativa de explicar a eleição de Dilma, a mídia europeia destacou principalmente o apoio que ela recebeu dos estados menos favorecidos do Norte e Nordeste, em oposição aos do Sul e Sudeste, mais ricos e industrializados.

Ainda no fim da noite de domingo, o jornal italiano Corriere della Sera escreveu que "o quadro eleitoral confirma um país dividido em dois, com Rousseff dominando o Nordeste pobre do Brasil, onde é mais forte o efeito dos programas sociais, enquanto é grande a preocupação nas áreas mais ricas, sobretudo no estado de São Paulo."

O diário milanês destacou ainda a agressividade da campanha eleitoral: "A tensão da campanha eleitoral, longa e às vezes violenta, teve repercussões também no dia decisivo". O jornal deu destaque à afirmação do candidato tucano, Aécio Neves, de que a campanha eleitoral "ficará marcada como a mais sórdida já feita".

"Apelo ao díálogo"

O jornal francês Le Monde enfatizou a apertada vitória de Dilma e o apelo ao diálogo proferido pela presidente em seu primeiro discurso após as eleições. "Este é o resultado mais apertado depois da primeira eleição presidencial direta, organizada em 1989, após a ditadura militar", escreveu o diário.

"O Nordeste votou em Dilma, São Paulo contra ela", afirmou o Le Monde: "Os 142,8 milhões de brasileiros convocados a votar, num país onde o voto é obrigatório, estiveram divididos entre os partidários da continuação das conquistas sociais realizadas pelo Partido dos Trabalhadores (...) e aqueles de uma alternância [de poder] para relançar a economia."

O jornal destacou ainda os desafios que Dilma tem pela frente, dando ênfase à declaração da presidente de que o "diálogo é o primeiro compromisso" do seu novo mandato, como também à sua intenção de promover uma reforma política e combater a corrupção.

Divisão do país

O diário espanhol El País apontou nesta segunda-feira para a estreita margem de vantagem de Dilma sobre o adversário, dando destaque à divisão do país nesta eleição.

"Como se previa, os mais pobres e atrasados estados do Norte e Nordeste, como Bahia ou Pernambuco, votaram em peso em Dilma. Os estados do sul, mais ricos e industrializados e com uma população com mais recursos, como São Paulo, o estado mais populoso, deram preferência a Neves." O jornal espanhol disse ainda que, "para Rousseff, foi decisivo o apoio do estado de Minas Gerais, local de nascimento de ambos" os candidatos.

O El País afirmou que nunca uma campanha eleitoral dividiu tanto os brasileiros e que a primeira tarefa do vencedor será "fechar a ferida aberta durante as três semanas vertiginosas de uma dura campanha" e que o primeiro discurso de Dilma após ser eleita "apontou para essa direção unificadora".

Xingamentos, acusações e economia

O primeiro discurso da presidente reeleita também foi manchete no jornal britânico The Guardian: "Em discurso de vitória, uma radiante Rousseff disse esperar que o país possa se unir". Segundo o diário, os eleitores aparentavam estar divididos e confusos "por uma campanha eleitoral suja, caracterizada por xingamentos, acusações de corrupção, nepotismo e incompetência".

O The Guardian também destacou as alusões ao regime nazista feitas por ambos os lados durante a campanha eleitoral: "Neves comparou o marqueteiro da campanha do PT, João Santana, ao chefe da propaganda nazista, Joseph Goebbels. Em resposta, Lula da Silva disse que os social-democratas perseguiam o Nordeste pobre do Brasil da mesma forma que os nazistas maltratavam os judeus".

O jornal britânico deu um especial destaque aos desafios que Dilma tem pela frente, afirmando que "o Brasil entrou em recessão técnica no começo deste ano" e que "uma indicação-chave de como Rousseff, uma economista formada, pretende virar esse quadro será a sua escolha do ministro da Fazenda".

Tecnocrata com desafios

O jornal alemão Süddeutsche Zeitung também enfatizou os desafios de Dilma para unir o país: "A presidente terá de se esforçar para melhor o mau humor e unir a nação dividida". O jornal bávaro considerou que faltam à Dilma o "carisma e a popularidade de seu mentor Lula, mas a tecnocrata Rousseff é vista como uma lutadora".

A notícia da vitória de Dilma e a divisão do país também foram destaque no site da revista alemã Der Spiegel nesta segunda-feira. Em sua página de internet, a principal revista alemã afirmou que "uma rachadura atravessa o Brasil. Ela passa exatamente ao longo da fronteira geográfica entre os pobres Norte e Nordeste e os ricos Sul e Sudeste, mas ela também atravessa a sociedade."

A Spiegel afirmou ainda que "o Brasil tem quatro anos turbulentos pela frente" e que a "robusta e autoritária Rousseff tem agora a tarefa de reconciliar o país dividido".