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Vizinhos amigos

8 de setembro de 2011

Para especialistas, o ex-ditador da Líbia ainda conta com grandes aliados em países africanos como Níger e Burkina Fasso. Mas as autoridades destes Estados negam que darão abrigo a Kadafi.

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Kadafi ofereceu apoio financeiro a vários países próximosFoto: AP

A passagem por Níger de um grande comboio vindo da Líbia em direção aos países do cinturão de Sahel alimentou as especulações sobre um possível exílio de Muammar Kadafi em um país da África Ocidental. Autoridades do Níger e de Burkina Fasso negam com veemência um eventual acolhimento do ex-líder líbio em seus territórios, mas observadores acreditam que a região do Sahel possa ser um refúgio para Kadafi.

A possível ajuda não seria dada por acaso. Durante os 42 anos em que permaneceu no poder, o antigo líder líbio cultivou excelentes relações com os vizinhos a partir de volumosos repasses de recursos. Nações mais pobres do continente, como Níger, Burkina Fasso e Mali, foram ajudadas com os bilhões do petróleo de Kadafi.

Com o suporte financeiro, ele conquistou não apenas a simpatia, mas também uma clara influência sobre estes países. Em um encontro da União Africana, os chefes de Estado chegaram a coroá-lo "rei dos reis".

Muammar Gadaffi Herman van Rompuy und Ali Bongo beim EU Afrika Gipfel
Criação da União Africana foi bancada pelo ex-líder líbioFoto: picture-alliance/dpa

Toda a região é muito ligada a Kadafi. Ele investiu bastante no desenvolvimento da zona do Sahel, na construção de estradas, hotéis e represas. Ele planejou um canal no Níger até Timbuktu, em Mali. "Quem sabe, agora ele está fazendo valer isso", avalia o francês Bruno Callies de Salies, especialista em assuntos islâmicos. "Mas, para a região, isso seria obviamente arriscado, sua presença seria uma ameaça à estabilidade", afirma.

Treinamento militar

A aproximação com os líderes africanos não se deu apenas com dinheiro. Kadafi foi o responsável pelo treinamento de líderes rebeldes africanos no que chamou de "centro revolucionário mundial" perto de Bengazi. Lá, homens como Idriss Deby e Charles Taylor aprenderam a lidar com a AK-47, arma conhecida como Kalashnikov.

Atualmente, Deby governa a República do Chade com mão de ferro. Já Taylor, ex-presidente da Libéria, aguarda em Haia o julgamento pela Corte das Nações Unidas em Haia pelas atrocidades cometidas durante a guerra civil em Serra Leoa. Curiosamente, hoje já se sabe que foi Kadafi quem abasteceu os rebeldes de Taylor com dinheiro e armas.

Um dos amigos mais próximos de Kadafi é o atual homem forte de Burkina Fasso, Blaise Compaoré – também treinado na Líbia. Sem a ajuda do amigo líbio, Compaoré não teria alcançado o poder por meio de um golpe em 1987. Burkina Fasso reconheceu o Conselho Transitório da Líbia, mas aparentemente se mostra também preparado para oferecer asilo político ao antigo aliado.

Burkina Faso Blaise Compaore
Compaoré teve ajuda de Kadafi para chegar ao poderFoto: AP

Outro apoio importante também viria dos tuaregues, nômades do norte do Sahel. Durante muito tempo, Kadafi os apoiou, especialmente no Níger, com armas, munição e logística na luta pela independência. Muitos tuaregues estavam lutando ao lado das forças pró-Kadafi. Para Philippe Hugon, diretor de pesquisas do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS, do francês), em Paris, ainda existe o risco de que o ex-ditador líbio volte a mobilizá-los.

"Dos muitos movimentos dos tuaregues pela liberdade, acabaram se formando bandos de criminosos, e mesmo que a relação entre eles e Kadafi tenha enfraquecido, o ex-líder líbio ainda poderia buscar o apoio deles", acredita Hugon.

A luta pelo poder na Líbia está sendo sentida pela população na área do Sahel. Muitos moradores têm medo tanto dos mercenários africanos de Kadafi quanto da imensa quantidade de armas em circulação. Mesmo assim, muitos líderes da região parecem relutar em romper com Kadafi.

Tanto o Níger quanto Burkina Fasso reconheceram o Tribunal Penal Internacional, que agora procura Kadafi. Mas ambos também fazem parte da União Africana – organização que não existiria sem o dinheiro de Kadafi. Não seria de se admirar que seus membros simplesmente ignorassem o mandado de captura internacional e não entregassem Kadafi, seguindo o ditado "não se morde a mão que nos alimenta".

Autor: Alexander Göbel (ms)
Redação: Roselaine Wandscheer