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Inovação brasileira busca espaço na Alemanha

Nádia Pontes de Berlim
18 de maio de 2018

Movidas a inteligencia artificial, internet das coisas, nanotecnologia e visão computacional, soluções criadas por startups brasileiras ganham apoio no país visto como porta de entrada para o mercado europeu.

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Holofote com palavra Brasil ao fundo
Em Berlim, 15 startups brasileiras iniciaram uma aproximação com a Alemanha sob coordenação da ApexFoto: DW/N. Pontes

No país onde nasceu o conceito da indústria 4.0, Bruno Luiz Belanda afirma que a inovação que criou em Piracicaba, no interior de São Paulo, é tão boa quanto as oferecidas por empresas alemãs. E sua argumentação parece ter funcionado: em uma semana, a ideia do brasileiro despertou interesse entre médias e grandes empresas na capital alemã, Berlim.

"Elas querem saber como a nossa plataforma funciona, viram que ela é mais flexível que as outras feitas aqui", diz Belanda, um dos fundadores da Intelup, startup criadora de um software que coleta e analisa dados de máquinas em linhas de produção para identificar anomalias.

Treinadas para seduzir investidores, parceiros e grandes corporações, 15 startups brasileiras iniciaram nesta semana, em Berlim, uma aproximação com a Alemanha sob coordenação da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). Elas venceram uma competição nacional para fazer parte da missão europeia.

"A internacionalização aumenta a competitividade internamente, está ligada à sustentabilidade da empresa no médio e longo prazo", avalia Juarez Leal, da Apex. "Essa exposição abre chances para muitas parcerias estratégicas, inclusive no Brasil."

Falta de interesse no Brasil

Portas abertas no país de origem foi exatamente o que a VM9 ainda não encontrou. A startup de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, criou um software de gerenciamento dos recursos municipais. Hoje, a empresa desenvolve um projeto em Viena, na Áustria, e negocia com cidades na Alemanha.  

"A dificuldade é negociar no setor público brasileiro. E o Brasil está sempre atrás no movimento tecnológico mundial", comenta Ronald Sousa, da VM9. "Ainda não há interesse em deixar as cidades mais inteligentes, economizar recursos", diz sobre o cenário nacional.

Juliana Lima, da comunidade brasileira de startups ZeroOnze, aponta outra dificuldade. "A burocracia para abrir uma empresa atrapalha muito", diz Lima.

Bruno Rondani, cofundador do Movimento 100 Open Startups, aponta que o ambiente de apoio à inovação está em construção no país.

"O problema é que a gente vêm acelerando numa velocidade muito menor que a de muitos países", diz sobre os investimentos públicos e privados na área. "O brasileiro é receptivo à inovação em si, é um dos maiores mercados. Mas a gente formou essa cultura de absorção de marcas estrangeiras como sendo melhor do que algo produzido localmente", aponta.  

Porta de entrada para a Europa

Inovações nascidas em diferentes regiões do Brasil buscam espaço no mercado europeu, para o qual Alemanha é vista como porta de entrada.

Venétia Santos, que viajou ao país europeu busca de parcerias para produzir no país bolsas que geram energia solar, vai voltar para casa com uma proposta de compra de sua startup, a Flying to the sun, do Rio de Janeiro.

"A proposta veio de um representante de um fabricante de calçados. As conversas vão continuar", detalhou a fundadora da startup.

Vendelino Neto, da startup TNS – baseada em Florianópolis e que usa a nanotecnologia para controlar fungos e bactérias em materiais como tecidos –, também destaca o espaço existente para inovação na Alemanha. 

"Para nós, é importante do ponto de vista logístico e pelo apoio que encontramos. Fomos recebidos com interesse e queremos trazer para cá nosso portfólio de produtos antimacrobianos e soluções voltadas para o mercado agro", afirma Neto.

A startup Flying to the Sun, do Rio de Janeiro, desenvolveu bolsas que geram energia solar
A startup Flying to the Sun, do Rio de Janeiro, desenvolveu bolsas que geram energia solarFoto: DW/N. Pontes

Estratégia digital

Na Alemanha e na Europa, Berlim é apontada como centro das startups – e há políticas públicas por trás disso. Programas do governo federal e local, além de financiamentos especiais de bancos, atraem mais de 700 empresas do tipo para a cidade. Metade vem de outros lugares do mundo.

"É uma estratégia importante para a economia da Alemanha. As startups de hoje podem ser as empresas de amanhã, que criam postos de trabalho. E as grandes corporações se modernizam quando incorporam as descobertas das startups", justifica Norbert Herrmann, do Senado de Berlim.

Ele cita como exemplo o caso da Zalando, startup de vendas online que se transformou numa das maiores empresas da região. É por isso que laboratórios de inovação de grandes empresas estão em Berlim.

"As startups criam muito mais do que grandes empresas conseguem enxergar, têm visão mais avançada da transformação digital. E todas as corporações precisam migrar para essa era de dados", diz Leonardo de Oliveira Santos, da Bayer Business Center.

Ciência e inovação

O brasileiro Christian Pensa, da Birmind, do ramo da indústria 4.0, se disse surpreso com a demanda na Alemanha. "Uma empresa do ramo de telecomunicações ofereceu parceria para implantar a nossa plataforma mundialmente", afirmou depois de uma reunião.

A também brasileira Rocket.Chat assinou um contrato com a Deutsche Bahn, contam Leandro Coletti e Gabriel Engel. A empresa ferroviária alemã aderiu rapidamente ao serviço lançado em 2015, que garante controle e privacidade para conversas online entre funcionários e clientes.

"Os Estados Unidos são os que mais usam, a Alemanha vem em segundo lugar", detalha Engel, que oferece uma versão gratuita do chat, que tem 10 milhões de usuários. Os brasileiros são o número 11 da lista, representando 2% do total.

Já os biólogos brasileiros da startup Pluricell querem usar células-tronco reprogramadas para o tratamento de doenças cardíacas. Para isso, estão em busca de um investimento de 33 milhões de dólares, que seriam aplicados nos próximos quatro anos – serão anos de pesquisa e busca por autorização para testes em humanos. A tecnologia inovadora nasceu num projeto científico de doutorado e recebeu financiamento público até se transformar numa startup.

"Conhecimento científico é essencial para que se faça inovação", opina Marcos Valadares, um dos fundadores. "A Pluricell ainda não deu certo, mas só chegamos aqui, a ponto de competir internacionalmente, por causa de todo financiamento em pesquisa que recebemos lá trás", conclui.

A jornalista viajou a convite da Apex para acompanhar a missão de internacionalização StartOut.

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