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Biocombustível

7 de março de 2011

Gasolina com 10% de etanol causa incerteza em motoristas e briga entre governo e indústria na Alemanha. Cerca de 77% dos consumidores se negam a abastecer seus carros com a nova mistura, que sobra nos postos do país.

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Motoristas alemães não confiam no biocombustívelFoto: picture-alliance/dpa

O caos em torno da introdução do biocombustível E10 na Alemanha criou insegurança e desconfiança nas ruas da Alemanha. Muitos motoristas se aferram à fórmula antiga, a E5, com acréscimo de 5% de etanol, embora esta custe até 0,8 euro a mais por litro. Eles temem que o novo combustível, com teor de 10% de etanol, possa danificar o motor de seus carros.

A E10 pode ser usada em 93% dos carros registrados na Alemanha e 99% de todos os de fabricação alemã. Mas esses detalhes contribuem aparentemente pouco para tranquilizar os motoristas, já que 70% deles se negam a abastecer com a nova mistura.

A Associação Alemã da Indústria do Petróleo (MWV) haveria supostamente anunciado que a E10 não seria mais distribuída aos postos de gasolina que não houvessem recebido o combustível até então. Isto significaria que cerca da metade dos 15 mil postos da Alemanha não poderia fornecer o novo combustível. A associação, no entanto, negou ter feito tal anúncio, o que apenas aumentou a confusão geral.

Além das preocupações com os 10% de etanol adicionados, consta que a E10 seja menos eficaz, o que neutralizaria a aparente vantagem inicial de preço.

Jogo de empurra-empurra

O ministro alemão do Meio Ambiente, Norbert Röttgen, criticou duramente a indústria de combustíveis por não ter divulgado a E10 nos postos de gasolina. "A confusão que a indústria do petróleo criou é inaceitável", acusou.

O clube alemão do automóvel ADAC anunciou apoio ao ministro. "A indústria do petróleo é a única responsável pelo caos que se seguiu à introdução da E10", disse o porta-voz do ADAC, Maxi Hartung. "Não disponibilizar informações sobre um produto recém-introduzido é a abordagem errada."

Klaus Picard
Klaus Picard, presidente da MWVFoto: Cinnamon Nippard

A introdução da nova mistura de combustível é consequência de uma diretiva da UE que determina que a percentagem de biocombustível na gasolina deve ser aumentada, para diminuir a dependência de petróleo da Europa. O Ministério do Meio Ambiente alemão está agora implementando o plano, e a indústria se esforça para cumpri-lo.

"A lei diz que o consumidor deve utilizar a E10 a partir de agora", disse o presidente da MWV, Klaus Picard. "É por isso que estamos fazendo tudo o que podemos para cumprir essa meta."

A MWV rechaça a acusação de que a indústria não cumpriria sua parte. "A indústria do petróleo está fazendo todo o possível para atingir as metas de biocombustível do governo", afirmou a associação em comunicado. "Isso é resultado de um grande esforço e de altos custos. Estamos levando muito a sério a tarefa de educar os motoristas mas, no fim das contas, as informações sobre a compatibilidade dos veículos com o novo combustível só podem ser fornecidas pelos fabricantes de automóveis."

Outras medidas, mais pressões

O comunicado continua, então, com uma lista de esforços da MWV para informar o público, incluindo folhetos, cartazes e linhas telefônicas de informação, além de algumas desculpas. "A capacidade de produção das refinarias, o número de tanques de armazenamento de combustível nas refinarias, os depósitos e, especialmente, os postos de gasolina são geralmente limitados", prossegue o texto. "As operadoras estão sendo solicitadas a executar a diretiva com as unidades de produção e a infraestrutura existentes."

A MWV enfatiza que as refinarias estão sob grande pressão do governo para implementar a diretiva. "Sob circunstâncias normais, nós pararíamos e retiraríamos do mercado um produto que está sofrendo tanta rejeição por parte dos clientes", afirmou Picard. "Mas temos que ser claros: não se trata de um mercado normal, mas sim de uma intervenção maciça do Estado."

O atual excesso de E10 e a escassez de gasolina comum no mercado criaram problemas econômicos que não podem ser facilmente resolvidos. Muitas refinarias na Alemanha já mudaram sua produção para E10, que só pode ser vendida no mercado interno, uma vez que outros países utilizam outras composições químicas em seu combustível.

Deutschland Bundesregierung Energie Umweltminister Norbert Röttgen
Ministro Röttgen se irritou com indústria do combustívelFoto: AP

Porém o ADAC é não perdoa a confusão, sobretudo porque cerca de 3 milhões de motoristas não poderiam utilizar o novo biocombustível, sendo forçados a comprar o combustível convencional, mais caro do que antes da introdução da E10. "O ADAC apela às companhias petrolíferas para que ofereçam a E5 a um preço acessível, como alternativa", e sugere que a E5 Super seja importada de países vizinhos, como a França.

À francesa

Como único outro país da União Europeia, até agora, a França introduziu em abril de 2009 a E10, seu terceiro tipo de biocombustível. A tarefa foi cumprida com relativa harmonia, pois o governo logo publicou e atualiza regularmente uma lista de modelos de carros compatíveis com os biocombustíveis.

Outros países, em comparação, estão lançando o novo combustível mais lentamente. O Reino Unido, por exemplo, vai lançar a E4 (gasolina com apenas 4% de etanol), em abril, seguido pela E5 no final do ano. E continua sendo um mistério quando – e se – o país vai introduzir a E10.

Os motoristas alemães, ao que parece, terão que se acostumar com a E10 mais rapidamente. "Sabemos que os consumidores geralmente reabastecem de duas em duas semanas", comentou Picard. Até lá, "temos que fazer tudo o que pudermos para ter certeza de que eles ligaram para os fabricantes de seus carros e perguntaram se o seu veículo é compatível com a E10".

Author: Ben Knight (md)
Revisão: Augusto Valente