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Irlanda mostra estar superando a crise

2 de janeiro de 2013

O país, que há dois anos quase declarou insolvência, presidirá o Conselho da União Europeia até final de julho. A Irlanda mostra sinais de que está lentamente deixando a crise e pode servir de exemplo.

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Foto: picture-alliance/dpa

Há dois anos, a Irlanda recebeu ajuda financeira de 85 bilhões de euros dos países da zona do euro e do Fundo Monetário Internacional (FMI) para recuperar suas finanças.

O governo irlandês teve que assumir dívidas inteiras de bancos do país para evitar um colapso da economia. Esses bancos estavam baseados em montanhas de créditos imobiliários podres, devido à especulação feita por eles mesmos.

Para resgatar as instituições financeiras, o Estado irlandês se endividou enormemente. O deficit orçamentário em 2010 chegou a atingir 32% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

"Uma década perdida"

Desde então, o governo do país mudou e cinco pacotes de austeridade econômica foram adotados. A demanda interna afundou, e a taxa de desemprego chegou a 15%. Milhares de irlandeses emigraram para a Austrália, Estados Unidos ou Reino Unido para tentar a sorte.

Atualmente, o chefe de governo é o democrata-cristão Enda Kenny, que coloca em prática de forma rigorosa os planos de austeridade econômica e programas de reformas acordados com a União Europeia e com o FMI.

"Nós nunca dissemos que seria fácil ou que aconteceria da noite para o dia", disse Kenny no último encontro de cúpula da União Europeia, como balanço dos últimos dois anos. "Nós estamos em uma situação muito difícil. Diante das grandes dificuldades que as pessoas e todos os setores da sociedade vivenciam, eu enfatizo que nós tivemos que tomar decisões difíceis em interesse da população e do país. Decisões essas que tentamos tomar da forma mais justa possível."

Enda Kenny
O primeiro-ministro Enda Kenny colocou em prática os rigorosos planos de austeridadeFoto: AP

Os programas de reabilitação econômica já geraram alguns frutos, confirmou o professor Philip Lane. Ele dirige a Faculdade de Economia do Trinity College na capital irlandesa, Dublin. A economia da Irlanda teria já teria crescido um pouco nos últimos meses, e no próximo ano deverá ter uma tendência de lento crescimento.

"Para atingir novamente o PIB que tínhamos antes da crise, precisaremos de mais cinco anos, acredito. A recessão no ano de 2009 foi muito profunda", disse Lane em entrevista à DW. "Nós estamos ainda longe do nível antigo. Vamos precisar de alguns anos de crescimento econômico, na verdade até 2017. Portanto, podemos falar em uma década perdida."

O tigre ruge mais uma vez

Há 12 anos, em alusão ao rápido crescimento econômico, a Irlanda chegou a ser chamada de "tigre celta". Como membro mais pobre da União Europeia, a Irlanda se transformou em um dos maiores fornecedores no setor de serviços. Então veio a crise imobiliária e financeira, e o tigre perdeu suas garras.

Porém, o primeiro-ministro irlandês Enda Kenny acredita que o tigre começará, em breve, a dar novamente seus saltos. "Eu tenho que dizer que os investimentos na Irlanda são novamente bastante altos. Antes da chegada ao poder, eu me lembro que nós perdemos 250 mil postos de trabalho em três anos. No último ano foram criados 20 mil novos empregos", disse recentemente o primeiro-ministro a repórteres.

In der irischen Hauptstadt Dublin stehen viele Immobilien leer
Na capital, Dublin, vários imóveis estão vazios à espera de um inquilino ou compradorFoto: Mary Phelan

Ele afirmou, ainda, que há sinais de uma melhora. "Os bancos podem oferecer crédito sem ajuda do Estado, e algumas agências estatais podem novamente vender títulos da dívida pública. Esses são sinais de confiança." Entretanto, em 2012, o déficit orçamentário correspondeu a 8,5% do PIB e, em 2013, as dívidas totais devem atingir cerca de 121% do PIB.

Negócio exportador é a chave

Enquanto o setor de construção e os bancos estatizados ainda não se restabeleceram totalmente, outros setores econômicos se recuperaram visivelmente, principalmente o setor de prestação de serviços e o de tecnologia.

Os bancos despediram muitos funcionários, o Estado irlandês absorveu os créditos podres e os guardou em um "banco podre", que é financiado com o dinheiro da ajuda internacional.

"Por outro lado existe, uma economia exportadora que funciona muito bem", descreveu Holger Erdmann, da Câmara de Comércio Irlanda-Alemanha em Dublin. "Já que quase todos os produtores também exportam, porque o mercado interno irlandês é pequeno, as empresas e empregados deste setor vão na realidade muito bem."

O economista Philip Lane acredita que a política irlandesa foi relativamente bem-sucedida em dividir de forma justa as medidas de austeridade econômica. Além disso, de acordo com Lane, o nível salarial na Irlanda, na comparação europeia, estaria de qualquer maneira muito alto. "Grande parte das medidas de austeridade atingiu os que recebiam melhores salários. As camadas com baixos rendimentos foram relativamente poupadas. Foi mantida a proteção contra a pobreza, o que talvez não tenha acontecido na Grécia e na Espanha", disse Lane.

Demonstration gegen Sparpläne in Irland
Protesto na Irlanda contra os planos de austeridade econômicaFoto: dapd

Erdmann afirmou que não foi constatado um empobrecimento da população, os protestos foram moderados. "Em Dublin já na quinta-feira os bares e restaurantes ficam cheios. Às vezes se pode perguntar: que crise?", disse em entrevista à DW.

Mas acrescentou: "Por outro lado, existem naturalmente grupos populacionais que foram atingidos pelo desemprego. Há algumas famílias que, no auge do boom imobiliário, compraram casas que perderam 50% do seu valor. Agora eles não conseguem honrar o pagamento dos financiamentos."

Disputa por dívidas antigas

O primeiro-ministro irlandês quer utilizar a presidência do Conselho da União Europeia no primeiro semestre de 2013 para impor o rigoroso curso de consolidação também em outros países em crise como Espanha, Chipre ou Grécia.

Além disso, ele quer avançar com a criação da supervisão bancária pelo Banco Central Europeu (BCE), com o objetivo de afastar o risco de que os bancos não sejam devidamente controlados pelas autoridades nacionais e, em caso de problemas financeiros, tragam dificuldades para os Estados ou até mesmo para todo o sistema financeiro europeu.

A Irlanda tem interesse na implementação da supervisão bancária. O Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) da zona do euro deveria assumir as dívidas antigas dos bancos irlandeses e, assim, aliviar o orçamento do país, acredita Enda Kenny. O que deve acontecer com as dívidas antigas, chamada de legacy assets, será discutido de forma definitiva pelos ministros das Finanças da União Europeia.

O ressurgimento da Irlanda após a crise poderia ser um exemplo, diz Kenny. "Isso seria para todos um exemplo como um pequeno país, cujo povo tomou decisões difíceis, pode dispensar a ajuda financeira no decorrer do ano 2013." No final de 2013 a Irlanda quer regressar ao mercado financeiro e, assim, vender novamente títulos da dívida sem a proteção dos programas de ajuda europeus.

Temple Bar Dublin
Temple Bar, em Dublin: mesmo com crise, os bares estão cheiosFoto: Getty Images

Na opinião do economista Philip Lane, para isso acontecer, a Irlanda depende de como a conjuntura econômica global vai se desenvolver, já que o país é dependente de suas exportações. Há o interesse de empresas alemãs em realizar negócios com a Irlanda na área de isolamento térmico, instalações de biogás e nanotecnologia, disse Erdmann.

Determinante também seria o desenvolvimento econômico nos Estados Unidos. "Quase a metade de todos os investimentos estrangeiros na Irlanda vêm dos Estados Unidos. Os norte-americanos investiram nos últimos anos mais do que nos países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) juntos", frisou Erdmann. Isso mostra a importância dos norte-americanos para os irlandeses. "Os norte-americanos simplesmente utilizam a Irlanda como ponte para a Europa, porque a Irlanda é o único país de lingua inglesa dentro da zona do euro."

Autor: Bernd Riegert (fc)
Revisão: Francis França