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Irã acusa UE de paralisar negociações nucleares

gh6 de março de 2005

Teerã diz que Alemanha, França e Inglaterra não demonstram seriedade nas negociações sobre programa nuclear iraniano. Representantes do Parlamento alemão adiam viagem ao Irã.

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Hassan Rohani com Fischer em BerlimFoto: AP

O governo iraniano acusou neste domingo (06/03) a União Européia de ser responsável pela paralisação das negociações sobre o programa nuclear do Irã. Ao mesmo tempo, Teerã continua rejeitando a exigência dos seus interlocutores para que desista de enriquecer urânio.

Segundo informações da agência de notícias France Presse, o negociador-chefe iraquiano, Hussein Mussawian, acusou a Alemanha, França e Inglaterra de não levarem a "sério" as negociações iniciadas em dezembro passado. "Teerã duvida seriamente da capacidade dos europeus de viabilizarem um acordo para por fim à briga nuclear", disse Mussawian.

O porta-voz do ministério iraniano das Relações Exteriores, Hamid Resa Asefi, descartou mais uma vez a possibilidade de o país renunciar ao seu programa de enriquecimento de urânio. Os Estados Unidos acusam o Irã de já dispor de um reator de água pesada, que poderia ser usado para fabricar a bomba atômica.

Mussawian disse que o Irã até agora não viu "o progresso desejado" nas negociações com a UE. "A Europa não apresentou qualquer plano ou proposta e não tomou qualquer iniciativa quanto às garantias objetivas de que a tecnologia civil iraniana não seja utilizada com fins militares", acrescentou.

A Alemanha, França e Inglaterra tentam convencer o Irã, pela via diplomática, a renunciar ao seu programa nuclear em troca de cooperação tecnológica e comercial (ingresso na Organização Mundial do Comércio), além de um diálogo político e de segurança. A próxima rodada de negociações está prevista para quarta e quinta-feira (9 e 10/03), em Genebra, na Suíça.

Negociação complicada

EU Iran Atomstreit Treffen in Brüssel
Negociações sobre o programa nuclear iraniano em Bruxelas (13/12/2004). Nova rodada será em Genebra.Foto: AP

As negociações com o Irã são consideradas uma prova de fogo para a diplomacia da EU. Para os europeus, a melhor garantia de que as atividades nucleares iranianas são puramente civis seria sua renúncia definitiva ao enriquecimento de urânio, mas Teerã não quer cogitar essa hipótese. "Isso vai além do acerto feito em outubro passado", disse Asefi. "Dissemos claramente aos europeus que isso é inaceitável. Sobre essa questão não registramos avanços sensíveis", afirmou outro negociador iraniano, Cyrus Naseri.

Pelo contrário, o Irã pensa em construir "outros dez Natanz", disse ele, referindo-se ao local onde o país construiu sua primeira fábrica de centrifugação para enriquecer urânio. Ele reiterou que o Irã está decidido a ampliar suas atividades nucleares. "Podem estar certos de que estaremos em condições de construir nossas próprias centrais dentro de alguns anos", declarou.

"Nossa principal preocupação é a produção de combustível, o resto é secundário", disse Naseri. Segundo ele, os europeus "sabem muito bem que existem soluções técnicas para obter garantias objetivas, sem que o Irã tenha que renunciar ao enriquecimento de urânio. Os europeus buscam uma solução intermediária, mas devem levar em conta os americanos", disse.

Ameaça

Asefi declarou que o Irã não teme uma briga sobre seu programa nuclear diante do Conselho de Segurança das Nações Unidas. "Se os americanos e europeus pensam que podem intimidar o Irã com o Conselho de Segurança, para que renuncie ao seu direito legítimo de enriquer urânio, eles se enganam e um dia vão se arrepender por isso", advertiu.

O encarregado do programa nuclear iraquiano, Hassan Ruhani, defendeu a construção do reator de água pesada, que se destinaria apenas a fins pacíficos. "Não queremos produzir plutônio para fins militares", disse. Enquanto Ruhani garante que o reator ainda se encontra em obras até 2008, sob supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica, o Instituto de Ciência e Segurança Internacional (ISIS) informa que ele já estaria pronto.

Viagem adiada

Segundo informações da revista Der Spiegel, os esforços alemães para solucionar a briga nuclear com o Irã sofreram um retrocesso. O deputados federais especializados em política externa, Volker Rühe (CDU) e Hans-Ulrich Klose (SPD), teriam adiado uma viagem ao Irã, depois que Teerã se irritou com críticas de Rühe. O deputado da CDU declarara ao jornal econômico Handelsblatt que não simpatizava com o regime dos mulas.

Há uma semana, o chefe do Conselho de Segurança Nacional do Irã, Hassan Rohani, ameaçou em Berlim romper as negociações nucleares com a UE, caso não dêem resultados positivos até meados de março. Ele também descartou uma renúncia ao enriquecimento de urânio. "Isso seria visto pelo povo como um Apartheid tecnológico e poderia derrubar o governo. Estamos sob pressão interna. Até as eleições parlamentares de junho, o problema tem de ser resolvido", disse.

O Irã começou a construir sua primeira usina nuclear em 1974 com tecnologia alemã. Em 1991, o grupo Siemens abandonou o projeto, cuja conclusão foi assumida pela Rússia. O candidato da oposição em Teerã, o ex-presidente Alí Akbar Rafsanyani, acusou a UE de haver quebrado sua promessa, de permitir o uso pacífico da energia nuclear pelo Irã.