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PolíticaIsrael

Israel: depois de Netanyahu, a incerteza

Tania Krämer
14 de junho de 2021

Ninguém esconde que o objetivo era tirar o premiê após 12 anos no poder. Mas Israel será agora governado por uma frágil coalizão, que reúne da esquerda até a ultradireita e terá que se equilibrar para não desmoronar.

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Jair Lapid e Naftali Bennett
Jair Lapid e Naftali Bennett: governo conjuntoFoto: JINI via Xinhua/picture alliance

Após quatro eleições e anos de incerteza, Israel tem agora um novo governo, composto por uma coalizão potencialmente frágil de oito partidos. O ultranacionalista Naftali Bennett, de 49 anos, será o primeiro-ministro, pondo fim aos 12 anos da era Benjamin Netanyahu, político que ficou mais tempo no poder no país.

A nova coalizão é formada por antigos aliados de Netanyahu, muitos da linha dura da direita israelense, mas também conta com partidos centristas, de esquerda e, pela primeira vez, uma pequena legenda que representa a minoria árabe de Israel.

O acordo é tão frágil que bastaria um desacordo entre duas das várias facções no Parlamento para comprometer a estabilidade do governo.

"Eles têm muitas diferenças em termos de relações exteriores e segurança, economia, religião e Estado", diz Gideon Rahat, membro sênior do Instituto Israel Democracy. "A única coisa que pode uni-los são os 90% de coisas que os governos fazem de qualquer maneira, sem diferenças ideológicas. A política cotidiana."

Uma frágil coalizão

Na sexta-feira, os acordos foram assinados pelos oito partidos, incluindo o centrista Yesh Atid (Há um Futuro), cujo líder, Yair Lapid, foi encarregado pelo presidente de Israel de construir o novo governo.

"O público israelense merece um governo funcional e responsável que coloque o bem do país no topo de sua agenda. É isso que este governo de unidade foi formado para fazer", disse Lapid em declaração conjunta com Bennett na sexta-feira.

Para garantir o apoio vital da coalizão de direita Yamina, Lapid elaborou um plano para compartilhar a chefia de governo com Bennett, cujo partido apoia a expansão dos assentamentos e se opõe ao estabelecimento de um Estado palestino.

Nos dois primeiros anos deste governo, Lapid será ministro do Exterior e primeiro-ministro suplente. Bennett entregará o cargo a Lapid em agosto de 2023 por mais dois anos –  isso se o governo durar mesmo todo o seu mandato.

"Bennett e Lapid terão que trabalhar duro para manter seu governo longe dos erros", diz Nahum Barnea, jornalista do diário Yedioth Ahronoth. "O governo tem apenas 61 assentos no Parlamento. No domingo, por exemplo, não conseguiu persuadir o 61º parlamentar a votar a favor dele. Este governo terá dificuldades para tomar decisões."

"Esta manhã é o amanhecer de um novo dia. É uma manhã de trabalho árduo, às vezes de Sísifo, para reconstruir as ruínas", escreveu o jornalista Ben Caspit no jornal Maariv.

"Netanyahu e o bibismo não foram derrotados pela esquerda ou pela direita, mas pela sanidade, ou pelo menos pelo anseio de sanidade. O desejo de muitos israelenses de viver em silêncio, sem ódio e, principalmente, sem as infinitas mentiras que o legado de Netanyahu nos deixou", completou.

O que diz o acordo de coalizão?

O esboço geral mostra que o governo se concentrará nas questões sociais e econômicas, além de aprovar o orçamento do Estado e construir novas infraestruturas, como novos hospitais e um aeroporto. O acordo também visa formular legislação para limitar o primeiro-ministro a dois mandatos, ou seja, oito anos. Isso impediria potenciais planos de Netanyahu de concorrer novamente ao cargo.

Sobre as questões internas mais controversas como Estado e religião, o acordo de coalizão manterá o status quo. Entretanto, algumas reformas são esperadas quando se trata da diversificação da certificação alimentar kosher, por exemplo. Várias propostas já atraíram críticas de líderes de partidos ultraortodoxos, que, como aliados de longa data de Netanyahu, estão agora na oposição pela primeira vez em anos.

Cessar-fogo é teste para a coalizão

O novo primeiro-ministro não poupou palavras ao abordar o conflito com o Hamas ou o Irã, embora não tenham sido estes o foco do acordo de coalizão. Um conhecido linha-dura, Bennett disse ao Parlamento que Israel deveria "assegurar seus interesses nacionais na área C" – que representa 60% da Cisjordânia ocupada. Ele também advertiu o Hamas a manter o cessar-fogo.

A recente guerra de 11 dias entre Israel e o Hamas em Gaza terminou com um cessar-fogo indefinido, onde ambos os lados concordaram em parar com os disparos. Este poderia se tornar o primeiro teste para o novo governo, caso o grupo palestino volte a lançar foguetes.

Sobre o acordo nuclear iraniano, que está sendo renegociado atualmente em Viena, Bennett disse que Israel não permitirá que o Irã tenha armas nucleares. "Israel não é parte do acordo e manterá total liberdade de ação", disse ele no domingo.

Fim da turbulência?

Há uma sensação de alívio na mídia e entre o público de que o novo governo finalmente encerrará dois anos e meio de turbulência política.

"Honestamente, nunca pensei que ficaria tão feliz em ter Naftali Bennett como o próximo primeiro-ministro de Israel", disse Adi Redman, que se descreve como apoiador dos partidos de esquerda, em Jerusalém. "Eu realmente sinto que isso representa as muitas facetas que estão em Israel neste momento."

Outra passante, Gal Nir, diz que não pertence à base eleitoral de Bennett, mas que era hora de Netanyahu ir. "Não vou me vangloriar disso, mas acho que ele já fez o suficiente. Não estou desrespeitando nada do que ele fez, apenas acho que é hora de alguém começar a mover as coisas por aqui", comentou.

Entre os eleitores de direita, o clima é misto em relação ao novo governo. "Acho que temos que dar uma chance a ele. Eu mesmo votei na direita, por isso sou um pouco cético. Mas é uma oportunidade interessante, porque é uma mistura de todos realmente", disse Doron Ben Avraham nas ruas de Jerusalém.

Netanyahu, que está sendo julgado por várias acusações de corrupção, pretende permanecer como líder da oposição do partido Likud, a maior bancada do Knesset. Ainda não está claro se ele perderá a imunidade parlamentar.

"Israel sem Netanyahu não seria tão diferente", diz o cientista político Gideon Rahat. "Mas os ruídos poderiam ser diferentes num sentido de menos populismo: menos ataques aos tribunais, à mídia, a quem não concorda com Netanyahu. Portanto, talvez a política fique um pouco mais calma."