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Israel defende Mubarak

31 de janeiro de 2011

Tel Aviv critica falta de apoio dos Estados Unidos e da Europa a Hosni Mubarak e diz que ocidentais não têm em vista interesses próprios. Enquanto isso, oposição egípcia convoca greve geral e novos protestos no Cairo.

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Protestos prosseguem no EgitoFoto: picture alliance/dpa

Segundo uma reportagem publicada pelo jornal israelense Haaretz nesta segunda-feira (31/01), Israel teria enviado uma mensagem confidencial aos Estados Unidos e aos países europeus, solicitando que apoiem a estabilidade do regime do presidente egípcio, Hosni Mubarak, no contexto da onda de protestos.

Nessa mensagem, os responsáveis israelenses teriam ressaltado que a manutenção da estabilidade do regime no Egito é do "interesse do Ocidente" e de "todo o Oriente Médio", acrescentou o jornal. "Por esse motivo, é preciso frear as críticas públicas ao presidente Hosni Mubarak".

Uma emissora de rádio militar que comentou essa informação estima que tal iniciativa constitua uma crítica à posição dos EUA e dos países europeus, de se distanciarem do regime de Mubarak.

Interrogado pela agência de notícias AFP, um porta-voz do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, se recusou a confirmar ou desmentir as informações, enquanto o porta-voz do Ministério do Exterior de Israel se recusou a fazer qualquer comentário.

Além de fornecedor de gás natural para Israel, o Egito é um importante parceiro de Tel Aviv no bloqueio dos territórios palestinos – para desagrado do mundo árabe. O Egito também foi o primeiro país árabe a assinar, em 1979, um acordo de paz com Israel. Em troca, Tel Aviv devolveu todos os territórios egípcios conquistados pelo Exército israelense na guerra de 1967.

Israelenses e palestinos

Frieden zwischen Israel und Ägypten
Jimmy Carter (ao centro) mediou acordo de paz entre Anuar Sadat e Menachem Begin em 1979Foto: AP

Os dirigentes israelenses preferiram não assumir qualquer posição em relação à onda de manifestações no Egito. Por ordem do primeiro-ministro Netanyahu, os ministros de Estado israelenses se abstiveram de fazer qualquer declaração.

Os palestinos na Faixa de Gaza, por outro lado, acompanham com interesse especial o desenrolar dos acontecimentos no Egito. Tendo em vista a política de isolamento praticada pelo presidente Hosni Mubarak em relação à região dominada pelo radical islâmico Hamas, uma troca de poder no país vizinho seria bem recebida.

"Todos em Gaza esperam por uma mudança, pois o Egito é o pulmão pelo qual respiramos", disse um membro do Hamas no domingo. Da mesma forma como Israel, desde que o Hamas assumiu o poder, em 2007, o Egito bloqueou completamente a Faixa de Gaza, com seus 1,5 milhão de habitantes.

Através de centenas de túneis cavados ao longo dos 15 quilômetros de fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito, o contrabando representa uma importante fonte de abastecimento para Gaza. Contrariando as expectativas por uma abertura das fronteiras, no entanto, os palestinos da Faixa de Gaza foram isolados ainda mais em consequência dos recentes acontecimentos no Egito.

EUA e UE

Há 30 anos no poder, o presidente egípcio, Hosni Mubarak, é considerado um dos parceiros mais importantes dos Estados Unidos no Oriente Médio, assim como um apoio estável aos esforços de paz com Israel.

Analistas israelenses criticaram duramente a reação dos EUA em relação às manifestações no Egito. Em Israel, se teria criado a impressão de que o presidente Barack Obama e a secretária de Estado, Hillary Clinton, deixaram Mubarak "cair como uma batata quente".

Um funcionário do governo israelense afirmou que "os americanos e os europeus se deixam influenciar pela opinião pública e não têm em vista seus próprios interesses".

Neste domingo, o presidente norte-americano, Barack Obama, apelou para uma "transição regular" no Cairo. Até agora, todavia, Washington não exigiu a renúncia de Mubarak. A chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, exigiu que Mubarak iniciasse negociações imediatas com a oposição.

Posições alemãs

Proteste in Ägypten gegen Mubarak Regime gehen weiter Tahrir Square Platz Kairo
Oposição conclamou novos protestos para terça-feiraFoto: picture-alliance/dpa

Para o ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, os protestos no norte da África são o começo de grandes mudanças. "Nada será mais como antes", disse o ministro à emissora estatal alemã SWR.

Nesta segunda-feira, a chefe de governo da Alemanha, Angela Merkel, viajou a Israel para a terceira rodada de consultas entre os governos de Berlim e Tel Aviv. Na terça-feira, ela deverá se encontrar com o presidente israelense, Shimon Peres, e com a líder da oposição, a antiga ministra israelense do Exterior, Tzipi Livni.

Segundo fontes governamentais, os acontecimentos no país vizinho também farão parte das conversas entre Merkel e os líderes israelenses. De forma geral, o futuro do processo de paz no Oriente Médio faz parte da agenda das conversas entre os dois governos. Não se espera, todavia, que o encontro leve a mudanças decisivas.

"Marcha do milhão"

Enquanto isso, uma semana após o início dos protestos no Egito, a oposição aumenta a pressão sobre Hosni Mubarak. O movimento chefiado pelo Prêmio Nobel da Paz El Baradei conclamou seus apoiadores a uma greve geral e a um protesto em massa, que deverá reunir 1 milhão de pessoas no Cairo nesta terça-feira.

Apesar do toque de recolher, as manifestações noturnas prosseguem no Cairo. Nesta segunda-feira, milhares de pessoas se reuniram na praça Tahrir, no centro da capital egípcia. O local estava cercado por tanques de guerra, os soldados controlavam os manifestantes, mas não impediram o prosseguimento dos protestos.

Desde o fim de semana, Mubarak se esforça em ir ao encontro de exigências dos oposicionistas, afastando políticos de pouco prestígio público. Isso não impede, todavia, que os manifestantes continuem a exigir sua renúncia.

CA/afp/dpa/dapd/rtr
Revisão: Roselaine Wandscheer