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"Isso é rotina", diz líder comunitário do Jacarezinho

7 de maio de 2021

Após maior operação policial da história recente do Rio de Janeiro, com 25 vidas perdidas, moradores denunciam abusos, e delegado diz que polícia "não age na emoção". Ministério Público anuncia investigação independente.

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Uma operação da Polícia Civil na favela do Jacarezinho, no Rio, deixou ao menos 25 mortos, entre eles um policial. A ação realizada nesta quinta-feira (06/05) foi realizada após a Justiça determinar a prisão de 21 pessoas acusadas de tráfico de drogas. A operação teve como alvo criminosos que aliciavam crianças e adolescentes para integrar a facção criminosa Comando Vermelho. Os criminosos também seriam responsáveis por homicídios, roubos e sequestros de trens da SuperVia. 

Em coletiva após a ação policial, autoridades disseram que não "comemoram mortos" e que não houve excesso dos policiais civis envolvidos na operação. "Deixo bem claro aqui que a Polícia Civil não age na emoção, antes que surja alguma dúvida. Para fazer uma operação dessas, há muito planejamento e seguimos muitos protocolos. Então antes [de dizer] 'A operação não foi planejada'... Muito pelo contrário: para nós agirmos, a gente age sempre com muito planejamento, com muitos protocolos com dez meses de investigação", frisou Rodrigo Oliveira, delegado da Polícia Civil.

A troca de tiros e explosões assustaram os moradores, e muitos relataram excessos e execuções pela polícia. "Então, o menino entrou baleado. Como a gente mora na comunidade, a gente não pode colocar ninguém para fora, certo? Então nós o abrigamos, enrolei uma toalha no pé dele e ele ficou aqui. Quando os policiais chegaram e viram o sangue ali, eles meteram o pé no portão e saíram entrando e gritando ‘Cadê ele, cadê ele, cadê ele’. Ele saiu daqui e correu para ali, e eu só tive tempo de pegar meus filhos e colocá-los aqui atrás de mim, e eles assassinaram o garoto ali no quarto", contou Flávia Luciana, moradora da comunidade.

A operação foi a mais letal da história recente do Rio de Janeiro. Após o fim da ação, membros da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara Municipal conduziram uma inspeção na favela juntamente com cerca de 50 moradores da comunidade. A violência causou protestos na favela, e moradores pediram justiça. As ONGs Human Rights Watch e Anistia Internacional pediram que o Ministério Público investigue a operação policial. O MPRJ afirmou que abrirá uma investigação independente.

Rumba Gabriel, líder comunitário do Jacarezinho, afirma que a violência acontece com frequência na comunidade. "Parece bobagem, mas isso é uma rotina. Isso acontece quase sempre, quase sempre... É uma coisa eterna de você vitimar a favela", disse.