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Itália acusa ONGs de "conluio" com traficantes de pessoas

4 de março de 2021

Entidades são acusadas de facilitar a imigração ilegal, entre outros crimes. Grupos negam e denunciam campanha para desacreditar operações de resgate no Mediterrâneo.

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Migrantes resgatados em alto-mar são levados para navio de resgate. ONGs resgatam anualmente milhares de migrantes que tentam a perigosa travessia no Mediterrâneo rumo à Europa
ONGs resgatam anualmente milhares de migrantes que tentam a perigosa travessia do Mediterrâneo rumo à Europa Foto: Open Arms/REUTERS

Promotores públicos italianos acusaram algumas das organizações humanitárias que realizam resgates de migrantes no mar Mediterrâneo de agirem em conluio com traficantes de pessoas.

Um grupo alemão que realizava essas operações afirmou nesta quarta-feira (03/03) que a Justiça da Itália deve processar 21 indivíduos e três ONGs por acusações de facilitarem a imigração ilegal a partir da Líbia.

Juízes em Trapani, na Sicília, disseram que foi concluída uma investigação de três anos sobre as atividades do barco Iuventa, operado pela ONG alemã Jungend Rettet. O resultado do inquérito não foi divulgado pelos juízes, mas a tripulação relatou que seus membros foram processados e podem receber penas de até 20 anos de prisão.

"Salvar vidas jamais será um crime. Provaremos que todas as atividades da tripulação do Iuventa foram absolutamente dentro da lei", afirmou em nota a advogada do grupo, Francesca Cancellaro.

Os promotores acusam os tripulantes do barco de colaborar com os traficantes de pessoas em 2016 e 2017 e de organizar as transferências dos migrantes em alto-mar. Segundo relatos na imprensa, o caso de Trapani também envolve operações de resgate da ONG Save The Children.   

Coleta de migrantes em alto-mar

Segundo as acusações, as ONGs teriam coordenado suas ações com os traficantes. Elas teriam acertado os pontos de recolhimento em alto-mar e desligado o equipamento de satélite das embarcações para evitar que seus movimentos fossem rastreados.

A Save the Children nega ter cometido irregularidades e afirma que agiu com o objetivo único de salvar vidas.

Em Catania, do lado oposto da Sicília, um juiz julgou que quatro pessoas, incluindo funcionários da ONG Médicos sem Fronteiras (MSF), devem ser julgados por acusações de despejarem lixo potencialmente tóxico nos portos italianos, após retornarem de diversas missões de resgate.

Um navio que vai salvar vidas

O caso envolve operações realizadas pelas embarcações Aquarius e Vos Prudence. Os juízes afirmam que os tripulantes despejaram ilegalmente centenas de toneladas de lixo em latões de coleta municipais entre 2017 e 2018. A MSF negou as acusações e disse que a ação legal seria parte de um esforço para interromper as missões de resgate na Itália.

Nesta semana, promotores italianos acusaram a ONG Mediterrânea de receber pagamentos ilegais da empresa de transportes marítimos Maersk para coletar um grupo de migrantes que um de seus navios havia recolhido em agosto. Tanto a entidade quanto a empresa negam as acusações.

Paralelamente a essas ações na Justiça, outro grupo de promotores lançou acusações formais contra o líder da extrema direita italiana e ex-ministro do Interior Matteo Salvini, por suas tentativas de barrar a chegada de migrantes aos portos italianos.

Chegada de migrantes em queda

A Itália registrou um fluxo enorme de migrantes no Mediterrâneo entre 2016 e 2017 – período investigado pelos promotores de Trapani.  Estima-se que 300 mil pessoas tenham chegado ao país nesse período.

Nos últimos anos, os números vêm caindo significativamente. Em 2020, o país registrou a chegada de 35 mil pessoas, um aumento em relação aos números de 2019, quando 11.471 migrantes chegaram ao litoral do país.

rc/ek (Reuters, AFP)