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Itália enfrenta com dificuldade efeitos da crise econômica

Bernd Riegert (av)19 de julho de 2013

FMI, agências de rating e OCDE avaliam com pessimismo situação da economia italiana. Desemprego, dívida pública e crescimento negativo são desafios para nova coalizão de governo. Excesso de burocracia agrava o problema.

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Foto: picture alliance/dpa

A crise econômico-financeira na União Europeia começa a atingir algo sagrado para a maior parte dos europeus: as tradicionais férias de verão, em julho ou agosto.

Uma pesquisa realizada pelo jornal Corriere della Sera indicou que apenas 58% dos italianos pretendem viajar no período – em 2012 haviam sido 66%. O slogan é "ficar em casa e economizar", pois preços de hotéis, viagens com tudo incluído e combustíveis subiram até 20% desde o início da crise, em 2009.

Desemprego e crescimento negativo

Não só as férias canceladas contêm o entusiasmo dos europeus neste verão. Segundo o prognóstico de crescimento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado nesta quarta-feira (17/07), o desemprego em muitos países da UE em crise tende a crescer no próximo ano. Para a Itália, a projeção é de 12,5%, sendo que, entre os jovens, o desemprego deverá ultrapassar os 25%.

Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional (FMI), com sede em Washington, já corrigira de -1,5% para -1,8% seu prognóstico de crescimento econômico na Itália em 2013. Em compensação, para o próximo ano, o FMI prevê uma melhoria na economia do país, que deverá crescer 0,7%.

"O fundo do poço deve ser atingido em 2014. Depois é possível que a tendência seja ascendente", torce Norbert Pudzich, diretor-gerente da Câmara de Comércio teuto-italiana, com sede em Milão.

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Italianos terão que renunciar a suas sagradas fériasFoto: picture-alliance/dpa

"Sob observação oficial"

A agência de classificação de risco Standard & Poor's é menos otimista, pois na última semana ela baixou o rating de crédito da Itália. Enquanto isso, crescem os juros para os títulos públicos com prazo de dez anos: a taxa é de 4,5%, quase um ponto percentual mais elevada do que em maio.

No entanto, graças à promessa do Banco Central Europeu (BCE) de que comprará títulos italianos se necessário, os custos das novas dívidas estatais do país estão bem mais baixos do que um ano atrás.

A crise, entretanto, não está superada, adverte Pudzich, e são necessárias reformas. "A crise está aí, enquanto mudanças substanciais não forem realizadas", comentou o diretor da Câmara teuto-italiana, à DW.

Segundo ele, no momento, os mercados financeiros estão contidos em relação à Itália. Contudo, ao comentar o recente rebaixamento, a Standard & Poor's avisou que as especulações contra o país poderão aumentar.

Ao registrar essa avaliação, o primeiro-ministro italiano, Enrico Letta, admitiu à imprensa nacional que o país – afinal de contas, a terceira maior economia da zona do euro – encontra-se sob "observação especial".

Medidas concretas adiadas

Após dois meses de mandato, a grande coalizão governamental da Itália se adapta lentamente à realidade. O atual governo é formado pelos esquerdistas liderados por Letta, o direitista Silvio Berlusconi, e o professor de economia Mario Monti, com o pequeno partido liberal Escolha Civica (SC). Para Norbert Pudzich, essa pressão também tem um lado bom.

"Seu efeito vai ser positivo. Ela vai seguramente tornar mais objetivo o clima no Parlamento e, no final das contas, levar a um processo de reforma. Este provavelmente não acontecerá na velocidade que desejam os que estão de fora. A longo prazo, a situação vai melhorar."

Em entrevista ao jornal alemão Handelsblatt, o ex-premiê Monti alertou para o perigo de que o país recaia na velha ineficiência: "Não se pode dar nenhum passo atrás".

O novo ministro italiano das Finanças, Fabrizio Saccomanni, prometeu que não elevará os impostos e, ao mesmo tempo, dedicará mais verbas ao incentivo à economia. Como ele pretende realizar esse plano, só se saberá depois das férias de verão.

Fabrizio Saccomanni
Ministro italiano das Finanças, Fabrizio SaccomanniFoto: Reuters

Até lá, o governo Letta adiou o já aprovado aumento do imposto de valor agregado (IVA) e suspendeu a controvertido imposto predial sobre imóveis habitados pelo proprietário.

Num exemplo de como Roma vem preferindo adiar decisões concretas, em seu último encontro com os colegas de pasta europeus antes do recesso, Saccomanni anunciou: "Estamos preparando a possível reintrodução do imposto predial em 2014".

Caos burocrático e tributário

Os problemas da Itália são anteriores à atual crise econômica. "Aqui temos um excesso de burocracia", reclama Norbert Pudzich. "Sobretudo nos níveis regional e local, temos uma administração pública que nem sempre funciona a contento. Nesse ponto são necessários esclarecimentos e diretrizes por parte do governo em Roma."

Além disso, o especialista em assuntos teuto-italianos se queixa de que a carga tributária das empresas seja tão alta, e o sistema tributário italiano muito complicado e pouco transparente. "Mesmo quando se quer fazer tudo realmente direito, nunca se pode estar seguro, enquanto empresa, de haver preenchido todos os requisitos."

Tanto o Estado quanto as empresas do país cultivam uma ética de pagamentos muito frouxa. Ambos só pagam suas dívidas com grande atraso. O ministro Saccomanni quer atacar pelo menos esse problema, e anunciou que o Estado vai saldar rapidamente suas contas em aberto. Assim, ele espera injetar mais dinheiro no setor empresarial e no circuito econômico, gerando maior demanda.

Controle de endividamento

A Comissão Europeia liberou a Itália de um processo de déficit. Em Bruxelas, Olli Rehn, o comissário da UE para assuntos econômicos e monetários, aposta que o país conseguirá manter seu novo endividamento abaixo da marca de 3% do produto interno bruto (PIB), tanto neste como no próximo ano.

Proteste in Italien gegen die Sparpolitik
Medidas de austeridade causaram protestos no país, que ameaçam se repetirFoto: picture-alliance/dpa

No entanto, a dívida total italiana segue crescendo, e já chega a 130% do PIB – enquanto o valor médio entre os países que adotam o euro como moeda é de 90%. E isso embora os tratados europeus prevejam um máximo de 60% do PIB.

Indagado se a Comissão Europeia pretendia impor novas medidas de austeridade ao governo italiano, caso o endividamento ultrapasse os limites previstos, o porta-voz do órgão apenas declarou: "Não sei de nada a respeito".