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Itália é grande demais para ser resgatada pela UE

Zhang Danhong av
30 de maio de 2018

Instabilidade política em Roma desperta apreensão nos mercados financeiros, que temem nova crise da dívida na zona do euro. Modelos usados no caso da Grécia não são aplicáveis à Itália, terceira maior economia do bloco.

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Símbolo de crise do euro em torno da Itália
Foto: picture-alliance/chromorange/R. Peters

Os acontecimentos têm se precipitado na Itália: o presidente impediu a constituição de um governo, e o primeiro-ministro indicado por ele não tem o aval do Parlamento. Tudo indica que haverá novas eleições já no terceiro trimestre.

Nos mercados financeiros, reacenderam-se os temores de um recrudescimento da crise da dívida na zona do euro. Os juros para os títulos públicos italianos com vencimentos de dois anos subiram nesta terça-feira (29/05) para 2,34%. A distância de 2,5 pontos percentuais em relação aos títulos alemães com o mesmo prazo de vencimento é a maior desde 2012, um dos anos da crise.

O percentual ainda está bem abaixo dos 7% – ou até mais – que forçaram o resgate financeiro da Grécia e Portugal, mas meses de suspense poderão acirrar ainda mais o nervosismo dos investidores.

Não há apoio que chegue

Só que a questão de um eventual resgate da Itália nem sequer entra em cogitação. Não há como estender uma rede de salvamento grande o suficiente para amparar o país, com seus 2,3 trilhões de euros de dívida pública. Os italianos têm uma dívida pública maior do que a da Alemanha, e uma quota de endividamento superior a 130% do seu Produto Interno Bruto (PIB) que só é superada, na zona do euro, pela Grécia.

Assim, Roma precisa emitir títulos públicos com grande regularidade, a fim de saldar dívidas antigas. Apenas em 2018 serão cerca de 250 bilhões de euros. Só para fins de comparação: o Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM) dispõe de um total de 400 bilhões de euros.

Em outras palavras: a organização sediada em Luxemburgo poderia financiar apenas por um ano a terceira maior economia da União Monetária, e isso torcendo para que nenhum outro país fosse contaminado pela crise da dívida italiana – o que é utópico.

Resta o Banco Central Europeu e seu famoso programa de operações monetárias sem restrições (OMT), que nunca foi ativado. Este permite à instituição bancária comprar um volume ilimitado de títulos de Estados em crise. Para poder se beneficiar desse mecanismo, contudo, o país em questão deve se submeter a imposições rigorosas, coisa que nenhum dos grandes partidos italianos admitiria.

Por esse motivo, nenhum economista parte do princípio que o OMT será aplicado na Itália. E, além disso, não se pode, com o programa, recompensar uma política econômica irresponsável, critica Jörg Krämer, economista-chefe do Commerzbank: "Se a Itália resvalar para uma crise por seus próprios erros, por negligência, se não conseguir mais se financiar nos mercados, então nem mesmo um Banco Central Europeu pode ajudá-la – e nem deve."

Contágio sob controle

Embora a economia italiana seja seis vezes maior do que a da Grécia, Carsten Heese, do Banco Berenberg, vê pouco perigo de contágio para os demais países. "Nós vemos definitivamente essa crise como uma crise italiana, não do euro, pois a zona do euro dispõe de suficientes instrumentos para prevenir um contágio."

Esse perigo cresceria dramaticamente, contudo, caso o governo que saísse das prováveis novas eleições do terceiro trimestre requeresse a saída da Itália do euro. Ao contrário da Grécia em 2015, Roma tem o potencial para desestabilizar o restante da comunidade, avalia Krämer.

"Na época eu disse que a Grécia podia deixar a zona do euro, pois os investidores privados já haviam se retirado antes ou em parte sido desapropriados. Mas um terço dos títulos italianos está em mãos de investidores fora do espaço do euro. Eles seriam fortemente atingidos."

Krämer parte do princípio de que, no fim das contas, os italianos recuariam diante de um Itaxit, assim como os gregos de um Grexit, pois "quando um país com uma tradição de moeda fraca considera sair, instaura-se imediatamente uma evasão de capital".

Os cidadãos fariam retiradas em espécie ou transfeririam seus saldos bancários para o estrangeiro, tornando necessário impor restrições à circulação de capital, o que prejudicaria gravemente a vida econômica e desencadearia uma crise. "Quando os italianos – como os gregos em meados 2015 – realmente encararem o abismo, vai se reduzir o respaldo para esse curso tão temerário, e a Itália voltará à razão."

E mesmo que viesse um Itaxit, isso não seria o fim do euro, afirma Heese, pois a moeda não é questionada em outros países. "Consideremos a Espanha: todos os partidos estabelecidos e 80% da população são a favor da moeda única."

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