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'Alemães' na seleção turca

Agências (as)25 de junho de 2008

Hamit Altintop e Hakan Balta nasceram na Alemanha, mas são estrelas da seleção turca. Para deputada alemã, uma falha da política de integração. Para Federação Turca de Futebol, um sucesso da sua tática de recrutamento.

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Hamit Altintop, estrela da seleção turca, nasceu em Gelsenkirchen, na AlemanhaFoto: AP

Quando a Alemanha e a Turquia estiverem em campo nesta quarta-feira (25/06) em Basiléia, na Suíça, a língua alemã poderá ser ouvida – e compreendida – em ambos os lados. Dois dos destaques da seleção turca nasceram e cresceram na Alemanha.

São eles o meia Hamit Altintop e o lateral Hakan Balta. Altintop nasceu em Gelsenkirchen, filho de imigrantes turcos, e joga no Bayern de Munique, atual campeão alemão. Balta nasceu em Berlim e defende o clube turco Galatasaray, mas jogava numa equipe juvenil alemã antes de se transferir para a Turquia, em 2003.

"Eu devo muito – na verdade tudo – à Alemanha", afirmou Altintop ao site Spiegel Online. "Mas quando visto a camisa da seleção turca sinto esse patriotismo, sinto que pertenço à Turquia." Para ele, o jogo contra a Alemanha "será muito especial". Altintop é freqüentemente apontado pela imprensa esportiva como o principal jogador da Turquia.

Podolski, Klose e Kuranyi

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Hakan Balta (em pé, à direita) e Hamit Altintop (agachado, à esquerda)Foto: AP

Na opinião do diretor esportivo da Federação Alemã de Futebol (DFB), Matthias Sammer, os jogadores de origem turca são influenciados pelas suas famílias na hora de decidir em qual seleção jogarão. Além de Hamit Altintop e Balta, optaram pela seleção turca craques como Yldiray Bastürk, Ümit Davala, Ílhan Mansiz, Halil Altintop (irmão gêmeo de Hamit) e Nuri Sahin, este apontado pelo técnico do Arsenal, Arsene Wenger, como uma das grandes revelações do futebol europeu. Todos nasceram na Alemanha, filhos de imigrantes turcos.

A ausência de turcos na equipe alemã chama a atenção por dois motivos: os turcos formam o maior grupo de estrangeiros na Alemanha: 2,1 milhões de pessoas têm origem otomana na Alemanha. E a seleção alemã conta com vários jogadores nascidos em outros países, como Lukas Podolski e Miroslav Klose (Polônia), Kevin Kuranyi (Brasil) e Oliver Neuville (Suíça). Além deles, David Odonkor tem raízes ganenses e Mario Gómez, espanholas.

Os dois únicos jogadores de origem turca que já jogaram na seleção alemã são Mustafa Dogan – que há cerca de dez anos disputou apenas duas partidas com a camisa da DFB – e Mehmet Scholl, que, apesar de ser filho de um turco, adotou o sobrenome do padrasto alemão e diz não possuir laços culturais fortes com a Turquia. Ele disputou 36 partidas pela Alemanha.

Política de integração

A situação levou políticos alemães a mais uma vez apontar falhas na política de integração de imigrantes da Alemanha. A deputada do Partido Verde Cláudia Roth disse não entender por que jogadores talentosos como Altintop e Balta não jogam na seleção alemã se nasceram na Alemanha. "Isso mostra que a nossa política de integração não funciona", declarou ao jornal turco Hürriyet, que circula também na Alemanha.

"O que a senhora Roth diz é uma completa besteira", rebateu o deputado Hartmut Koschyk, do partido conservador CSU, em entrevista ao diário Bild. "Podolski, Klose e Kuranyi são contra-exemplos. Eles poderiam ter escolhido outro país, mas optaram conscientemente pela Alemanha."

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Torcedores turcos comemoram na AlemanhaFoto: AP

Para o eurodeputado do Partido Verde alemão Cem Özdemir, os jovens de origem turca na Alemanha precisam urgentemente de um jogador com o qual possam se identificar. "Como um Miroslav Klose ou um Lukas Podolski para os muitos turco-alemães no país. Tenho certeza que, na próxima Copa do Mundo, já teremos esses jogadores. Aí também os turcos de origem alemã teriam um motivo para comemorar."

Identificar talentos

Mas talvez o problema não seja apenas da política de integração. Há dez anos, a Federação Turca de Futebol (TFF) abriu um escritório em Colônia para identificar jovens talentos turcos jogando em campeonatos europeus. O objetivo é convencê-los a ir competir na Turquia ou, ao menos, defender a seleção turca, caso tenham a oportunidade.

"Quando convencemos um jogador, não há mais nada que a DFB possa fazer para que ele mude de idéia, mesmo que usem dez técnicos ou psicólogos", declarou o diretor do escritório, Metin Tekin, ao jornal alemão Tageszeitung.

Segundo ele, o escritório avalia em torno de 200 jogadores por ano. Para Tekin, a Alemanha cometeu o erro de nunca ter demonstrado interesse pelos jogadores turcos de origem alemã. Além de Nuri Sahin, jovens talentos como Zafer Yelen, Serkan Çalik e Bilal Çubukçu poderiam ter optado pela seleção alemã – mas escolheram a Turquia.

Mas há sinais de que a tendência é reversível. A seleção alemã sub-21 possui vários talentos turcos no seu plantel, como Serdar Tasçi (Stuttgart), Mesut Özil (Werder Bremen) e Bariz Özbek (Galatasaray). É possível que um deles seja uma estrela da Alemanha na Copa de 2010.