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Jogos-fantasma completam um ano na Alemanha

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
9 de março de 2021

Ausência de público é duro golpe para o futebol, não apenas pelas fortes emoções que literalmente tomam conta da arena com a presença de milhares de fãs ensandecidos torcendo por seu time.

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Homem vestido de fantasma em estádio de futebol
Pesquisa aponta que 61% dos alemães são contra a reabertura das arenas antes de junhoFoto: picture alliance/dpa/O. Berg

Era uma segunda-feira, 9 de março de 2020. Na majestosa Mercedes-Benz Arena totalmente lotada com 54.307 torcedores, entravam em campo Stuttgart e Arminia Bielefeld. Tratava-se de um clássico da segunda divisão, e estavam em disputa as duas vagas que dão acesso ao futebol de elite. O jogo terminou empatado em 1x1 e deixou o Bielefeld numa situação confortável na tabela, enquanto o Stuttgart teria que lutar mais um pouco para subir. Ambos acabaram ascendendo à primeira divisão.

A partida entrou para a história recente do futebol alemão como a última com as arquibancadas lotadas. A partir daquela data, os estádios ficaram vazios e os assim chamados jogos-fantasma, vale dizer sem torcida, tornaram-se rotineiros, passando a fazer parte do dia a dia não só da Bundesliga, mas também das divisões inferiores.

Dois dias depois houve o primeiro Geisterspiel (jogo-fantasma) entre Colônia e Borussia M'Gladbach, o dérbi do rio Reno. Desde então, com pouquíssimas exceções no primeiro turno da atual temporada, estádios às moscas acabaram se tornando um cenário inusitado para o esporte das multidões.

O experiente atacante Nils Petersen (32 anos), do Freiburg, pontuou para a revista kicker: "Algumas vezes até parece um jogo-treino. Falta o contato visual e auditivo com a torcida, especialmente quando você faz um gol e corre em direção aos fãs para comemorar."

Andreas Luthe,  goleiro do Union Berlin, se ressente muito da ausência de torcedores: "Muitos subestimam o quanto os jogadores sentem falta da torcida. Especialmente depois de uma vitória, não há nada melhor do que correr para a torcida e festejar com os fãs. Até mesmo na derrota sentimos falta da cobrança dos torcedores".

São novos tempos. Tempos de covid-19 que, mesmo na Alemanha, ninguém sabe ao certo quando vão terminar. O que se sabe com certeza é que a atual temporada vai entrar na história por conta dos estádios vazios.

A ausência de público é um golpe duro para o futebol, não apenas pelo aspecto das fortes emoções que literalmente tomam conta da arena com a presença de milhares de fãs ensandecidos torcendo por seu time, mas também pelo baque financeiro que acabou por atingir muitos clubes.

Especialmente os clubes considerados pequenos dependem demais da compra de ingressos dos torcedores, já que sua participação nas quotas de TV é menor e o volume do aporte financeiro dos seus patrocinadores também costuma ser bem menor do que aquele auferido pelos grandes como, por exemplo, Bayern Munique, Borussia Dortmund e Leverkusen.

Christian Seifert, diretor executivo da Liga Alemã de Futebol, prevê que a ausência de público nos estádios cause um prejuízo total aos 36 clubes das duas divisões profissionais de aproximadamente 650 milhões de euros. Consequentemente, para a imensa maioria dos clubes, não haverá dinheiro em caixa para atuar no mercado de transferências, podendo causar um prejuízo adicional de mais 300 milhões de euros. O Eintracht Frankfurt, por exemplo, a cada partida  deixa de arrecadar na sua arena aproximadamente 2,5 milhões de euros, o equivalente a 42,5 milhões de euros por temporada.  É muito dinheiro que deixa de ser auferido. O tradicional Colônia, primeiro campeão da Bundesliga em 1964, também prevê um prejuízo de quase 40 milhões de euros.

Para amenizar ao menos um pouco todas essas perdas, há vozes na Bundesliga que pleiteiam um retorno da massa torcedora aos estádios ao final da atual temporada, em maio. Alex Wehrle, diretor executivo do Colônia, acredita que,  a se manter a redução gradativa de novos contaminados, assim como de vítimas fatais, é possível cogitar uma volta parcial do público às arenas já em maio, o que contemplaria as últimas três rodadas da atual campanha.

Acontece que a própria opinião pública alemã é majoritariamente contra a volta dos torcedores aos estádios. De acordo com um levantamento feito pelo Instituo de Pesquisa YouGov, 61% dos alemães se manifestaram contra a reabertura das arenas antes de junho, preferindo deixar uma eventual volta à normalidade com estádios lotados para a próxima temporada, que tem início previsto para agosto.

Sabe-se de fonte segura que a Bundesliga, juntamente com organizações esportivas e culturais, desenvolveu um projeto elaborado por cientistas e especialista na área de saúde pública que permitiria a volta de espectadores aos estádios sob rígidos protocolos de proteção sanitária na temporada 2021/2022.

Veremos.  

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças.

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.