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"Jogos são um desafio logístico", diz cronometrista-chefe

Joscha Weber (pv)4 de agosto de 2016

Em entrevista, Alain Zobrist, chefe da cronometragem na Rio 2016, fala sobre tecnologia usada na medição de tempo das diversas modalidades. São necessárias toneladas de material e uma equipe maior que a delegação alemã.

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No photo finish: prova dos 100 metros rasos dos Jogos de Atenas foi vencida pelo americano Justin Gatlin por 0,01 segundo
No photo finish: prova dos 100 metros rasos dos Jogos de Atenas foi vencida pelo americano Justin Gatlin por 0,01 segundoFoto: Getty Images/AFP/H. Montgomery

Nos Jogos Olímpicos de 2004, em Atenas, a prova dos 100 metros rasos masculinos – a principal prova do atletismo olímpico – foi vencida pelo velocista americano Justin Gatlin, superando o português Francis Obikwelu por apenas 0,01 segundos. A medalha de ouro foi decidida no photo finish.

Todas as 28 modalidades olímpicas precisam de um cronometrista. Em algumas, a medição do tempo é vital para definir campeões e derrotados, e, em muitos casos, a cor da medalha é definida por décimos, centésimos, ou até milésimos de segundo. Por trás do suor olímpico, existe muita tecnologia e uma imensa equipe de profissionais que trabalham na cronometragem oficial.

"Não usamos mais relógios. Tudo é eletrônico. Trouxemos 450 toneladas de material ao Rio de Janeiro", explica Alain Zobrist, cronometrista-chefe dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. O suíço comanda uma equipe de 480 cronometristas, que recebem o apoio de outros 850 voluntários treinados. A equipe de cronometragem é maior que, por exemplo, a delegação olímpica da Alemanha.

Alain Zobrist, cronometrista-chefe dos Jogos Olímpicos de 2016
Alain Zobrist: "Jogos são como 28 Copas do Mundo simultâneas"Foto: DW/J. Weber

Em entrevista à DW, Zobrist fala sobre os desafios da medição de tempo de tantas modalidades diferentes, novas tecnologias que serão utilizadas no Rio de Janeiro e a interação com os atletas. A única coisa não revelada por ele, que é economista e gerente da empresa de medição de tempo Swiss Timing, no entanto, é o custo desta megaoperação.

DW: Estes são seus primeiros Jogos Olímpicos como cronometrista-chefe. Você sente o peso da responsabilidade sobre seus ombros?

Alain Zobrist: Tenho uma equipe maravilhosa e muito boa. Além disso, temos na Omega [empresa suíça de relógios] acesso a muita experiência: desde 1932, a empresa é responsável pela cronomoetragem nos Jogos Olímpicos. E não atuamos apenas nos Jogos Olímpicos, mas também em muitas competições internacionais. E isso ajuda bastante, é claro.

Aos Jogos de 1932, o cronometrista-chefe levou 30 relógios. Quantos serão usados na Rio 2016?

Não usamos mais relógios. Tudo é eletrônico, e, majoritariamente, são usados computadores. Trouxemos 450 toneladas de material ao Rio de Janeiro, e 480 cronometristas operam os aparelhos. Isso representa um desafio logístico. Cada esporte precisa de sua própria cronometragem, que é concebida especificamente para as respectivas disciplinas.

Com 480 cronomoetristas sua equipe é maior do que a delegação olímpica alemã, por exemplo...

É verdade. Nós realmente temos custos elevados para garantir a medição do tempo em todas as competições. Há 28 locais esportivos diferentes, o que pode ser comparado a 28 Copas do Mundo ocorrendo simultaneamente.

Comparada à dos dias de hoje, a cronometragem dos primeiros Jogos Olímpicos parece quase arbitrária: a medição era feita por meio da visão de um cronometrista e parada manualmente. Quão válidos são os resultados do passado?

Completamente válidos, porque na época era esse o regulamento e as condições eram as mesmas para todos os atletas. Mas, obviamente, não podemos comparar os resultados do passado aos atuais. Hoje, o tempo da reação humana não desempenha papel algum na cronometragem. A tecnologia atual possui proteção computadorizada e nos deixa bastante precisos.

Natação é tida como o esporte mais complexo de ser cronometrado. Por quê?

A peculiaridade na natação é que ela é única modalidade esportiva na qual os atletas param os seus próprios tempos. Isso faz com que tudo seja único: o atleta toca a placa de contato sob a água e trava a medição de seu tempo. A energia para a ativação da placa deve ser de pelo menos 2,5 quilos, para impedir que a onda formada pelo atleta trave a cronometragem.

Os atletas treinam por anos para suas competições nos Jogos Olímpicos, e em muitos esportes os resultados são definidos por décimos, centésimos ou até mesmo milésimos de segundo. Tempos que são medidos por você e sua equipe. Os atletas confiam no trabalho da cronometragem?

Sim, eles confiam. Recebemos muitas reações positivas. Algumas das inovações são baseadas em ideias de atletas. Assim sendo, instalamos nestes Jogos Olímpicos pela primeira vez monitores debaixo d'água que exibem tempo e número da raia nas provas de natação. Muitos nadadores nos falaram que estavam esperando por isso há muito tempo.

Além disso, serão usadas novas câmeras para o photo finish com a capacidade de registrar 10 mil imagens por segundo a partir dos primeiros cinco milímetros da linha de chegada.

A tecnologia com a qual você trabalha decidirá entre vitória e derrota. Mas o que ocorre quando essa tecnologia falha? Por exemplo, por falta de energia elétrica?

Sempre temos backups, o que é muito importante. Existe um sistema A e um sistema B, e por trás de cada um está uma equipe de cronometristas. Mesmo durante quedas de energia elétrica podemos continuar o trabalho, porque usamos baterias. Além disso, temos geradores à disposição. Não dependemos exclusivamente da rede de energia dos respectivos locais esportivos.