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Judeus alemães temem antissemitismo de refugiados árabes

Sonja Jordans (ca)21 de janeiro de 2016

Nas comunidades judaicas alemãs cresce temor de que haja radicais antissemitas entre os refugiados de países árabes. "Devemos acolher quem foge da guerra, mas muitas dessas pessoas veem Israel como inimigo", diz rabino.

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Foto: picture-alliance/dpa/F. Rumpenhorst

Lena Stein acende um cigarro ao ser questionada se ela, como judia, ainda se sente segura na Alemanha. "Eu não posso responder simplesmente com sim ou não", diz a estudante de Frankfurt, antes de exalar a fumaça, que se espalha pelo ar gelado do inverno. "Isso é um assunto demasiado complexo."

Já Julian-Chaim Soussan diz que não deixa de lado a "olhada de controle" por trás dos ombros. "Embora a Alemanha seja um dos países europeus mais seguros para um judeu", ressalva. "Os políticos são interessados em não deixar o antissemitismo emergir." Mesmo assim, ele confirma que há, entre a comunidade judaica, preocupações sobre a segurança dos judeus no país.

Medo do fundamentalismo islâmico

Soussan é rabino em Frankfurt, cidade que abriga uma das quatro maiores comunidades judaicas da Alemanha, com 7 mil membros. Jardins de infância, escolas, centros de juventude, clubes desportivos, cemitério – os judeus estão tão integrados à paisagem urbana quanto os membros de outras religiões. "Frankfurt é multicultural. Aqui cada um vive à sua própria maneira, e todos convivem bem", diz Soussan ao tentar descrever a vida na cidade de mais de 700 mil habitantes.

"Aqui somos apoiados e protegidos", diz o rabino. No entanto, ele permanece atento quando está fora de casa, "principalmente quando saio com minha família e uso o quipá". Nos dias atuais, ressalta Soussan, menos por medo de extremistas de direita, mas pelo temor de fundamentalistas islâmicos.

Esse medo não é infundado, como demonstra um incidente que aconteceu na cidade francesa de Marselha, onde um professor de uma escola judaica foi ferido com uma faca no meio da rua. O agressor se identificou como apoiador da milícia extremista "Estado Islâmico", relatou a imprensa na ocasião, noticiando que o professor de história teria sido agredido por três pessoas que gritaram slogans antissemitas.

Deutschland Juden jüdisches Leben Alltag
Duas crianças judias usam o quipá numa escola judaica de Hamburgo, no norte da AlemanhaFoto: picture-alliance/dpa/D. Bockwoldt

"Nós, judeus, sempre estivemos em fuga"

O rabino de Frankfurt diz estar preocupado que jovens muçulmanos possam se radicalizar também na Alemanha, embora ele afirme concordar com o acolhimento de imigrantes. "Estamos realmente diante de um dilema", diz ele, referindo-se à sua comunidade. "Para nós é urgente acolher e proporcionar abrigo às pessoas que fogem da guerra e do terrorismo", ressalta o rabino. "Nós, judeus, também estivemos em fuga diversas vezes em nossa história e sabemos o que isso significa para as pessoas."

Apesar disso, ele diz entender aqueles que olham para os novos refugiados com cuidado e de forma reticente. "Algumas dessas pessoas cresceram com a imagem de Israel e dos judeus como inimigos", explica o religioso, dizendo ser tarefa da sociedade alemã fazer com que essas pessoas se unam à maioria que não tem posições radicais.

Essa também é a posição de Daniel Neumann, diretor da comunidade israelita de Darmstadt, no sul do estado de Hessen. "É nosso dever moral ajudar as pessoas que estão em fuga", diz. No entanto, ele afirma não descartar a possibilidade de que isso possa causar problemas aos judeus que vivem na Alemanha ou na Europa. "O ideário radical não se retira de forma tão rápida das mentes."

Neumann diz temer ainda mais que os radicais oriundos de países árabes venham a se unir com os extremistas de direita da Alemanha. "Já vimos no passado que isso é possível", explica. "Pois esses grupos têm algo em comum: preconceito e ódio contra os judeus."

Na rua sem quipá

A estudante Lena diz não temer que os refugiados se tornem uma ameaça aos judeus na Alemanha. "Essas pessoas fugiram do terrorismo e da guerra, elas querem viver em paz e não ser ameaçadas por fundamentalistas", argumenta a estudante de 25 anos. Ela afirma não se sentir insegura nas ruas de Frankfurt. "Mas eu também não carrego nada comigo dizendo que sou judia", ressalva.

Frase semelhante também é dita por Neumann. "Enquanto isso não é perceptível em nós, temos apenas um vago sentimento de preocupação, mas nenhum medo."

Lena também afirma não temer pela sua segurança ou pela de seus filhos em locais da comunidade judaica. "Eles são muito bem protegidos, neles se está realmente seguro." Mesmo assim, ela diz que prefere não usar o quipá na rua para evitar que algum radical se sinta provocado.

Soussan tem uma opinião bem diferente. "Estamos na Alemanha, aqui podemos exercer nossa liberdade." Ele afirma usar o quipá em público porque a peça deve fazer parte da paisagem urbana, assim como o véu muçulmano.