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Justiça alemã condena à prisão acusados de abuso infantil

5 de setembro de 2019

No caso que chocou a Alemanha, dois homens recebem pena máxima por abusos sistemáticos de dezenas de crianças ao longo de 20 anos em camping no oeste do país. Eles filmavam os crimes, que incluem 250 casos de estupro.

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Julgamento de Andreas V. e Mario S. em Detmold, na Alemanha
Andreas V. e Mario S. confessaram os crimesFoto: picture-alliance/dpa/B. Thissen

Um tribunal da cidade de Detmold, no oeste da Alemanha, condenou à prisão nesta quinta-feira (05/09) dois homens acusados de abusar sistematicamente de pelo menos 32 crianças ao longo de 20 anos num camping na cidade de Lüdge. O veredito encerra um dos maiores julgamentos de abuso infantil da história alemã do pós-guerra.

Andreas V., de 56 anos, foi condenado a 13 anos de prisão, acusado de pelo menos 290 casos de abuso sexual grave. Mario S., de 34 anos, recebeu uma pena de 12 anos de prisão, condenado por quase 160 casos de abuso.

Após esse período no cárcere, os dois serão mantidos sob prisão preventiva. Essa era uma exigência da Promotoria e não foi contestada pelos réus. Isso significa que eles permanecerão detidos até que um tribunal determine que eles não representam mais uma ameaça à sociedade.

Além das acusações de abuso sexual, que incluem ao menos 250 casos de estupro, os dois também foram acusados de produzir pornografia infantil. Ambos confessaram os crimes. As vítimas foram 24 meninas e oito meninos com idades entre quatro e 14 anos. A juíza do caso, Anke Grudda, disse que o número de vítimas pode ser ainda maior.

A maioria dos crimes ocorreu no alojamento de Andreas em um camping em Lüdge, no qual ele também morava. De acordo com o tribunal, os acusados usavam "métodos maliciosos" para atrair as crianças, dando-lhes presentes, convidando-as para participar de aventuras e criando "um paraíso das crianças" no local. Uma das vítimas foi uma menina adotada por Andreas, usada por ele para atrair outras crianças.

Durante o julgamento, um psiquiatra avaliou Andreas como manipulador, narcisista e antissocial, com uma tendência de praticar abusos contra crianças profundamente enraizada em seu comportamento. Mario também abusou de crianças em seu apartamento na cidade vizinha de Steinheim. Em 1999, ele começou a abusar de menores no camping.

Os dois costumavam filmar os crimes, então a polícia usou imagens para comprovar as graves acusações que pesavam contra os dois. As autoridades analisaram cerca de 14 terabytes de material, incluindo mais de 3 milhões de fotos e 86 mil vídeos.

Um terceiro homem, de 49 anos, foi condenado no estado da Baixa Saxônia a dois anos de liberdade condicional por assistir a transmissões ao vivo dos abusos contra as crianças.

Durante o julgamento, foram ouvidas 33 testemunhas, incluindo 16 vítimas. Ao proferir a sentença, a juíza não escondeu sua opinião sobre o caso. Grudda disse ser difícil expressar o que ocorreu em palavras: segundo ela, "detestável, monstruoso e repugnante" não eram suficientes.

"Após dez dias de julgamento, a incapacidade de entender verdadeiramente os crimes permanece. Vocês degradaram 32 crianças e adolescentes como objetos de seu desejo sexual e, assim, destruíram 32 infâncias", afirmou a juíza.

Johannes-Wilhelm Rörig, chefe da Comissão Independente para Assuntos de Abuso Sexual Infantil, do governo federal alemão, saudou a sentença. "O tribunal de Detmold deu a pena máxima para esses crimes e enviou uma clara mensagem de que a lei punirá severamente crimes contra crianças", afirmou.

Apesar do veredito, algumas questões permanecem em aberto. O caso revelou erros graves cometidos pela polícia e por órgãos de proteção a crianças e adolescentes, que demoraram a investigar as acusações após o surgimento das primeiras denúncias contra os dois.

Autoridades responsáveis por proteção infantil fizeram visitas semanais a Andreas depois de ele ter acolhido crianças adotivas. Mas, apesar de vários alertas de possíveis abusos, elas não foram capazes de tomar qualquer ação. Os arquivos dos suspeitos foram posteriormente manipulados e evidências de negligência, apagadas.

A polícia também é acusada de perder provas nos estágios iniciais das investigações. Para apurar essas acusações, foi instaurada pelo estado da Renânia do Norte-Vestfália uma comissão parlamentar.

CN/dpa/ots

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