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Outro lado da tragédia

10 de maio de 2011

Devido ao intenso rastreamento realizado na região onde há dois anos caiu o avião da Air France, área de 2 mil quilômetros quadrados deve atrair pesquisadores. É o outro lado da tragédia.

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Veículo Subaquático Autônomo em ação no AtlânticoFoto: IFM Geomar/dpa

A região do Oceano Atlântico próxima à costa brasileira onde caiu o avião da Air France há dois anos é considerada, atualmente, o local no planeta com o melhor mapeamento do fundo do mar.

Na busca pelos destroços do voo 447 – desaparecido no mar no dia 1º de junho de 2009 – entraram em ação pela primeira vez os Veículos Subaquáticos Autônomos (AUV), extremamente eficientes no vasculhamento do solo marinho. Eles cartografaram cerca de 2 mil quilômetros quadrados da costa brasileira, com precisão de 20 centímetros.

Diferentemente dos submarinos tripulados ou não tripulados usados até então, esses robôs de quatro metros de largura, com formato de charuto, podem ser programados para rastrear até 6 mil metros de forma autônoma. Flutuando de 25 a 50 metros acima do fundo, mapeiam o solo e registram as imagens com um chamado Sidescan-Sonar.

Interesse amplo

Prof. Peter Herzig IFM-Geomar Institut für Meereswissenschaften
Herzig acredita que costa brasileira atrairá pesquisadoresFoto: DW

"Este é o fundo do mar mais bem mapeado do mundo", afirma entusiasmado Peter Herzig, pesquisador do Instituto de Ciências Marinhas da cidade de Kiel (IFM Geomar), na Alemanha. Dos três AUVs existentes no mundo, um pertence ao instituto.

"Normalmente não dispomos de mapas tão detalhados. Mas aqui vemos cada vulcão, vemos deformações e sedimentos", aponta. Ele acredita que gerações futuras de pesquisadores farão uso das muitas informações coletadas. E que a área mapeada da costa brasileira poderá se tornar, futuramente, um Eldorado para geólogos e oceanógrafos.

"A despeito do triste ensejo, e da área onde se encontram os destroços, aqui talvez venha a ser um importante parque científico, onde se realizarão pesquisas abrangentes", acredita. Herzig está certo de que pesquisadores de outros países irão se interessar. Por isso, seu instituto publicará em breve os resultados obtidos.

Mapeamento com sonar

O Sidescan-Sonar usado pelos AUVs emite, por duas fontes, ondas sonoras em forma de leque, criando imagens tridimensionais do fundo do mar, que permitem reconhecer muitos detalhes, afirma Herzig.

"É certo que não temos como determinar o tipo de rocha, mas a partir da reflexão das ondas sonoras, podemos detectar se se trata de uma superfície refletora mais firme ou mais macia."

Um refletor brando seria, por exemplo, terreno sedimentar, um mais duro seriam pedras, pedaços de metal seriam mais firmes ainda. "O plástico está em algum ponto entre a pedra e o metal", explica o especialista.

Trabalho em conjunto

Sonaraufnahme des Meeresbodens
Sidescan-Sonar faz imagens por meio de ondas sonorasFoto: IFM Geomar

Os dados recolhidos por submarinos não tripulados só podem ser avaliados quando os equipamentos retornam. No caso do AUV, embora seja possível comunicar-se com ele através de ondas sonoras digitalizadas, os pesquisadores só o fazem em situação de emergência.

Após submergir, os veículos subaquáticos trabalham até 24 horas seguidas antes de ter que voltar à superfície. E até agora todos eles retornaram, alegra-se Herzig.

Segundo o pesquisador alemão, os demais AUVs existentes no mundo pertencem ao Instituto Oceanográfico de Woods Hole, nos Estados Unidos, parceiro do centro em Kiel.

Para realizar as buscas do avião da Air France, todos os três equipamentos entraram em ação, pois trabalham muito bem em equipe. Semelhante a peixes, eles aplicam estratégias de cardume, comunicando-se entre si e sintonizando as rotas individuais. E a partir dessas interações, conseguem rastrear uma área maior, relata Peter Herzig.

Autor: Fabian Schmidt (ms)
Revisão: Augusto Valente