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Homenagem ao fundador das Paralimpíadas

30 de agosto de 2012

Mais de 4.200 atletas de 166 países participam dos Jogos Paralímpicos em Londres. Após mais de 60 anos, o evento esportivo retorna a suas origens, lembrando o neurologista alemão Ludwig Guttmann, criador da competição.

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Claire Lomas lights the Paralympic flame cauldron in Trafalgar Square in London, Friday, Aug. 24, 2012. Claire had a horse riding accident in 2007 leaving her paralysed from the chest down. The London Paralympics begin on Wednesday Aug. 29.(Foto:Kirsty Wigglesworth/AP/dapd)
Foto: dapd

Não é exagero descrever Eva Löffler como a memória do esporte paralímpico. A prefeita da Vila Paralímpica de Londres tem o talento para contar piadas com suspense e, por isso mesmo, foi nomeada embaixadora, do passado e do futuro. Durante a recepção das equipes nacionais, Löffler remeteu a seu pai, Sir Ludwig Guttmann, o precursor das Paralimpíadas. "Se ele estivesse hoje em Londres, estaria infinitamente orgulhoso. Seu sonho tornou-se realidade."

A 14ª edição dos Jogos Paralímpicos de Verão foi aberta na capital britânica nesta quarta-feira (29/08). Serão realizadas 503 competições em 20 modalidades, reunindo 4.200 atletas de 166 países. Além de uma grande festa do esporte e recordes, os ingleses querem dar espaço à memória. Após mais de 60 anos, as Paralimpíadas voltam a suas raízes e, assim, à história de Löffler.

Médico precursor

Em 9 de novembro de 1938, o neurologista alemão Ludwig Guttmann, filho de um dono de taverna judeu, concedeu refúgio a 60 judeus num hospital de Wrocław (hoje Polônia). Era a chamada Noite dos Cristais, em que os nazistas realizaram uma violenta série de pogroms contra os judeus de todo o Reich Alemão. "Quando a Gestapo chegou, meu pai inventou doenças para eles", declarou Löffler à emissora BBC.

No ano seguinte, Guttmann fugiu para a Inglaterra com a esposa, dois filhos e 40 marcos no bolso. Na pequena cidade de Stoke Mandeville, a noroeste de Londres, ele revolucionou o tratamento de paraplégicos. Eles não eram mais escondidos nos quartos dos fundos, mas recebiam cuidado completo, e sua expectativa de vida aumentava.

"Guttmann percebeu rapidamente que desafios físicos são importantes para portadores de deficiência", diz Rickie Burman, diretora do Museu Judaico de Londres, no bairro de Camden Town. Ali, uma exposição homenageia o médico com fotografias.

Em 1944, durante uma inspeção do hospital, Guttmann deu com pacientes que corriam de cadeira de roda e, com bengalas, faziam deslizar um disco sobre o assoalho. Guttmann entrou no jogo, e, assim, nasceu uma nova modalidade: pólo em cadeira de rodas.

Primórdios das Paralimpíadas, em Mandeville no ano de 1957
Primórdios das Paralimpíadas, em Mandeville no ano de 1957Foto: picture-alliance/dpa/empics

Arco e flecha

Logo depois, muitos pacientes passaram a praticar esportes. O movimento fortalecia seus sistemas imunológicos e aumentava sua autoconfiança. Em 1948, Guttmann organizou para os inválidos de guerra, ao lado do hospital, uma competição de arco e flecha e tênis de mesa. Os jogos de Stoke Mandeville foram abertos no final de julho de 1948, no mesmo dia que os Jogos Olímpicos de Londres.

"Como judeu, meu pai se identificava com outras minorias", relata Löffler. Aos 11 anos, ela atuou como ajudante das competições, preparando os arcos e recolhendo as bolinhas de tênis de mesa.

"Guttmann tinham uma visão na qual muitas pessoas ainda não acreditam: que o esporte pode unir pessoas com deficiência de todo o mundo", diz o ex-nadador Chris Holmes. Ele é um dos mais bem-sucedidos para-atletas da história britânica e agora é responsável pelo planejamento das Paralimpíadas no Comitê Organizador de Londres. "Queremos honrar o legado de Guttmann", diz.

Sob o mesmo teto

A periodicidade de quatro anos dos jogos teve início em Roma em 1960. Em 1984, as Paralimpíadas voltaram para Stoke Mandeville, pois o anfitrião dos Jogos Olímpicos – Los Angeles – se negou a também receber esportistas com deficiência.

"Esses tempos ficaram para trás", diz Chris Holmes. "Não há separação entre Paralimpíadas e Olimpíadas, somos apenas um comitê organizador." Pela primeira vez na história, planejaram-se ao mesmo tempo os transportes, tecnologia e abastecimento dos dois eventos.

E as Paralimpíadas deste ano alcançaram recordes antes mesmo de começar: 2,2 milhões dos 2,5 milhões de ingressos já foram vendidos. Seis mil jornalistas reportarão sobre o evento. Todos os 55 patrocinadores das Olimpíadas apoiam também as Paralimpíadas, que a emissora de TV britânica Channel 4 transmitirá durante 150 horas.

Wenlock e Mandeville, mascotes dos Jogos Paralímpicos de Londres
Wenlock e Mandeville, mascotes dos Jogos Paralímpicos de LondresFoto: Getty Images

Infraestrutura avançada

Os Jogos Paralímpicos de 2008, em Pequim, foram um marco para a competição. Foram equipados com acessos para cadeiras de rodas 2 mil ônibus e 120 paradas de ônibus. Embota no Reino Unido, a infraestrutura para pessoas com deficiência já seja avançada, novos elevadores e rampas foram construídos.

Os britânicos querem continuar a promover a proximidade com a população demonstrada nas Olimpíadas. A BBC dedicou um programa de televisão a Guttmann. E um dos mascotes das Olimpíadas chama-se Mandeville, remetendo à cidade onde tudo começou.

Guttmann morreu em 1980, após salvar muitos inválidos de guerra. Há poucas semanas, uma estátua de bronze do médico foi inaugurada nas imediações de Stoke Mandeville. "A semelhança é incrível", disse a filha Löffler. "As Paralimpíadas lhe deram um pouco de vida."

Autor: Ronny Blaschke (lpf)
Revisão: Augusto Valente