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Lou Reed estréia "Metal Machine Music" em festival de vanguarda

Paulo Chagas18 de março de 2002

Com sua música de ruídos, o ídolo do rock de vanguarda está em vias de tornar-se um ícone da música clássica contemporânea.

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Lou ReedFoto: AP

"Queremos informar que o nível sonoro deste concerto é mais alto do que o habitual. Não nos responsabilizamos pelas conseqüências." Com esta placa de advertência, na entrada do Festspiele de Berlim, os organizadores do Festival Maerzmusik alertavam o público para o concerto de domingo de Lou Reed, que com a sua guitarra marcou o ponto alto de um espetáculo de ruídos em altíssimo volume.

Tratava-se da estréia mundial da Metal Machine Music, uma das obras mais radicais do compositor e guitarrista de rock americano, que causou grande escândalo em sua estréia, em 1975. Agora, com a nova versão desta obra, interpretada pelo conjunto de câmara Zeitkratzer, Lou Reed faz sua estréia triunfal no território da música clássica de vanguarda.

Feedback

– O princípio da composição de Metal Machine Music é o fenômeno do feedback, que em português significa algo como reinjeção e ocorre, por exemplo, quando alguém fala ou canta ao microfone e o som amplificado entra no próprio microfone, provocando a chamada microfonia.

Na versão original de Metal Machine Music, Lou Reed criava microfonia com a guitarra ao lado de dois imensos amplificadores. A música não tinha texto, nem melodia, nem ritmo: só ruídos, freqüências agudas e volume sonoro.

Na nova versão do Zeitkratzer, o universo ruidoso de Metal Machine Music foi reconstruído para um conjunto de instrumentos acústicos: violino, violoncelo, contrabaixo, trompete, saxofone, tuba, acordeão, piano e percussão. Os instrumentos de cordas arranham e raspam literalmente as cordas, arrancando sons bizarros; os sopros produzem sons estridentes e contínuos.

O ápice desta estonteante orgia de ruídos ocorreu depois de quase uma hora de música, com entrada no palco de Lou Reed, hoje um sexagenário. Vestido todo de preto, com roupas de couro, arrancou chiados e grunhidos de sua guitarra, que misturaram-se ao som amplificado dos instrumentos. O que busca esta música? "É preciso acreditar, que se está entrando num novo mundo. A música tem de movimentar o corpo", disse Lou Reed antes do concerto.

A maioria dos espectadores tapou os ouvidos para protegê-los das altas freqüências e dos excessivos decibéis. Os mais precavidos estavam munidos de protetores auriculares. Mas só uns poucos saíram da sala, esgotados, antes do fim da música.