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Luta de adolescentes pelo clima espera recorde nesta sexta

Ralf Bosen as
14 de março de 2019

Mais de 1.300 manifestações estão previstas em todo o mundo, e pela primeira vez elas vão ocorrer também no Brasil. Na Alemanha, movimento não para de crescer e é criticado por muitos políticos.

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"Não há planeta B", afirmam estudantes de Berlim durante protesto pela proteção climáticaFoto: Getty Images/AFP/O. Andersen

Os protestos contra as mudanças climáticas deverão alcançar seu ponto alto nesta sexta-feira (15/03), quando jovens, muitos deles estudantes escolares, deverão sair às ruas em mais de cem países – durante o horário de aula. Há mais de 1.300 manifestações programadas em todo o mundo, das quais 150 na Alemanha e, pela primeira vez, também 19 no Brasil.

Será a maior manifestação até agora do movimento Fridays for Future (sextas-feiras para o futuro), que persegue um objetivo bem claro: obrigar os governos a adotar políticas para salvar o clima do planeta.

"Os preparativos estão avançados na Alemanha", assegura o porta-voz do movimento no estado de Brandemburgo, Vincent Bartolain. "Estamos organizados em vários grupos locais, que planejam as manifestações, mas recebem material informativo da equipe nacional de organização."

Ele se refere a flyers, adesivos e cartazes, geralmente feitos de papel reciclado e produzido com mínimo prejuízo ao ambiente, nos quais constam palavras de ordem como "Podemos aguentar faltas às aulas, mas não as mudanças climáticas!", "Ão, ão, ão, chega de carvão!". Ou o slogan internacional do movimento, em inglês: "Não há um planeta B!" e "Marche agora ou nade depois!".

Manifestação de escolares pelo clima em Hannover, na Alemanha
"Salvem o nosso futuro", pede esta estudanteFoto: picture-alliance/Geisler-Fotopress/P. Graf

Bartolain diz que uma campanha de doações foi iniciada para cobrir os custos de produção do material informativo e de viagens, mas a maioria das despesas é paga do próprio bolso por quem participa.

Ele reage com perplexidade quando questionado o que os estudantes alemães querem alcançar com o Fridays for Future. "Queremos fazer os políticos se mexerem", responde Bartolain. Para que finalmente seja feito algo a favor da proteção climática na Alemanha, "para que não seja só da boca pra fora e empurrar com a barriga."

Bartolain é, ele próprio, político. O jovem de 18 anos é membro do Partido Verde e candidato ao legislativo de Brandemburgo na eleição de setembro. Ele faz parte de uma geração de jovens alemães que se engajam na política com mais afinco do que a geração anterior.

Um dos ícones dessa geração é a ativista sueca do clima Greta Thunberg, de 16 anos. Há meses que ela se manifesta, todas as sexta-feiras, em favor da proteção climática perante o prédio do parlamento sueco. Thunberg, que é portadora da síndrome de Asperger, foi incluída pela revista Time na lista dos 25 adolescentes mais influentes de 2018.

Em todo o mundo, milhares de adolescentes seguiram o exemplo dela e, em vez de irem à aula, protestam sob o slogan Fridays for Future diante de parlamentos. O gesto individual de Thunberg evoluiu para um fenômeno mundial e organizado. Só na Alemanha são 155 grupos locais, segundo o próprio movimento, que está presente em várias redes sociais, como Facebook, Twitter, Telegram, Instagram, Reddit e Flickr.

Nas plataformas digitais de música Soundcloud e Spotify há podcast com o nome Fridays for Future, e um canal próprio no Youtube. Artigos de fundo e notícias sobre as mudanças climáticas, manifestações programadas e eventos relacionados são comunicados por meio desses canais.

Deutschland Hamburg Klima Demonstration
Ativista sueca Greta Thunberg (c., de gorro branco) participa de protesto em HamburgoFoto: picture-alliance/dpa/D. Reinhardt

O Fridays for Future é uma iniciativa oriunda da sociedade civil, mas que consegue cada vez mais apoio de organizações e associações. Além disso, mais de 12 mil cientistas da Alemanha, da Áustria e da Suíça assinaram uma petição, chamada Scientists for Future, em apoio ao movimento.

No texto, os signatários afirmam que as motivações dos estudantes são legítimas e bem fundamentadas, pois as medidas adotadas até aqui por governos de todo o mundo para proteger o clima, a biodiversidade, as florestas, os oceanos e mares e o solo são insuficientes, e a hora de agir é agora.

Um dos signatários, Volker Quaschning, da Escola Superior de Técnica e Economia de Berlim, disse que os políticos europeus que sugeriram aos estudantes que voltassem às aulas não sabem do que estão falando. "E é por isso que nós estamos aqui. Nós somos os profissionais e podemos dizer: a nova geração está com a razão. E faltar aula também é um gesto de coragem." Por isso, ele e os demais signatários defendem que as exigências dos estudantes sejam postas em prática.

Na Alemanha, vários políticos entraram no debate sobre a atitude dos estudantes, que focou menos nas exigências deles e mais no fato de estarem faltando às aulas. A ministra da Educação, Anja Karliczek, e o ministro da Economia, Peter Altmaier, disseram que os estudantes deveriam protestar fora do horário de aula. Já a ministra do Meio Ambiente, Svenja Schulze, elogiou o engajamento dos estudantes.

O presidente nacional do Partido Liberal (FDP), Christian Lindner, afirmou que os escolares não podem entender todas as implicações globais e viabilidades técnicas e econômicas relacionadas ao combate ao aquecimento do planeta. Já o partido populista de direita AfD falou em "abuso político de crianças".

Além do debate político, há também xingamentos ao movimento nas redes sociais. No seu site, o Fridays for Future da Alemanha afirma que vai entrar na Justiça contra quem proferir ameaças ao movimento e seus participantes. Bartolain afirma que eles não vão decidir.  "Estamos só no começo", diz ele, que assegura que mais pessoas estão se unindo ao movimento e que novos grupos locais continuam se formando pela Alemanha.

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