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Médicos do barulho

Marcio Weichert2 de outubro de 2003

Die Ärzte lança seu primeiro CD duplo gravado em estúdio e vai de cara para a parada de sucessos. Banda punk rock já teve músicas censuradas e expulsou um músico.

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Farin, Bela e RodFoto: Hot Action Records

Lançado pelo selo Hot Action Records no fim de setembro, Geräusch (Ruído) faz jus à fama da banda Die Ärzte (Os Médicos). Em poucos dias, seus fãs colocaram o álbum na lista dos mais vendidos na Alemanha. Não só o CD duplo. Também o single Unrockbar, uma das faixas do álbum. Para a crítica do site Laut.de, Geräusch tem entre suas 26 canções, "algumas desnecessárias", mas não "deixa de abordar os temais centrais da atualidade: crítica social, indolência política, rock'n'roll, piercing, excrementos".

Considerada uma das pioneiras da música punk, Die Ärzte nasceu em 1982, através do duo Farin Urlaub e Bela B., nascidos Jan Vetter-Marciniak e Dirk Felsenheimer. O colegial guitarrista e o aprendiz de decoração já tocavam juntos há dois anos. A eles reuniu-se Hans Runge, ou Sahnie. Já em fevereiro do ano seguinte o trio participava com as faixas Zum Bäcker, Zitroneneis e Vollmich do LP de hits punk rock Ein Vollrausch in Stereo, pelo selo independente Vielklang. O álbum tinha composições de outras bandas, como a Tangobrüdern, mais tarde rebatizada de Toten Hosen.

Início turbulento

Os falsos médicos brincavam na época que sua meta era conquistar os corações de milhões de meninas. E verdadeiros passos neste sentido foram dados em 1984, quando o trio berlinense venceu o concurso municipal de rock, gravando em seguida o mini-LP Uns geht's prima. No mesmo ano, os rapazes assinavam contrato com a gravadora CBS (atual Sony Music) e já lançavam o LP Debil, acompanhado em 1985 por Im Schatten der Ärzte.

Die Ärzte
Farin, o guitarristaFoto: die ärzte

A banda entra em crise no início de 1986. Além de decidir sozinho matricular-se na universidade, o baixista Sahnie deixou o sucesso incipiente subir-lhe à cabeça. Fazia de tudo para aparecer. Bela e Farin não suportaram o estrelismo e a dupla atividade do parceiro e acertaram com ele uma indenização de 10 mil marcos para deixar os Die Ärzte. A dupla fundadora decidiu prosseguir sozinha em frente e gravou ainda em 1986 o álbum Die Ärzte. Para shows, convidaram o baixista Hagen Liebing.

Problemas com as autoridades

A carreira não seguiria sem tropeços. No ano seguinte, o Centro Federal de Proteção à Juventude colocou os álbuns Debil e Die Ärzte em sua lista negra, devido às faixas Geschwisterliebe, Claudia hat 'nen Schäferhund e Schlaflied. Ou seja, os LPs só poderiam ser vendidos a maiores de idade e a banda não poderia cantar as polêmicas canções em público.

Num trabalho de cirurgia seccional, a dupla separou as obras do já lançado álbum Die Ärzte em dois outros para fugir do prejuízo certo. As não condenadas foram recompiladas no LP Ist das alles?, enquanto as proibidas foram parar no mini-LP Ärzte – Ab 18. Nem deixaram de ser executadas nas apresentações ao vivo. A banda estava proibida de cantar a letra, mas não de tocá-la e deixar o vocal para o público.

Esta não foi a única turbulência pública dos Die Ärzte. Já o design da capa do mini-LP Uns geht's prima havia ido parar na Justiça, na qual a Cruz Vermelha Alemã conseguiu sentença para forçar o grupo a retirar ou alterar a imagem de uma cruz vermelha sob fundo branco usada como imagem de fundo. A Justiça entendeu que o desenho remetia ao símbolo da organização assistencial. A solução foi alterar a cor da cruz e reimprimir as capas.

O primeiro fim

1988 era para ter sido o último ano da banda. Durante a turnê do novo LP Das ist nicht die ganze Wahrheit, Farin e Bela começaram a temer o futuro. Desconfiavam que não haveria mais criatividade para sustentar o sucesso e decidiram dar fim à Die Ärzte em seu auge. O concerto de encerramento na ilha de Sylt foi gravado e transformado no álbum Live – Nach uns die Sintflut, que entrou para os anais da indústria fonográfica alemã como o álbum triplo mais vendido da história.

O sucesso comercial teve ainda um suspiro a mais. No ano seguinte, chegava às lojas Die Ärzte früher/Der Ausverkauf geht weiter, com canções de 1983 e 1984 e divulgado como o CD de despedida da banda.

O recomeço

De 1989 até o início de 1993, Bela e Farin mantiveram-se no meio musical, integrando separadamente bandas diversas. A dupla decidiu então ressuscitar a Die Ärzte e chamaram o baixista chileno Rodrigo Gonzales, ou apenas Rod, com quem Bela havia tocado no grupo Depp Jones. Sua presença tornou o som da banda mais pesado. A primeira medida do trio foi colocar um anúncio na revista Musikmarkt: "Melhor banda do mundo procura gravadora". À assinatura com a Metronome, seguiu-se o lançamento do álbum Die Bestie in Menschengestalt e uma bem sucedida turnê.

Desde então Die Ärzte brilham nas paradas de sucessos, com álbuns quase anuais. Em 1997, por exemplo, a banda lançou CD, mas foi homenageada por um álbum organizado por seu fã-clube, com gravações de outros grupos, como Fury in the Slaughterhouse, Fettes Brot e Die Fantastischen Vier.

Mais recentes sucessos

Vale citar ainda o CD Le Frisur, de 1996, com canções apenas sobre cabelos. E, em 1998, o single Männer sind Schweine conquistou o primeiro lugar da parada e seu refrão caiu na boca do povo. Convites da mídia não pararam mais e assim os álbuns Runter mit den Spendierhosen, Unsichtbarer! e Rock'n'Roll Realschule, uma gravação ao vivo unplugged para a MTV.

O primeiro semestre deste ano foi dedicado ao ambicioso plano de lançar o primeiro CD duplo gravado em estúdio. Ao avaliar Geräusch, o site Laut.de alterna alfinetadas e elogios à Die Ärzte: "Bela, Farin e Rod estagnaram, mesmo que num nível praticamente inalcançável para a maioria das bandas de rock que cantam em alemão." A nova turnê pelo país começa em dezembro e vai até junho de 2004.