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Mídia brasileira bate recordes na Alemanha

Gabriel Fortes (sv)9 de junho de 2006

Altos investimentos em coberturas especiais e a aposta no hexacampeonato mundial por parte da seleção brasileira levam a mídia verde-amarela a recorde de pessoas trabalhando no Mundial.

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Mídia alemã ficou pequena com a 'invasão' brasileira na CopaFoto: Bilderbox

A projeção da seleção brasileira de futebol é tão grande a ponto de aumentar, a cada ano, a concorrência das transmissões esportivas no Brasil. Os investimentos são astronômicos, e para a Copa do Mundo da Alemanha as receitas publicitárias e os satélites ultramodernos se multiplicaram com o projetado hexacampeonato. Não há um número certo, mas são quase mil pessoas, nos mais diferentes meios de comunicação, transmitindo notícias para o país.

A Rede Globo, que detinha direitos de transmissão do evento, já não é soberana. A organização de mídia impera no número de profissionais trabalhando em solo germânico (são quase 200), mas viu crescer ao longo dos anos a sombra das emissoras que sonham lucrar com a 'fatia esportiva' da programação das TVs brasileiras.

A ESPN Brasil, por exemplo, adquiriu os direitos de transmissão junto à Fifa, e desde o dia 21 de maio leva aos lares, via cabo (TV paga), imagens até mesmo das sessões de alongamento da seleção brasileira.

A matriz brasileira da maior cadeia midiática esportiva dos Estados Unidos abriu ainda o seu segundo canal exclusivo, e avisa, a cada intervalo e durante a sua programação, a transmissão de todos os 64 jogos da Copa.

Ninguém fala em valores no Brasil. Sabe-se apenas que os investimentos são milionários para atender aos anseios da audiência e, claro aos interesses dos patrocinadores. "Estes são os nossos focos, sem dúvida", disse à DW-WORLD o diretor geral de esportes da Globo, Luiz Fernando Lima.

A maior organização de mídia do Brasil conta na Alemanha com uma equipe de 180 pessoas, sem contar os integrantes da Rádio Globo e do jornal O Globo. São profissionais de TV e de internet – jornalistas, editores, cinegrafistas, pessoal de engenharia, responsáveis por planejamentos, etc.

"Esta é a maior equipe da Globo em uma cobertura internacional. Na Copa da Espanha, em 1982, tivemos 150 pessoas. E esse aumento é resultado do surgimento das novas mídias, da evolução desta área", argumentou Lima.

"A internet, por exemplo, tem sido fundamental nas grandes coberturas. Ela está aí para compor. E já vem provando que não irá excluir outros meios, como o rádio", emendou.

Russisches Programm von Radio Free Europe/Radio Liberty in Prag
Grupos de comunicações montaram até estúdiosFoto: AP

Sobre a concorrência crescente, e latente durante o evento na Alemanha, Lima disse ser positiva a competição entre os diversos veículos brasileiros.

"Estes eventos são grandes oportunidades de aprendizado. Em termos de concorrência, houve outros eventos em que ela foi mais acirrada. Do ponto de vista de disputar a audiência, em 1998, por exemplo, foi maior. E com isso todos crescem. Nós temos um centro de imprensa em Königstein, por exemplo, de primeira linha. As imprensas francesa, alemã, italiana e espanhola já estiveram por lá fazendo matérias."

Os grandes grupos de mídia brasileiros realmente dominam os cantos de Königstein atualmente, como fizeram por duas semanas em Weggis, na Suíça, enquanto a seleção brasileira fazia a primeira parte de seu treinamento pré-Copa.

O grupo gaúcho RBS, com sede em Porto Alegre e cuja TV é afiliada à Rede Globo, trouxe para a Alemanha nada menos do que 25 profissionais. São jornalistas, fotógrafos e radialistas que produzem para o jornal Zero Hora e a Rádio Gaúcha.

A mídia impressa deles, por exemplo, criou um caderno especial para a Copa do Mundo que conta com 12 páginas, o que é equivalente ao tamanho inteiro de muitos jornais no Brasil. Ele estréia nesta sexta-feira (09/06), dia de abertura do evento.

"Nós vamos começar com 12, mas vai aumentando. Não será só o futebol. Tem uma coluna, por exemplo, que mostra os extras. E as pessoas têm gostado muito, muitos querem saber algo sobre a Alemanha, sobre o país em si. A comida, ou as cidades, por exemplo", afirmou o editor de esportes de Zero Hora, David Coimbra.

Fusão, aulas de alemão e "espiões"

A Folha de S.Paulo, um dos jornais mais influentes no país, resolveu inovar e planejou para esta Copa do Mundo uma fusão inédita na mídia brasileira entre as suas versões impressa e online.

São 17 profissionais em solo alemão, e outros 40 em São Paulo, na redação central, trabalhando como apoiadores. O jornal inclusive lançou recentemente um novo projeto gráfico para aproveitar a esteira do evento.

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Ronaldos são os maiores alvos do interesse brasileiroFoto: AP

"Isso é inédito, e um trabalho que realmente está dando certo. Nós unimos as redações e estamos trabalhando em conjunto. Pretendemos fazer esta integração se estender ainda mais. Existem diferenças entre as linguagens, mas está funcionando muito bem", analisou o editor de esportes da Folha Online, Eduardo Vieira da Costa, em contato com a DW-WORLD.

Além disso, a empresa contratou uma professora do Instituto Goethe em São Paulo para dar aulas de alemão em grupos, dentro da redação. "Nós estudamos, sim, todos que estão aqui. Deu para aprender alguma coisa, até porque é uma língua bem difícil."

O trabalho da Folha na Alemanha não se resume apenas à seleção brasileira. "Temos repórteres acompanhando os adversários do Brasil e também outros, soltos, fazendo o que acontece pelo país."

Blogs

Os diários eletrônicos que há alguns anos tornaram-se febre entre os adolescentes brasileiros ganharam as páginas do jornalismo eletrônico também. Existe pelo menos um deles para cada grupo de mídia que cobre a Copa.

E eles falam de tudo. Dão informações, "furos", contam piadas e levam ao leitor, principalmente, o que acontece nos bastidores dos preparativos da seleção brasileira. Alguns apostam no potencial dos blogs como complemento de um trabalho, outros ainda são céticos.

Fußball: Brasiliens Trainer Carlos Alberto Parreira
Recentemente Parreira se reuniu com a imprensa para trocar idéiasFoto: dpa

"Eu vejo muita gente falar sobre isso, mas ainda não consigo mensurar a importância. Eu acho muito novo para nós analisarmos. Não sei qual é a abrangência. De repente são apenas 200 pessoas que entram ali e fazem um grande barulho porque se manifestam, mas no geral eu não faço idéia", opinou David Coimbra.

"O blog é interessante para mostrar histórias paralelas e para mostrar coisas que não colocamos no jornal de forma editorial. É bacana, e cada vez mais deve ter. Tem o lado de dar uma notícia, adiantar algo e o lado de colocar algo leve, uma brincadeira, mas sempre informando. O blog hoje é um complemento à cobertura tradicional", argumentou Vieira da Costa.

"Planos B"

Mas e se a seleção brasileira "derrapar" e não chegar pelo menos à segunda fase? E se não chegar à final? Para onde vai tanto planejamento? Todos os veículos de comunicação do Brasil ficarão na Alemanha até o dia 9 de julho, data da decisão da Copa, mas os cortes serão grandes.

"Temos que ter um plano B para tudo, isso faz parte do planejamento. É óbvio que fazemos essa cobertura levando em consideração o interesse do público pela participação do seu país. Se for eliminado, o interesse diminui e nós faremos adaptações, mas ficaremos até o final, é claro", contou Luiz Fernando Lima.

O mesmo pensam a RBS e a Folha. "Se o Brasil for desclassificado as coisas mudam. Ficam menos pessoas aqui na Alemanha, mas o trabalho continua. O planejamento é o final da Copa, no dia 9 de julho", informou David Coimbra.

"Precisamos ter um plano B caso o Brasil não avance. O investimento é feito sobre a seleção brasileira, e obviamente continuaremos cobrindo a Copa. Mas se o time sair, teremos uma diminuição no contingente aqui no país", emendou Eduardo.