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Mídia européia vê guinada à esquerda na América Latina

(tj)16 de janeiro de 2006

A socialista Michelle Bachelet venceu as eleições presidenciais chilenas deste domingo. A imprensa européia observa tudo com atenção, destacando ainda sua vivência na Alemanha, durante o exílio no governo Pinochet.

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Ex-ministra da Defesa comemora vitóriaFoto: AP

Um dia histórico para o Chile e, de uma forma geral, para toda a América Latina, pois pela primeira vez uma mulher é eleita para ocupar o mais alto cargo político no país. A socialista Michelle Bachelet venceu seu adversário, o empresário e candidato da direita Sebastián Piñera, com 53% contra 47% dos votos, e passará a ocupar o palácio de La Moneda a partir de março deste ano.

A imprensa alemã registrou com atenção o acontecimento, não só pela questão de uma mulher ter sido eleita, mas também por conta de seu posicionamento político. Como socialista, Bachelet entra na lista de mais uma liderança esquerdista eleita no continente, ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva, do venezuelano Hugo Chávez, do boliviano Evo Morales, do argentino Néstor Kirchner, e do uruguaio Tabaré Vásquez.

O telejornal Tagesschau destaca ainda o fato de ela ter estado na Alemanha durante o período de ditadura no Chile (de 1973 a 1990), quando foi viver no exílio no lado leste de Berlim e, posteriormente, em Leipzig, antes de ir estudar medicina nos Estados Unidos.

Chile Wahlen Michelle Bachelet und Sebastian Pinera
Bachelet e o candidato da oposição, Sebastián PiñeraFoto: AP

Esta é a segunda semelhança que os alemães vêem entre a líder chilena e a chanceler federal alemã Angela Merkel, também a primeira mulher a ocupar o cargo de chefe de governo e que passou sua infância igualmente na parte leste do país.

Esquerda ganha força na América Latina

Órgãos de imprensa alemães observam atentamente o que acontece na política chilena, principalmente por conta da força que os partidos de esquerda parecem estar ganhando em todo o continente. Ao lado de seus colegas esquerdistas, Bachelet também prometeu durante toda sua campanha erradicar a miséria dos pobres, das minorias e dos excluídos.

Ainda assim, apesar das propostas semelhantes, há uma preocupação em não considerar tudo "areia do mesmo saco". Muitos jornais afirmam que há uma grande distância separando Bachelet de outros políticos esquerdistas, como Hugo Chávez.

Preocupação à toa?

O receio manifestado por veículos europeus e norte-americanos de que com mais um governo de esquerda líderes populistas como Chávez assumam as rédeas da política no continente é "completamente exagerado", segundo o especialista alemão em América Latina Klaus Bodemer.

"Mesmo Chávez, com sua forte retórica antiamericana, continua pragmático, abastecendo o mercado norte-americano com 25% da sua produção petrolífera", afirma Bodemer. Além disso, afirma, existem os países-âncora na região, que garantem a estabilidade política do continente. Ele cita o Brasil e o Chile.

O site Spiegel Online destaca as promessas de campanhas de outros candidatos à presidência em todo o continente, principalmente com relação aos programas sociais a favor da população carente. "Em toda a América Latina há uma grande movimentação contra os necessitados", afirmou o ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González, que apoiou Bachelet na sua campanha em Santiago.

O conservador Corriere della Sera destacou fatos da vida particular da eleita, em sua reportagem desta segunda-feira (16/01). O periódico italiano chamou a atenção para o fato de ela assumir o alto cargo como mulher solteira, que criou seus três filhos – de dois casamentos diferentes – sozinha. "Ela se define como agnóstica, e isso num país conservador, no qual a religião ainda tem grande importância", completa o jornal.