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Maior naufrágio na costa brasileira completa 100 anos

5 de março de 2016

Transatlântico espanhol Príncipe de Asturias afundou no litoral paulista em 5 de março de 1916. Além das centenas de vítimas registradas, haveria em seus porões até mil refugiados clandestinos, cujo destino é obscuro.

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Foto: public domain

Embora longe das glórias militares da "Grande y Felicísima Armada", a Espanha possuía no início do século 20 uma frota de navios transatlânticos a vapor de que não precisava se envergonhar diante de outras potências navais. Um de seus orgulhos era o Príncipe de Asturias, de propriedade da companhia de navegação Naviera Pinillos.

Construído em 1914 nos estaleiros da escocesa Russell & Co, o mais luxuoso transatlântico espanhol ostentava 150 metros de comprimento, 16.500 toneladas e capacidade para transportar 1.900 passageiros a uma velocidade máxima de 18 nós (milhas náuticas por hora).

Seu naufrágio no litoral de São Paulo, que apenas dois anos mais tarde custaria centenas de vidas, foi tão inesperado e chocante que alguns se referem a esse navio como "o Titanic espanhol".

Naufrágio relâmpago

Em 5 de março de 1916, tendo zarpado de Barcelona, o Príncipe de Asturias se dirigia ao porto de Santos, em sua sexta viagem à América do Sul. Oficialmente, levava 588 ocupantes (algumas fontes falam de 600), entre passageiros e tripulantes. Contudo, segundo testemunhas, haveria até mil refugiados da Primeira Guerra Mundial viajando clandestinamente nos porões.

Entre as cargas importantes do transatlântico, além de 40 mil libras em ouro, estavam 20 estátuas de bronze do século 17, pesando até mais de 800 quilos cada uma. Presenteadas pela Espanha, elas eram destinadas a compor um monumento comemorativo ao centenário da independência da Argentina.

Chovia forte e a visibilidade era baixíssima, quando, por volta das 04h15, o comandante José Lotina viu um raio, indicando quão próxima a embarcação estava da terra. Ele ordenou força total a ré e que o leme fosse desviado completamente para boreste, mas era tarde demais.

O Príncipe de Asturias se chocou diretamente contra os arrecifes na Ponta do Boi, em Ilhabela, litoral de São Paulo. O impacto da enorme embarcação, a dez nós de velocidade, foi tremendo, e em cerca de dez minutos ela havia afundado.

Uma estátua no Rio de Janeiro

Segundo os números oficiais, 445 pessoas morreram. Os 143 sobreviventes foram resgatados pelo navio de guerra brasileiro Vega e pelo navio de linha espanhol Patricio de Satrustegui. O destino dos supostos emigrantes nunca foi esclarecido.

Esse foi o pior acidente marítimo em águas brasileiras, além de o segundo maior tanto da Marinha Mercante da Espanha quanto no continente americano – depois do RMS Titanic, em 1912.

Por outro lado, o naufrágio do Príncipe de Asturias é apenas o mais famoso entre dezenas ocorridos ao largo da Ilhabela. Devido a esse histórico de desastres marítimos misteriosos, a região da ilha no litoral norte paulista foi apelidada "Triângulo das Bermudas brasileiro".

Sem as 20 estátuas que o transatlântico espanhol transportava, o monumento à independência argentina foi completado em Buenos Aires usando-se réplicas. Uma iniciativa privada brasileira para resgatar as obras em 1992 fracassou, em parte por falta de apoio espanhol.

Apenas uma das estátuas, partida em vários pedaços, pôde ser retirada dos destroços do Príncipe de Asturias, e se encontra hoje no Espaço Cultural da Marinha do Rio de Janeiro.

AV/ots