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Mercosul põe os pés na Europa

Simone de Mello, de Berlim29 de novembro de 2002

Mercosul inaugura, em Berlim, seu primeiro centro de promoção comercial no exterior. O representante brasileiro, Mário Vilalva, comenta as finalidades do escritório na Embaixada Brasileira.

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Logotipo do Mercosul
A primeira sede do Mercosul no exterior é um projeto-piloto a ser implantado posteriormente em outros países. O centro de promoção comercial, a ser conduzido por diplomatas do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, visa a promover as relações comerciais com a União Européia e, em particular, com a Alemanha, onde a cota de importação do Mercosul é de apenas 0,91%.

Apesar de o principal obstáculo do intercâmbio comercial entre o Mercosul e a UE – o protecionismo agrícola europeu – ser um problema a ser enfrentado em cúpulas internacionais, o embaixador Mário Vilalva, chefe do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty, considera fundamental uma infra-estrutura que estabeleça contatos entre empresários de ambos os continentes.

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– Por que o Mercosul escolheu a Europa para sediar sua primeira representação no exterior?

VILALVA

– A Europa tem sido tradicionalmente o principal parceiro comercial do Mercosul, e a Alemanha, sua principal parceira no contexto europeu. Então, consideramos que a primeira experiência do gênero, o primeiro centro de promoção comercial do Mercosul deveria ser em Berlim. E a partir de Berlim vamos prospectar não apenas o mercado alemão, mas também outros mercados importantes na Europa.

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– A escolha representa um gesto político, uma espécie de investimento nas relações com a Europa, sobretudo diante das difíceis negociações com os Estados Unidos sobre a ALCA?

VILALVA

– Sem dúvida nenhuma, a abertura do escritório comercial aqui na Alemanha tem um sentido político tanto para o Mercosul, quanto para a relação do Mercosul com a Europa e com a Alemanha, em particular. De todo o comércio do Mercosul, 20% é o comércio intrabloco e 80%, extrabloco. Muito foi feito até agora pelo comércio intrabloco, mas pouco havia sido feito em relação a estes 80% que constituem o comércio com outros países. Então, consideramos que era o momento de termos uma ação específica através deste centro de promoção comercial conjunta, para prospectar novos nichos de mercado.

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– Em que consiste concretamente o trabalho do centro?

VILALVA

– Este centro terá o trabalho concreto de organizar missões comerciais à Europa e à Alemanha, providenciar pesquisas de mercado e de determinados produtos que têm chance de penetrar no mercado europeu. Também vamos considerar a participação conjunta em várias feiras internacionais que se realizam na Alemanha e em outros países da Europa. Enfim, vamos procurar participar de todo importante evento que mereça a representação do Mercosul.

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– Em quais setores as relações comerciais entre Mercosul e UE podem ser intensificadas a curto prazo?

VILALVA

– Temos vários setores que serão objeto de estudo mais específico: o setor de couros e calçados, de madeira e suas manufaturas, de alimentos, em especial frutas frescas, além de setores ligados a equipamentos eletrônicos. Nossas missões na Alemanha vão se basear nestes estudos de inteligência comercial, a fim de apurarmos previamente quais produtos têm chance concreta de penetração no mercado alemão e nos mercados prioritários dentro da Europa.

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– Até que ponto o centro poderá colaborar para a agenda de negociações político-econômicas entre Mercosul e UE?

VILALVA

– Acho que ele representa uma grande contribuição. Em primeiro lugar, pelo fato de que a existência de um centro e de uma operação de promoção comercial conjunta tende a criar uma solidariedade entre os empresários do bloco. Os empresários do bloco tendem a competir entre si na disputa dos mercados internos do Mercosul, daqueles 20% que mencionei. Mas quando vão procurar novos mercados, eles tendem a se dar as mãos, a vestir a mesma camisa. Então cria-se naturalmente uma solidariedade entre os empresários. Vamos juntar, por exemplo, a minha produção com a sua produção, procurar ser mais competitivos, formar consórcios de exportação, conferir as nossas cadeias produtivas e ver onde podemos fazer ajustes.

A promoção comercial conjunta é um ator coadjuvante das negociações comerciais, que procuram conquistar mercados mediante a eliminação de tarifas ou de barreiras não tarifárias. No momento em que se atingem estas metas, é preciso haver uma ação de promoção comercial. Ou seja, não adianta conquistar o mercado em tese, sem efetivamente ter uma operação capaz de promover aquele produto no mercado conquistado.