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Merkel condena "tentativa de assassinato" de Navalny

2 de setembro de 2020

Após governo alemão confirmar envenenamento, chanceler federal diz que líder oposicionista russo foi vítima de um crime com o objetivo de silenciá-lo. UE afirma que uso de armas químicas viola o direito internacional.

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A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, em coletiva de imprensa
Em coletiva de imprensa em Berlim, Merkel exigiu esclarecimentos do governo russoFoto: Getty Images/AFP/M. Schreiber

A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, condenou nesta quarta-feira (02/09) o envenenamento do líder oposicionista russo Alexei Navalny, afirmando que ele foi vítima de uma "tentativa de assassinato". O político está sendo tratado em um hospital na Alemanha desde agosto, quando foi transferido da Rússia.

"O objetivo foi silenciá-lo, e eu condeno veementemente esse crime em nome do governo alemão", declarou Merkel em coletiva de imprensa, acrescentando que o "veneno pôde ser comprovado sem sombra de dúvida nos testes", conforme havia anunciado o porta-voz do governo alemão mais cedo.

Merkel ainda prestou solidariedade à família de Navalny e desejou que ele "possa se recuperar desse ataque", e afirmou que espera agora explicações da Rússia sobre o incidente. "Existem agora questões muito sérias que apenas o governo russo pode e deve responder."

Segundo Merkel, o governo alemão informará seus parceiros na União Europeia (UE) e na Otan sobre os novos desdobramentos: "Vamos discutir e, à luz dos argumentos russos, decidir juntos sobre uma reação conjunta apropriada."

A chefe de governo afirmou que Berlim também entrará em contato com a Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) para discutir o incidente, que descreveu como um "crime contra os valores e direitos fundamentais que defendemos".

O ministro do Exterior alemão, Heiko Maas, disse mais cedo que convocou o embaixador russo na Alemanha para prestar esclarecimentos sobre o caso. "Ele foi, mais uma vez, inequivocamente solicitado pelo governo alemão a esclarecer os antecedentes do agora comprovado envenenamento de Alexei Navalny de forma abrangente e com total transparência", afirmou.

Em comunicado, a União Europeia disse condenar "nos termos mais fortes possíveis" o ataque ao opositor, exortando o governo russo a investigar cuidadosamente a tentativa de assassinato e responsabilizar seus atores.

"O uso de armas químicas em qualquer circunstância é completamente inaceitável e uma violação do direito internacional", afirmou Josep Borrell, alto representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança.

A presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, também condenou o ataque. "Fui informada pela chanceler Merkel que o líder opositor russo Navalny foi atacado com um agente nervoso, em seu próprio país. Esse é um ato desprezível e covarde – mais uma vez. Os perpetradores precisam ser levados à Justiça", escreveu no Twitter.

O governo dos Estados Unidos também se pronunciou, chamando o envenenamento de Navalny de "completamente repreensível". A Casa Branca ainda prometeu trabalhar para responsabilizar os culpados na Rússia.

Mais cedo, o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, confirmou que Navalny foi envenenado com um agente químico neurotóxico do grupo conhecido como Novichok, o mesmo usado em outros ataques a opositores do presidente russo, Vladimir Putin.

O grupo de substâncias foi associado, por exemplo, à tentativa de assassinato de Serguei Skripal, um ex-espião russo, e de sua filha Yulia, que foram envenenados em 2018 no Reino Unido. O agente químico foi desenvolvido pelos militares soviéticos entre os anos 1970 e 1980.

Segundo Seibert, o uso do Novichok contra Navalny foi comprovado "de modo inequívoco" por um laboratório especial militar alemão, a pedido do hospital Charité, em Berlim, onde o russo está sendo tratado desde sua transferência da Sibéria.

Navalny, de 44 anos, está em coma induzido, mas em estado considerado estável. Ele chegou para tratamento na capital alemã no último dia 22, após uma disputa entre seus apoiadores e autoridades russas que, inicialmente, não permitiram que ele viajasse ao país europeu para receber tratamento.

Dois dias após a chegada dele, o Charité informou que exames apontaram sinais de envenenamento em seu organismo. Os médicos não puderam confirmar especificamente qual era a substância, mas afirmaram na ocasião que novos exames seriam realizados.

Um dos maiores críticos do governo Putin, Navalny foi hospitalizado às pressas em 20 de agosto, após passar mal durante um voo que partiu de Tomsk, na Sibéria, com destino a Moscou. Devido ao estado grave, a aeronave precisou fazer um pouso de emergência em Omsk, também na Sibéria, para que o político fosse levado a um hospital.

A família e apoiadores de Navalny acreditam que ele foi envenenado ainda no aeroporto de Tomsk, com uma substância tóxica misturada ao chá que ele bebeu em uma cafeteria no terminal. A bebida teria sido a única coisa que ele consumiu naquele dia. Temendo por sua segurança, familiares então passaram a insistir que Navalny fosse transferido para uma clínica em Berlim.

Inicialmente, os médicos russos haviam vetado o traslado do ativista, alegando que seu estado crítico de saúde não permitia a remoção. Eles também afirmaram que testes não haviam encontrado sinais de envenenamento em seu organismo.

Apoiadores de Navalny denunciaram a recusa do hospital em Omsk em autorizar sua transferência como uma tentativa do governo russo de protelar a chegada do político a Berlim até que indícios de envenenamento não pudessem mais ser rastreados em seu corpo.

Navalny, um advogado e ativista anticorrupção, foi preso várias vezes nos últimos anos por organizar protestos não autorizados contra o Kremlin, e chegou a ser atacado fisicamente na rua por ativistas pró-governo. Ele ajudou nas investigações sobre o que denuncia como casos ultrajantes de corrupção governamental no país.

O Tribunal Europeu de Direitos Humanos decidiu que as detenções de Navalny em 2012 e 2014 pela Rússia tiveram motivação política e violaram seus direitos humanos, o que o governo em Moscou chamou de questionável.

Atualmente, ele e seus aliados estavam se preparando para as eleições regionais da Rússia, que serão realizadas neste ano, e vinham fazendo campanha para seus candidatos.

EK/dpa/afp/rtr