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Merkel diz que pogrom de 1938 foi prenúncio do Holocausto

9 de novembro de 2018

Em cerimônia memorial do Conselho Central dos Judeus, chanceler federal afirma que "Noite dos Cristais" oferece lições para a atualidade e pede sociedade mais atuante contra o antissemitismo e o racismo.

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Chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, durante discurso na sinagoga de Berlim em serviço memorial pelos 80 anos da "Noite dos Cristais"
Angela Merkel: "Os crimes antissemitas despertam más lembranças do início da perseguição dos judeus nos anos 1930"Foto: Getty Images/AFP/T. Schwarz

Exatos 80 anos depois da "Noite dos Cristais", a chanceler federal alemã, Angela Merkel, reiterou a necessidade de se agir de forma decidida contra o antissemitismo e o racismo. Em um serviço memorial do Conselho Central dos Judeus na sinagoga central de Berlim, nesta sexta-feira (09/11), Merkel afirmou que há novamente uma florescente vida judaica na Alemanha, mas salientou que esta tem sido ameaçada por um antissemitismo cada vez mais aberto e preocupante.

"Infelizmente, quase nos acostumamos ao fato de que toda instituição judaica [...] deve ser vigiada ou especialmente protegida pela polícia", disse Merkel. "Mas nos assustamos com ataques contra pessoas que usam uma quipá e ficamos consternados com o ataque de cunho de extrema direita contra um restaurante judeu em Chemnitz em agosto."

"Essa forma de crime antissemita desperta más lembranças do início da perseguição dos judeus, no começo dos anos 1930", disse a chanceler federal. "O Estado deve agir de forma resoluta e consistente contra a difamação, a exclusão, o antissemitismo, o racismo e o radicalismo de direita. O Estado de Direito não deve demonstrar tolerância quando pessoas são atacadas por causa de suas crenças ou sua cor de pele."

Merkel classificou o pogrom da "Noite dos Cristais", em 9 de novembro de 1938, como um importante prenúncio no caminho "da ruptura civilizatória da Shoah", com 6 milhões de judeus mortos. Mas também o pogrom tem uma história que o antecede, acrescentou, lembrando o antissemitismo dos anos 1920 e a passividade de muitos alemães diante da violência contra os judeus. "Estou convencida de que só podemos tirar as lições certas se compreendermos o pogrom de novembro de 1938 como parte de um processo", disse a chanceler federal alemã.

Merkel advertiu que, em tempos de grandes mudanças sociais e tecnológicas, aumenta o risco de ascensão daqueles "com respostas supostamente simples". Ela afirmou ainda que a data de 9 de novembro deveria relembrar a todos "que assistir passivamente a crimes e quebras de barreiras é, em última análise, um ato de cumplicidade".

O presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, Josef Schuster, advertiu para um número crescente de "incendiários intelectuais", que alimentam os temores contra refugiados e que perseguem requerentes de asilo e muçulmanos. Segundo ele, o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) "aperfeiçoou esse incitamento". A AfD não foi convidada para a cerimônia, organizada pelo Conselho Central dos Judeus.

Mais cedo, também nesta sexta-feira, o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, condenou um "novo e agressivo nacionalismo" em discurso no Bundestag (Parlamento). Segundo ele, o nacionalismo promete um "velho mundo sagrado que nunca existiu nessa forma". Em contraste, de acordo com Steinmeier, um patriotismo esclarecido e democrático é um incentivo constante para um futuro melhor.

Na noite de 9 para 10 de novembro de 1938, houve tumultos generalizados contra judeus e instituições e estabelecimentos judaicos em toda a Alemanha. Estimativas sobre o número de mortos variam entre algumas centenas e 1.300 pessoas assassinadas ou forçadas ao suicídio – muito mais do que as 91 mortes declaradas oficialmente após os ataques. Aproximadamente 1.400 sinagogas e salas de oração e 7.500 estabelecimentos judaicos foram destruídos.

Após a "Noite dos Cristais", cerca de 30 mil pessoas supostamente judias – em sua maioria homens – foram levadas para campos de concentração.

Steinmeier também aproveitou para citar outros eventos marcantes que ocorreram na Alemanha num dia 9 de novembro: a proclamação da República, em 1918, e a queda do Muro de Berlim, em 1989.

"Não podemos permitir que alguns pretendam que apenas eles falem em nome do 'povo verdadeiro', excluindo outros", disse. Ao mesmo tempo, o presidente alemão expressou seu desejo urgente de que o maior número possível de pessoas "tenha a coragem de se envolver em prol dessa democracia". "Podemos nos orgulhar das tradições de liberdade e democracia sem jamais desviar o nosso olhar do abismo da Shoah [o Holocausto]", concluiu.

PV/afp/dpa/epd/kna/ots

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