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Ministro critica manifestantes por comparações com nazismo

22 de novembro de 2020

Opositores de medidas para conter a pandemia vêm se comparando a vítimas do regime de Hitler, como Anne Frank e Sophie Scholl. Para ministro Heiko Maas, manifestantes banalizam o Holocausto e zombam das vítimas.

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Manifestantes do movimento Querdenken, em Berlim
Manifestantes do movimento Querdenken, em Berlim, exibindo velhas bandeiras da Prússia e do Império Alemão. Protestos contra as medidas de combate à pandemia têm atraído membros da extrema direitaFoto: picture alliance / SULUPRESS.DE

O ministro do Exterior da Alemanha, Heiko Maas, criticou neste domingo (22/11) os manifestantes que se opõem ao uso de máscaras e outras medidas para combater a pandemia. A crítica de Maas foi dirigida, sobretudo, aos opositores que vêm se comparando com vítimas do nazismo ou afirmando que o governo alemão vem se comportando como o regime de Adolf Hitler ao impor as medidas de distanciamento social.

Para Maas, essas comparações "banalizam o Holocausto" e "zombam" da coragem demonstrada pelos membros da resistência ao regime nazista (1933-1945).

A crítica de Maas ocorre após o discurso de uma participante de um "protesto anticorona" organizado pelo movimento Querdenken em Hannover, no sábado, ter viralizado na internet. Na sua fala, ela diz que se sentia "igual a Sophie Scholl" em sua "resistência" às medidas para conter a pandemia, citando a jovem estudante de Munique que foi executada pelos nazistas em 1943 por criticar o regime de Hitler.

A fala provocou uma série de críticas de usuários de redes sociais. Pelo Twitter, Maas disse: "Qualquer pessoa hoje em dia que se compare a Sophie Scholl ou Anne Frank está zombando da coragem necessária para enfrentar os nazistas."

"Isso banaliza o Holocausto e mostra uma amnésia histórica intolerável. Nada conecta os protestos com os membros da resistência. Nada!"

As imagens do protesto em Hanover ainda mostram que a fala causou revolta até mesmo no protesto. No vídeo, é possível ver um homem que trabalhava na segurança do evento interrompendo a mulher no palco após a fala. Em seguida, ele entregou seu colete de identificação. "Não estou trabalhando na segurança para ouvir essas bobagens." Ele também acusou a mulher de "minimizar o Holocausto". A jovem, que se identificou como Jana, de 22 anos, começou então a chorar e largou o microfone antes de sair do palco. O homem foi retirado pela polícia para evitar uma escalada de tensão.

Na semana passada, um episódio similar num protesto do movimento Querdenken Karlsruhe também atraiu críticas. Na ocasião, os organizadores arregimentaram uma menina de apenas 11 anos para ler um discurso. Na sua fala, ela se comparou à adolescente judia Anne Frank porque teve que comemorar seu aniversário em silêncio para evitar que os vizinhos soubessem que ela tinha convidado amigos para uma festa, violando as medidas de isolamento que restringem o número de visitas. "Eu me senti como se estivesse com Anne Frank no 'anexo secreto', onde eles tinham que ficar 'quietos como camundongos' para evitar a captura", disse a menina para uma multidão.

Anne Frank é uma das mais conhecidas vítimas do Holocausto. Entre 1942 e 1944, ela documentou, por meio de um diário, seu cotidiano familiar num esconderijo em Amsterdã, onde sua família levou uma existência claustrofóbica e silenciosa na esperança de ser não capturada pelos nazistas. Em 1944, a família foi descoberta. Anne morreu no campo de concentração de Bergen-Belsen em 1945.

A comparação gerou indignação na cidade, com a polícia de Karlsruhe classificando a fala como "inadequada e de mau gosto". A promotoria local abriu uma investigação sobre o caso, e o conselho tutelar foi acionado para falar com os pais.

Nos últimos meses, a Alemanha tem sido palco de vários protestos contra as medidas impostas pelo governo alemão para controlar a pandemia. Esses protestos têm reunido uma massa de participantes diversa, como neonazistas, propagadores de teorias conspiratórias, adeptos de tratamento de esotéricos e até alguns membros da extrema esquerda, entre outros. Muitos se apropriaram de slogans usados por manifestantes durante a derrocada da antiga Alemanha Oriental, em 1989, como "Nós somos o povo". Nas manifestações, não é raro ver bandeiras usadas pela extrema direita e uma desconsideração praticamente total ao regulamento de uso de máscaras.

Desde o início da pandemia, a Alemanha acumulou cerca de 918 mil casos de covid-19. Os óbitos passam de 14 mil. Em comparação com vizinhos europeus, o país se encontra em uma situação relativamente mais calma. O país tem uma taxa de 16,96 mortes por 100 mil habitantes. A França, por exemplo, tem taxa de 72,54. O Reino Unido, 82,30.

Recentemente, no entanto, o número de novos casos da doença aumentou de maneira acelerada. Isso levou os governos federal e estaduais a impor um lockdown parcial, fechando restaurantes, bares, centros culturais e de lazer pelo mês de novembro. Mas ao contrário das restrições impostas no primeiro semestre, escolas e lojas foram autorizadas a permanecer em funcionamento.

A chanceler federal Angela Merkel e os governadores dos 16 estados alemães devem se reunir na próxima quarta-feira para analisar se medidas mais rígidas serão necessárias antes do Natal.

O movimento contra as medidas impostas para conter a pandemia não é apoiado pela maioria da população alemã. Uma pesquisa divulgada pela revista Der Spiegel nesta semana mostrou que sete em cada dez alemães são favoráveis a uma prorrogação das medidas.