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Ministro da Cultura quer atrair maiores investimentos

Rainer Traube (mr)20 de fevereiro de 2006

Bernd Neumann, ministro da Cultura da Alemanha, em entrevista exclusiva à DW-TV, fala do planejamento para angariar fundos e de suas maiores dificuldades no cargo.

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Ministro Bernd NeumannFoto: dpa

DW-WORLD: O Festival de Cinema de Berlim chegou ao fim. Durante 10 dias, a capital alemã viveu a febre de cinema. E o senhor, também?

Bernd Neumann: Sim, claro! O ramo do cinema é um dos mais importantes para minha pasta. Como há anos sou fã de filmes e também já participei como júri de várias competições, a Berlinale é naturalmente um ponto alto para mim. Torço junto com Dieter Kosslick [diretor da Berlinale] para que ela seja um sucesso. Mas as chances são boas.

A produção de filmes alemã é fortíssima, mas sofre cronicamente com os baixos investimentos. Agora os incentivos fiscais também foram cortados. Como o senhor planeja levantar recursos para os filmes alemães?

Este é o desafio do momento. Qualitativamente, os filmes alemães fizeram progressos expressivos. Já podemos disputar em nível internacional, como se vê pelas quatro nomeações para o Oscar. Agora precisamos melhorar as condições de produção. Esta é uma meta do novo mandato e, para isso, foi montado um grupo de trabalho interministerial, que eu mesmo coordeno. Pessoas do ramo cinematográfico também participam. Queremos analisar a política de incentivo de outros países da União Européia, para chegar a um resultado. É necessário tornar interessante, para o capital, o investimento em produções alemãs. Infelizmente, até hoje não há os incentivos necessários, como ocorre em todos os outros países da UE, e também no Canadá e nos Estados Unidos. Estou me dedicando a essa tarefa no momento.

Do acordo de coalizão do governo consta claramente: cultura não é uma subvenção, mas um investimento no futuro. O que isso quer dizer? Significa que os incentivos estatais continuarão sendo expressivos?

Der brasiliansiche Kulturminister Gilberto Gil und Kulturstaatsminister Bernd Neumann
Gilberto Gil encontra-se com Bernd Neumann em BerlimFoto: AP

Essa formulação no programa de governo de Angela Merkel e no acordo de coligação visa pontuar que cultura é "mais". Ela é, na verdade, a base de nossa sociedade, é o que liga os alemães. O que mais nos torna alemães, além da história comum, a língua e a cultura? Por isso afirmamos que a cultura é muito importante, especialmente em tempos de globalização, quando as pessoas procuram mais orientação. O que injetamos na cultura não é subvenção, no sentido clássico, mas sim um investimento na sociedade. E uma sociedade não pode renunciar à sua cultura, pois é esta que a amalgama.

Nesse aspecto, faz sentido o parlamento querer incluir na lei fundamental a cultura como meta estatal. Esse é um passo enorme, que deve ser dado nos próximos períodos legislativos. Mas o que ele trará para editores, produtores teatrais e dançarinos?

Ainda não é certo que dois terços do parlamento votarão a favor. Nas bancadas da CDU e do SPD há sobretudo juristas que dizem: "Parem de sobrecarregar a constituição com leis panfletárias de incentivo". E se colocamos a cultura como meta do Estado, os da área do esporte dirão que este também merece ser incluído. Esse é um argumento de peso. É necessário pensarmos que colocar a cultura como objetivo estatal não faz com que haja automaticamente mais dinheiro. Porém seria um sinal de que a cultura é mais do que certos setores políticos. Nossa tarefa é levá-la em consideração, não permitindo que se reduzam seus investimentos financeiros. Por isso, eu ficaria particularmente contente com a medida. Mas a discussão, também com os políticos de direita, ainda não está encerrada.

O incentivo à cultura na Alemanha tem sido tradicionalmente coisa do Estado. O senhor acredita que precisamos de mais capital privado na cultura, também para compensar os mirrados cofres públicos?

É preciso dizer honestamente: já hoje muitas produções são financiadas pelo mecenato privado. Existem, por toda parte, associações de incentivo, de amigos ou, por exemplo, a Fundação Cultural dos Estados. Ela conta com um orçamento de oito milhões de euros e conseguiu mobilizar a mesma quantia dos patrocinadores. Isso significa que já se faz muito – sem o engajamento da iniciativa privada muita coisa não aconteceria. É certo que a situação pode melhorar. Por isso também consta do acordo de coalizão que precisamos rever a política das associações e fundações, assim como a legislação de utilidade pública. Podemos simplificar? Podemos introduzir elementos novos? Nós dependemos do engajamento privado, se quisermos preservar a pluralidade da cultura alemã.

Ainda não foi construído um memorial pelos milhares de alemães deslocados na Segunda Guerra Mundial, que alguns acreditam ser necessário na Alemanha. Nossos vizinhos da Polônia e República Tcheca vêem isso com irritação, preocupação e medo. Qual é o seu posicionamento? Haverá um museu, um monumento para os alemães expulsos?

No acordo de coalizão está expresso que, no tocante a esse importante tema "fuga e expulsão", construiremos um centro de documentação em Berlim. Isso não pode ser visto como algo discutível, pois a temática não diz respeito apenas à Alemanha, e sim a toda a Europa. Por isso, queremos falar do deslocamento de todos os povos europeus. Um memorial como esse é uma advertência no presente e no futuro, porque quando olhamos o mundo, percebemos permanentemente movimentos de fuga e expulsão, em virtude de guerras. Mas queremos realizá-lo em consenso com nossos vizinhos. Por isso, planejo conversar com meus colegas poloneses – esse é o problema principal – e também com outros colegas do leste europeu, a fim de esclarecer: é possível trabalharmos juntos? Também para eliminar certos receios, de que a questão da culpa seja resolvida em detrimento de outros. Está claro que os deslocamentos em 1945 e nos anos seguintes foram conseqüência de uma guerra iniciada pela Alemanha nazista. Isso tem que estar inteiramente claro. Mas também que grandes destinos se desenrolaram nessa época.

A Deutsche Welle também está sob a competência do ministro de Cultura e Mídia. Como o senhor vê o papel da emissora internacional no futuro?

A Deutsche Welle é, como qualquer emissora, independente da política em sua programação. A única diferença é que a ARD e a ZDF são financiadas com as taxas pagas pelos ouvintes e telespectadores, e a DW, diretamente pelos cofres públicos. A política é responsável pelas finanças e, possivelmente, pelo planejamento de trabalho, mas não existe uma influência na programação em si – e eu insisto nesse ponto.. Enquanto oposição, sempre reclamei que, nos últimos cinco, seis anos do regime passado, a Deutsche Welle sofreu cortes radicais, precisando dispensar grande número de funcionários. Estou feliz por poder informar que não haverá cortes de gastos este ano, ao contrário do que estava previsto. Gostaria muito de permitir à DW planejar sobre fundamentos financeiros sólidos, a médio e longo prazo, – isso é o mais importante. Quanto ao conteúdo em si, os redatores é que são responsáveis.

Qual é a sua agenda para depois do Festival de Cinema de Berlim?

Preciso pensar. Importantes projetos de lei estão sendo preparados, com respeito aos filmes alemães e à melhoria de suas condições. Preciso me ocupar disso. Preciso resolver problemas complicados, como a fusão das duas fundações de cultura, a federal e a dos estados. A concepção do memorial já está na pauta do dia. E logicamente, o cotidiano com diversos highlights no ramo da cultura, em Berlim, Munique, Hamburgo e em todos os lugares onde se espere a presença do ministro da Cultura.