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Ministro da Defesa de Israel renuncia após cessar-fogo

14 de novembro de 2018

Avigdor Lieberman afirma que acordo com o Hamas em Gaza foi "capitulação ao terrorismo" e anuncia saída de seu partido da coalizão governista, colocando em risco a continuidade do governo de Netanyahu.

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Avigdor Lieberman
"A fraqueza que demonstramos também se projeta em outras arenas", criticou Avigdor LiebermanFoto: Reuters

O ministro da Defesa de Israel, Avigdor Lieberman, renunciou ao cargo nesta quarta-feira (14/11) em protesto ao cessar-fogo acordado entre o governo e o movimento palestino Hamas, que ele chamou de "capitulação ao terrorismo". A decisão abalou o ambiente político israelense e poderá resultar na convocação de eleições antecipadas.

Lieberman havia exigido uma reação mais forte do país em resposta aos ataques palestinos ocorridos nos últimos dias, os mais intensos desde a guerra de 2014, mas, aparentemente, acabou sendo vencido pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

O premiê foi fortemente criticado, principalmente por sua própria base política, por aceitar o cessar-fogo, juntamente com a decisão de permitir a entrega de 15 milhões de dólares provenientes do Catar para a ajuda humanitária em Gaza.

"Se eu permanecesse no cargo, não estaria apto a olhar nos olhos dos residentes do sul", afirmou Lieberman, se referindo à região atingida pelos mísseis palestinos antes da trégua entrar em vigor, nesta terça-feira. Ele afirmou que sua renúncia será acompanhada da saída de seu partido, o ultranacionalista de direita Yisrael Beitenu, da coalizão governista.

Isso deixaria Netanyahu com uma maioria apertada de 61 parlamentares de um total de 120, o que já gerou uma série de pedidos por eleições antecipadas, um ano antes da data marcada, em novembro de 2019.

Naftali Bennett, líder de outro partido da base governista, mas rival de Netanyahu, afirmou que, caso não seja indicado para o Ministério da Defesa, sua legenda também abandonará a coalizão de governo, o que certamente levaria a eleições antecipadas.

A maior base de apoio de seu partido, o conservador Likud, se concentra exatamente no sul do país. Moradores da região saíram às ruas em protesto, acusando o governo de se render à violência e apontando sua incapacidade de fornecer segurança em longo prazo.

Nos últimos meses a região sofreu ataques esporádicos de mísseis e de uma série de pipas incendiárias que destruíram plantações de israelenses, além de tentativas de invasão. Nos últimos dias, militantes palestinos lançaram 460 projéteis e morteiros contra o território de Israel, enquanto Israel realizou 160 ataques aéreos em Gaza.

A violência começou no domingo, quando forças israelenses foram descobertas durante uma operação na Faixa de Gaza que, segundo o governo de Israel, teria como objetivo recolher informações para os serviços de inteligência. Um conflito iniciado no local causou a morte de um oficial israelense e de sete militantes palestinos, levando o grupo Hamas, que controla a região, a retaliar.

Netanyahu comunicou a decisão de aceitar o cessar-fogo como sendo consensual dentro de seu núcleo de segurança e com base em recomendações militares, argumentando que a intenção era evitar uma nova guerra.

"Vejo um quadro maior da segurança de Israel que não posso compartilhar com o público", afirmou. "Nossos inimigos clamam por um cessar-fogo, e eles sabem bem o motivo. Não posso detalhar nossos planos para o futuro. Vamos ditar o tempo e as circunstâncias que são corretas para Israel e para a segurança de nossa população."

"Em tempos como esse, liderança não significa fazer as coisas fáceis. Liderança quer dizer fazer o certo, mesmo que seja difícil, e às vezes, ter de encarar as críticas", disse o primeiro-ministro.

Lieberman disse que se recusa a trabalhar num governo que aceite um cessar fogo nessas condições. "Ficamos calados no curto prazo ao custo de danos graves à nossa segurança em longo prazo", disse o ministro ao anunciar sua renúncia. "A fraqueza que demonstramos também se projeta em outras arenas", criticou.

A liderança do Hamas festejou a renúncia de Lieberman como uma "vitória política para Gaza". Um porta-voz do grupo disse que a decisão do ministro israelense marca um "reconhecimento da derrota e do fracasso ao confrontarem a resistência palestina", acrescentando que "a resiliência de Gaza resultou numa onda de choque político" em Israel.

Antes da recente escalada de violência em Gaza, a ONU e o Egito haviam alcançado êxito ao mediar uma tentativa de pôr fim aos conflitos na região, que se agravaram a partir de março, durante protestos para a remoção de um bloqueio egípcio-israelense a Gaza, após a chegada do Hamas ao poder, em 2007.

O bloqueio causou danos graves à economia do território, mas Israel se recusa a removê-lo enquanto não houver o desarmamento do Hamas, o que o grupo militante rejeita. Desde março, os protestos violentos na fronteira ocorriam semanalmente.

Há poucos dias, Israel permitiu o envio de combustíveis para suprir a carência de energia elétrica no território e permitiu a transferência da ajuda financeira oferecida pelo Catar para permitir o pagamento dos salários de milhares de trabalhadores do governo do Hamas em Gaza.

RC/ap/rtr

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