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Westerwelle amadureceu no cargo, afirmam políticos

Bettina Marx (sv)13 de setembro de 2013

Revoluções no mundo árabe e crise na Europa: o ministro do Exterior enfrentou tarefas árduas nos últimos quatro anos. Principalmente considerando que era inexperiente e por atuar ao lado de uma chefe de governo forte.

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Foto: MIA

Para o ministro do Exterior Guido Westerwelle, sair da oposição para se tornar chefe da diplomacia alemã foi uma grande ascensão. Em 2009, o líder do FDP (Partido Liberal Democrata), que era com frequência ridicularizado e ofendido, atingiu um percentual nunca antes alcançado antes por seu partido nas urnas: 15% dos votos. Ele chegava então ao ápice do poder: ministro do Exterior e vice-chanceler federal. Mas seu início no cargo foi cheio de tropeços, uma vez que Westerwelle continuou se intrometendo em assuntos de política interna, sem dar a devida atenção à pasta de Exterior.

Sob pressão de seu partido, ele entregou, enfim, no início de abril de 2011, a liderança do FDP, tendo também abdicado do cargo de vice-chanceler federal do país. E, a partir de então, pôde se dedicar à tarefa de chefe da diplomacia. Com sucesso, como atesta Ruprecht Polenz, político da União Democrata Cristã (CDU) e presidente da Comissão de Exterior do Parlamento. "Qualquer pessoa percebe que ele ocupa o cargo de corpo e alma", elogia Polenz.

Segundo o político democrata-cristão, Westerwelle se aprofunda nos assuntos de sua pasta, empenha-se no cargo e tenta fazer valer os interesses alemães numa Europa cada vez mais coesa. "Ele defende posturas multilaterais, ou seja, não aposta em iniciativas alemãs individuais. Acho isso bom. Westerwelle cresceu visivelmente no cargo", completa Polenz.

Chanceler federal forte, ministro do Exterior fraco?

Esta é também a opinião do cientista político Gunther Hellmann: "Westerwelle é, hoje, um ministro do Exterior soberano". Embora não tenha muita liberdade de ação ao lado da chefe de governo Angela Merkel, acrescenta o especialista. "É difícil para um ministro do Exterior contar pontos ao lado de uma chanceler federal com muita rotina no cargo", explica Hellmann, que é professor de Ciências Políticas da Universidade de Frankfurt.

Deutschland Bundeskanzlerin Angela Merkel in Berlin
A premiê alemã Angela MerkelFoto: dapd

Além disso, em função do Tratado de Lisboa, que rege a União Europeia, passaram a ser requisitadas diversas competências do Ministério do Exterior. Merkel, afirma Hellmann, sabe, com muita habilidade, fazer uso de sua posição de poder para empurrar a seu ministro do Exterior as decisões de política externa menos agradáveis.

Isso, segundo o especialista, ficou visível no caso das decisões a respeito da Líbia, no Conselho de Segurança da ONU, em março de 2011. Westerwelle absteve-se da votação sobre a criação de uma zona de bloqueio aéreo sobre a Líbia, posicionando-se assim ao lado da Rússia e da China – países com poder de veto no grêmio. E recebeu por isso uma avalanche de críticas de seus adversários políticos e da mídia.

Na realidade, afirma Hellmann, Merkel e o então ministro da Defesa, Thomas de Maizière, embora tenham participado intensamente desta decisão, mantiveram-se afastados da controversa discussão, de forma que Westerwelle foi obrigado a aguentar "os ataques em parte injustificados".

Crítica a Westerwelle

Rolf Mützenich, do Partido Social Democrata (SPD), concorda com essa análise. Ele também acredita que Westerwelle tenha crescido no cargo desde que assumiu, há quatro anos. Mas, apesar disso, Mützenich diz que não pode dizer onde estão os pontos fortes do ministro ao fim de seu mandato.

Rolf Mützenich
O social-democrata Rolf Mützenich, especialista em política externa de seu partidoFoto: DW

Para Mützenich, Westerwelle não cumpriu com o projeto de política externa apresentado pelo governo em fevereiro de 2012. O político social-democrata critica o fato de países como a China, o Cazaquistão e a Malásia, apesar da negligência em relação aos direitos humanos e a valores democráticos, terem sido declarados por Berlim como parceiros estratégicos.

A estratégia de Westerwelle para a América Latina tampouco foi levada adiante, observa Mützenich. O que também ocorreu em relação à Rússia, segundo o político. Neste último caso, afirma ele, Westerwelle perdeu a chance de fortalecer o ex-presidente Dimitri Medvedev, com suas tentativas de criar uma nova arquitetura de segurança.

"O que não posso aceitar é o fato de Westerwelle não ter feito nada no que diz respeito à crítica à exportação de armamentos. Neste caso, acredito, o ministro do Exterior precisaria desempenhar um papel muito diferente, principalmente quando diz que defende uma política externa guiada por valores", conclui o político.

Westerwelle, de acordo com Mützenich, assumiu o cargo com a promessa de se empenhar por um desarmamento nuclear. Em contraponto a esta meta, a Alemanha vem fornecendo cada vez mais armas a regiões de tensão, entre elas a Península Arábica.

"Doutrina Merkel"

Em julho de 2011, a decisão do Conselho Federal de Segurança em prol da exportação de 200 tanques de guerra para a Arábia Saudita gerou polêmica no país. Pouco antes, em março de 2011, tropas sauditas haviam invadido o Bahrein, a fim de ajudar o rei a sufocar uma rebelião contra sua hegemonia no país.

Kampfpanzer Leopard 2 A4
Tanque de guerra do tipo Leopardo: fornecimento controversoFoto: imago

A decisão de fornecer armas à Arábia Saudita emana da chamada Doutrina Merkel, segundo a qual a Alemanha, em vez de mandar soldados para apaziguar conflitos em regiões de crise, deve suprir as potências regionais com armas para que elas mesmas assumam essas tarefas. Merkel elucidou essa nova diretriz de política externa num discurso em outubro de 2011. "Precisamos capacitar os Estados dispostos a se empenhar. Digo expressamente: isso inclui também a exportação de armas", disse a chefe de governo.

Em outubro de 2012, Merkel afirmou ainda com maior precisão, num discurso às Forças Armadas: "Quem sentir obrigação de assegurar a paz, mas não puder assumir um papel ativo em todo lugar do mundo neste sentido, está conclamado a ajudar parceiros confiáveis, para que estes assumam as respectivas funções".

Mais responsabilidade no mundo?

Para o social-democrata Mützenich, a Doutrina Merkel não é nada além de um programa conjuntural para a indústria armamentista alemã, que sofre com a redução da demanda de um Exército menor no país. Já o democrata-cristão Polenz não rejeita categoricamente o fornecimento de armas à Arábia Saudita, apesar de algumas reservas: "Não se pode ignorar que a Arábia Saudita veja ameaças, como por exemplo na fronteira com o Iêmen", diz ele. Além disso, completa, os rebeldes xiitas houthis recebem apoio do Irã e precisam, por isso, "ser vigiados".

Tempos de trabalho intenso para ministro do Exterior

Polenz revida, contudo, as críticas da mídia de que a Alemanha não participa adequadamente de intervenções militares. O político democrata-cristão ressalta que Berlim possui mais de seis mil soldados estacionados no exterior, sendo todas as missões legitimadas pelo Direito Internacional, provando assim que o país assume suas responsabilidades neste sentido.

Ruprecht Polenz CDU
O democrata-cristão Ruprecht PolenzFoto: picture-alliance/dpa

O cientista político Hellmann também não vê deficiências neste contexto: "A meu ver, a política do país, como ela é definida no momento no que concerne à sua responsabilidade global, é adequada tendo em vista o papel, a história, a compreensão e o potencial de poder da Alemanha".

O ministro do Exterior Westerwelle defende essas não intervenções. "As missões militares não devem ser um meio normal da política, elas precisam permanecer como grandes exceções", afirmou o ministro. Ele acrescentou que prefere ser criticado por ponderar em demasia e duvidar ocasionalmente do que "ter que ouvir acusações de ter enviado levianamente soldados alemães a missões no exterior".