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Morre na Suíça a última filha de Thomas Mann

Neusa Soliz9 de fevereiro de 2002

Ela vai fazer falta a todos os que a conheceram: Elisabeth Mann Borgese, a quinta filha do escritor alemão Thomas Mann: oceanógrafa, era uma pessoa feliz e bem humorada, em meio às tragédias da família Mann.

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Elisabeth Mann Borgese - na capa de sua biografia

Elisabeth Mann Borgese, a filha mais nova do escritor alemão Thomas Mann, faleceu de pneumonia, perto de St. Moritz, na Suíça, aos 83 anos. "Na Alemanha ninguém sabe da minha existência", disse Elisabeth, certa vez, em sua grande modéstia. Isso mudou repentinamente no final de 2001, quando os telespectadores alemães assistiram a uma memorável minisérie sobre a família Mann, um projeto ambicioso que entremeava documentação e dramaturgia, para o qual sua colaboração foi de suma importância.

Cativante e bem humorada: a senhora dos oceanos

Ao mais tardar então os alemães conheceram uma velha senhora com grande senso de humor, uma cientista, uma mulher inteligente, sensível e de uma modéstia típica das pessoas sábias. Tão vital, que sua morte, na madrugada de sexta-feira (08) pegou muitos de surpresa, pois ela gozava de boa saúde e costumava passar férias na Suíça, onde ainda esquiava.

Tanto na minisérie como nas entrevistas que concedeu, Elisabeth Mann Borgese tratou de esclarecer que pelo menos ela, a caçula, não sofreu de viver à sombra de seu pai, o grande autor de "Os Buddenbrooks", pelo qual recebeu o Nobel de Literatura em 1929, " A Montanha Mágica" e "Morte em Veneza", entre outros. Com Thomas Mann ela compartilhou a paixão pelo mar e depois acabou tornando-se a "Lady of the Oceans", uma bióloga marinha de destaque internacional, que muito se engajou em prol da conservação dos mares e a única mulher entre os fundadores do Club of Rome, a instituição da qual partiu, nos anos 70, o grande alerta para o perigoso estado do meio ambiente, no estudo intitulado "Os limites do crescimento".

Infância feliz, em meio às tragédias dos irmãos

Elisabeth era a última filha viva de Thomas Mann, a penúltima dos seis filhos do escritor, e sua preferida. Ao contrário de seus irmãos, Michael, Golo, Monika, Erika e Klaus, que tanto se queixaram da frieza e do egocentrismo do patriarca Thomas Mann, ela só guardava boas lembranças de sua infância, como revelou aos telespectadores que ficaram encantados com sua atuação nos filmes e suas declarações. Passou no exílio a maior parte de sua infância e juventude, primeiramente na Suíça. O exílio americano deixou-lhe lembranças amargas. Aos 20 anos, casa-se com o escritor italiano Giuseppe Borgese, muito mais velho que ela, que a deixa viúva aos 34 anos. Esse, porém, não foi o único "golpe do destino", numa família em que a genialidade andava de braço com a tragédia.

Seu irmão mais novo Michael, um músico muito sensível e melancólico, suicidou-se depois, assim como seu irmão mais velho Klaus, também escritor. Sua irmã Monika não suportou a morte do marido, e Golo, que tornou-se historiador, queixou-se amargamente, a vida inteira, do pai tão distante e de sua "infância horrível". Erika, a outra irmã, também escritora, igualmente teve dificuldades em livrar-se da sombra do pai.

A professora de direito marinho que ensinava cães a tocar piano

A vida de Elisabeth, contudo, foi muito diferente, pois sua biografia dá conta de muitas realizações. Os mares eram, para ela, "um imenso laboratório". Em 1972, Elisabeth Mann Borgese fundou o Instituto Oceanográfico Internacional, em Malta. Nesse meio tempo, o instituto tem 20 filiais, uma delas em Halifax, no Canadá, onde a filha de Thomas Mann vivia. Grande pianista na juventude, a carreira que gostaria de ter seguido, tornou-se professora de direito marítimo, tendo trabalhado na elaboração da Convenção dos Mares das Nações Unidas, que data de 1982. Num dos programas de tevê, Elisabeth revelou ainda seu lado excêntrico: que ensinava seus cachorros a tocar a piano, num instrumento sob medida para patas caninas. E eles aprenderam, garantiu a mestra.

A "última filha de Thomas Mann", que pode haver herdado o bom humor de sua avó paterna, a brasileira Julia Mann, mãe do escritor, será enterrada em Zurique, no cemitério de Kilchberg, onde jazem seu pai, enterrado em 16 de agosto de 1955, sua mãe, Katia, e seu irmão Golo Mann.