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Mostra revela interseção entre cinema e psicanálise

Tatiana Kirianova (sv)27 de setembro de 2006

De G.W. Pabst a Ingmar Bergman, de Hollywood aos independentes: diversos diretores levaram a psicanálise às telas. Mostra no Museu do Cinema de Berlim resgata os paralelos entre as teorias de Freud e a sétima arte.

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Visitante da mostra 'Cinema na cabeça', em BerlimFoto: PA/dpa

Quem teria dito, no início do século 20, que tanto a psicanálise quanto o cinema iriam marcar os próximos cem anos? O próprio Sigmund Freud, em vida, demonstrava uma clara resistência à "cinematografia".

Ao contrário de vários de seus alunos, ele não acreditava que o cinema pudesse realmente contribuir para revelar aspectos do inconsciente, como observa Wolf Unterberger, um dos curadores da exposição Cinema na Cabeça – Psicologia e Filmes desde Sigmund Freud, que fica aberta ao público no Museu do Cinema em Berlim até 7 de janeiro de 2007.

Ruído branco

Alfred Hitchcock
Alfred HitchcockFoto: AP

Freud acreditava que um complexo teórico, como a psicanálise, nunca poderia ser transformado em imagens. Entre outros motivos, porque ele achava que a base teórica psicanalítica, formada por conceitos, não apresentava paralelos com o cinema, que lida com imagens em movimento.

"Outros teóricos, ao contrário, tinham uma abertura maior em relação ao cinema, de forma que o diretor G.W. Pabst até pôde realizar seu filme Segredos de uma Alma com o apoio de vários psicanalistas do círculo de Berlim", diz Unterberger.

A história do cinema no decorrer do século 20, porém, deu provas mais do que suficientes da proximidade do cinema com a psicanálise, através de nomes como Alfred Hitchcock, David Lynch, Woody Allen, Luis Buñuel e Wim Wenders. No cinema alemão contemporâneo, um bom exemplo é O ruído branco (Das weisse Rauschen), de Hans Weingartner.

"Gabinete de lágrimas"

Easy Rider
Peter Fonda, Dennis Hopper e Jack Nicholson: 'Sem Destino'Foto: AP

Na mostra recém-inaugurada no Museu do Cinema de Berlim podem ser vistos vários documentos do acervo de Freud, como cartas e diários, documentando as relações multifacetadas entre o cinema e as incursões teóricas sobre a psique humana.

Em um "gabinete de lágrimas" e um "laboratório-teste", o visitante é exposto a vários filmes que, tradicionalmente, provocam lágrimas no espectador, como por exemplo Bonequinha de Luxo (1961), de Blake Edwards.

Outro pilar da exposição em Berlim é composto pela biografia de Freud. Sua relação problemática com drogas como a cocaína são o tema do capítulo "Êxtase e Cinema". Nos anos 60, os efeitos das drogas se tornaram um tema de interesse público, discutido principalmente pela juventude inconoclasta da época. Entre os filmes que viriam a tocar no assunto daí em diante estão Sem destino (1969), de Dennis Hopper, e Medo e Delírio (1998), de Terry Gilliam.

Fotografias

Mais adiante, a exposição traz reproduções fotográficas em preto-e-branco da clínica parisiense Salpentière, onde foram documentados pela primeira vez ataques histéricos de uma paciente. Acredita-se que estas fotografias despertaram em Freud a suposição de que os males psíquicos poderiam ser desencadeados no inconsciente.

No entanto, ao contrário de seu mestre Charcot, Freud não defendia uma cura através de medicamentos, mas sim por meio de sessões de psicanálise, durante as quais os traumas poderiam vir à tona e se tornar conscientes.

Experiências no divã

Die Couch von Sigmund Freud
O divã de FreudFoto: AP

A mostra no Museu do Cinema de Berlim não pretende, porém, ser didática, forçando o visitante a se debater por horas a fio com um complexo teórico, avisa o curador Wolf Unterberger.

"Trata-se, acima de tudo, de passar uma imagem forte, que o espectador possa levar para casa. O que importa é o que se vivencia ao passar por ali", aposta o curador. Por isso, nada mais óbvio do que um divã à disposição do visitante. Quem se aventura a se deitar ali, pode ouvir, através de caixas de som, diálogos entre terapeutas e pacientes.