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TerrorismoOriente Médio

Muçulmanos protestam contra Macron em vários países

30 de outubro de 2020

Atos condenam apoio do presidente francês à liberdade de publicação de caricaturas do profeta Maomé. Protestos ocorrem um dia após ataque terrorista que deixou três mortos na França.

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Homens queimaram bandeira da França em Daca
Em Daca, manifestantes queimaram bandeira da França Foto: zabed Hasnian Chowdhury/ZUMA Wire/imago images

Milhares de muçulmanos saíram às ruas em vários países em protestos contra a França e presidente francês, Emmanuel Macron, nesta sexta-feira (30/10). Os manifestantes mostraram indignação com os recentes comentários do político sobre o Islã e o apoio à liberdade de publicação de caricaturas do profeta Maomé.

Na capital de Bangladesh, Daca, onde foram convocados por vários partidos islâmicos, cerca de 20 mil manifestantes se reuniram contra as declarações de Macron após a oração de sexta-feira. Os manifestantes exigiram um pedido de desculpas do presidente francês e que o governo convoque o embaixador da França para dar explicações.

Vários protestos também ocorreram em outras partes do país fora das mesquitas, nos quais os manifestantes, em sinal de repúdio, queimaram cartazes com o rosto de Macron.

As manifestações na capital do Paquistão, Islamabad, se tornaram violentas quando cerca de 2 mil manifestantes que tentavam se dirigir à embaixada francesa foram impedidos pela polícia, que utilizou gás lacrimogêneo. Vários foram presos nos confrontos e as autoridades tiveram de reforçar a segurança em torno da embaixada.

Os manifestantes realizaram ainda um enforcamento simbólico de uma imagem de Macron. Em Lahore, milhares que celebravam a data do Mawlid, o aniversário do profeta Maomé, tomaram às ruas e entoavam slogans contra a França. Na província de Punjab, um grupo queimou uma imagem de Macron e exigiu que o Paquistão rompa relações com o país europeu e boicote produtos franceses.

França em estado de alerta após atentado em Nice

No Líbano, centenas de islamistas sunitas tentaram se aproximar da residência oficial do embaixador francês em Beirute, mas encontraram o caminho bloqueado pela tropa de choque e entraram em confronto com os policiais. 

Os protestos contra a França no Líbano colocam o recém-nomeado primeiro-ministro interino do país, Saad Hariri, em posição delicada, enquanto ele trabalha para formar um novo governo para implementar um plano de reformas elaborado pelo governo francês, que visa tirar sua ex-colônia de uma grave crise financeira e institucional. 

Em Jerusalém, centenas de palestinos protestaram contra Macron em frente à mesquita Al-Aqsa. Na Faixa de Gaza, membros do Hamas organizaram atos públicos anti-França em várias mesquitas. Fathi Hammad, um dos líderes do Hamas, disse que os muçulmanos devem "confrontar essa ofensa criminosa que fere a fé de em torno de 2 bilhões de pessoas". Ele pediu aos palestinos que boicotem todos os produtos franceses.  

Em Cabul, no Afeganistão, milhares protestaram aos gritos de "morte à França" e exigiram que o governo afegão feche a embaixada francesa, cesse as importações de produtos e proíba os cidadãos franceses de entrarem no país. 

O protesto na capital do Afeganistão, que começou logo após as orações de sexta-feira na Grande Mesquita Central, foi convocado pela Sociedade Juvenil Muçulmana Afegã, uma organização de jovens voluntários que estão presentes em 31 das 34 províncias o país.

Ataques na França

Os protestos em vários países muçulmanos eclodiram depois da reação do governo francês a uma série de ataques que, segundo as autoridades, desafiam os valores franceses. Em 16 de outubro, o professor de história Samuel Paty  foi decapitado por um extremista islâmico nas proximidades de Paris, após ter exibido caricaturas do profeta em sala de aula, durante uma aula sobre liberdade de expressão. 

Nesta quinta-feira, um ataque a faca deixou três mortos na Basílica Notre-Dame, na cidade de Nice. Um homem e uma mulher foram mortos dentro do local, e uma brasileira foi gravemente ferida e morreu num café nas imediações, onde ela havia se refugiado, segundo policiais.

O agressor, que teria gritado "Allahu Akbar" (Deus é grande, em árabe) ao perpetrar o ataque, foi ferido a tiros pela polícia e levado a um hospital. O promotor antiterrorismo da França, Jean-François Ricard, disse que o suspeito é um cidadão tunisiano nascido em 1999.

Após o ataque em Nice, Macron voltou a afirmar que o país "não cederá" ao terror. O presidente classificou o ocorrido como um "atentado terrorista islâmico". Segundo ele, a França está na mira da "loucura islâmica" por seus valores, "seu gosto pela liberdade, e por permitir que todos creiam livremente, sem ceder ao terror".

O ministro francês do Interior, Gérald Damarnin, disse que o país – que abriga a maior comunidade muçulmana na Europa – trava a uma guerra contra a ideologia islamista e que mais ataques devem ainda ocorrer.

As caricaturas do profeta Maomé foram recentemente republicadas pelo jornal satírico francês Charlie Hebdo para marcar o início do julgamento dos envolvidos no brutal ataque à sede do jornal em 2015. Muitos no mundo muçulmano consideram esse tipo de representação como uma blasfêmia.  

Durante a semana, as manifestações e os pedidos de boicote aos produtos franceses se espalharam rapidamente por vários países muçulmanos. O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, expressou fortes críticas à França, contra o que chamou de posições provocativas e antimuçulmanas.

RC/ap/rtr