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Mudar estilo de vida pode evitar quase 50% dos casos de câncer

Brigitte Osterath / Clarissa Neher 4 de fevereiro de 2014

Doença pode matar até 13 milhões de pessoas no próximo ano. Mas metade dos casos pode ser evitada com medidas simples, como alimentação saudável e peso adequado. Herança genética poucas vezes tem influência.

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Foto: Fotolia/ Gina Sanders

Até 2025, o número de casos de câncer no mundo pode aumentar cerca de 40% chegando a mais 20 milhões de novos diagnósticos por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Quase a metade desse número poderia ser evitada por meio de mudanças no estilo de vida, afirmam especialistas. Cigarro, excesso de peso e carne são considerados os grandes vilões que contribuem para o aparecimento da doença.

Em 2012, cerca de 14 milhões de novos casos de câncer foram registrados no mundo. A doença foi responsável por 8,2 milhões de mortes e a expectativa é que, nos próximos dois anos, esse número chegue a 13 milhões. Os tipos mais diagnosticados atingem o pulmão, mama e cólon. Os dados foram divulgados pela OMS por ocasião do Dia Mundial do Câncer, lembrado nesta terça-feira (04/02).

No Brasil, o Ministério da Saúde estima que mais de 570 mil casos de câncer sejam diagnosticados neste ano. Os com maior incidência são de pele, próstata e mama.

Embora o grande número de diagnósticos seja alarmante, pesquisas recentes revelam que uma boa parte dos casos poderiam ter sido evitados. "Câncer não é o destino", afirma Indrayani Ghangrekar, porta-voz da organização britânica Pesquisa sobre Câncer do Reino Unido. Apesar de todo o câncer estar relacionado a mudanças no genoma, a velocidade no acúmulo desses erros no material genético depende do comportamento de cada um.

Estilo de vida

Uma pesquisa realizada por Max Parkin da Universidade de Londres Queen Mary, em parceria com a organização Pesquisa sobre Câncer do Reino Unido, mostrou que o estilo de vida tem uma grande influência no aparecimento dessa doença.

Cerca de 42,7% de todos os novos casos de câncer registrados em 2010 em países desenvolvidos, como o Reino Unido, poderiam ter sido evitados. Medidas simples bastariam, como evitar o cigarro, o álcool, praticar esportes, controlar o peso e hábitos alimentares saudáveis.

Um estudo europeu que faz parte de um projeto sobre câncer da OMS, analisa os fatores que desencadeiam essa doença. Mais de 500 mil voluntários, em toda a Europa, foram entrevistados. Agora, os pesquisadores observam seus estilos de vida para descobrir quem desenvolverá a doença.

Os cientistas já sabem que os fumantes são um grupo de risco: cerca de 20% a 25% de todos os tumores são causados pelo tabaco. Fumar não causa somente câncer de pulmão. As substâncias tóxicas que se espalham por todo o corpo do fumante causam alterações nas células.

Pesquisa usa algas para combater câncer

O vilão cigarro

"Nem todos os fumantes terão câncer, assim como nem todos não-fumantes não terão. Mas quem fuma costuma desenvolver essa doença com mais frequência e mais cedo", afirma Rudolf Kaaks, pesquisador do Centro de Pesquisa Alemão sobre Câncer (DKFZ), em Heidelberg.

Assim, quem fumou todos os dias uma carteira de cigarro durante anos tem 40 vezes mais chances de desenvolver câncer no pulmão do que quem nunca fumou, afirma Elio Riboli, pesquisador do Imperial College London.

Para Kaaks, vários tipos de câncer estão diretamente relacionados ao estilo de vida. Por exemplo, na Alemanha e em outros países ocidentais desenvolvidos, os casos de câncer de mama, colo do útero, cólon ou pâncreas são dez vezes mais frequentes do que na África e no Sudeste Asiático.

Em países em desenvolvimento, ao contrário, os diagnósticos mais comuns são de câncer no fígado causado por doenças infecciosas, como hepatite, que atacam as células do órgão e o danificam a ponto de gerar tumores.

Em poucos casos, o câncer é programado sem a influência do estilo de vida. "Em crianças, com frequência, não se conhece o causador", afirma o oncologista infantil Stefan Pfister, do DKFZ.

Os pesquisadores acreditam que os genes que sofrem mutação têm uma forte influência no crescimento celular. A mudança desses genes leva rapidamente ao desenvolvimento de um tumor. E isso vale para alguns outros tipos de câncer, não só para crianças. "Nós não sabemos porque alguns pacientes têm tumores no cérebro e outros não", afirma Pfister.

Alimentação balanceada

E como o estilo de vida pode aumentar os riscos, algumas mudanças podem fazer muita diferença. Médicos e nutricionistas recomendam a ingestão de muitas frutas e verduras, mas pesquisadores têm opiniões controversas sobre o consumo desses vegetais para a prevenção do câncer.

Segundo Kaaks, frutas e verduras não têm um grande papel de prevenção. "Nós percebemos apenas uma ligeira redução no risco de câncer por meio do consumo de frutas e verduras", afirma. Ou seja, a pesquisa revelou que em tipos de câncer predominantes entre fumantes a ocorrência da doença pode diminuir em 8%. Por outro lado, o baixo consumo de frutas e verduras foi responsável por cerca de 4,7% dos casos de câncer no Reino Unido em 2010, aponta Max Pakin.

Todos concordam que uma alimentação balanceada é fundamental. Segundo a Epic, a quantidade de alimentos consumidos tem muito mais influência no risco do que a porção diária de frutas e verduras. Obesos têm mais chances de ter câncer do que pessoas dentro do peso.

"O excesso de peso aumenta, por exemplo, os níveis de insulina, o que pode atuar com fator de crescimento das células e assim estimular o crescimento de tumores", afirma Kaaks.

Além disso, uma grande hormônios femininos podem se acumular no tecido adiposo de mulheres com excesso de peso após a menopausa, aumentando o risco de câncer de mama e no colo do útero. Um em cada cinco tumores registrados em mulheres depois da menopausa é causado pelo excesso de peso, afirma o DKFZ.

Outro fator de risco é o consumo de carne, relacionado diretamente ao câncer de cólon. "O risco aumenta entre 20 e 30% em pessoas que consumiram carne vermelha durante toda a sua vida", afirma o pesquisador Harald zur Hausen, do DKFZ.