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Muito oba-oba, pouca qualidade

Laís Kalka10 de outubro de 2003

Dieter Bohlen, atualmente o maior astro da televisão alemã, rouba o show na Feira do Livro de Frankfurt pelo segundo ano consecutivo, confirmando a tendência da banalização do livro.

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Dieter Bohlen, um mestre da autopromoçãoFoto: AP

"Livros vendem-se hoje com intelecto e glamour", afirmou, por ocasião da abertura da Feira do Livro de Frankfurt, Dieter Schormann, presidente da Associação do Comércio Livreiro da Alemanha. Quem acompanha a repercussão na imprensa e as reações do público, tem a impressão de que o segundo elemento por ele citado tem predominância absoluta. Em se tratando de livros alemães, nada se ouve nem se lê sobre um lançamento literário de peso, nem sobre o comparecimento de escritores de renome para uma sessão de leitura ou debate com o público.

Alta conjuntura para fofocas

Quem domina os noticiários é Dieter Bohlen. VIP na Alemanha desde que se juntou a Thomas Anders para formar o Modern Talking, em 1984 — um duo que esteve muitas vezes nas paradas —, Bohlen desde então não sai das páginas de fofoca por causa de seus casos com mulheres bonitas e de busto grande. Ultimamente, faz um sucesso incrível como produtor musical. É ele o responsável pelo show de talentos Alemanha busca o superstar, que se tornou verdadeira febre no país.

O anúncio de lançamento de um segundo livro de sua autoria na Feira deste ano, intitulado Nos bastidores (Hinter den Kulissen), por uma editora de peso, a Random House (que pertence ao conglomerado Bertelsmann), gerou um escândalo que garantiu mais atenção ainda a Bohlen. Inúmeras pessoas citadas no livro, inclusive seu antigo parceiro Anders, entraram com liminares na Justiça para proibir que a obra surgisse com as passagens que lhes dizem respeito.

Um tribunal suspendeu imediatamente a entrega, e o livro só pôde ser exposto na Feira com as passagens polêmicas enegrecidas em trabalho manual por funcionários da editora. Nesta sexta-feira, os juízes confirmaram que os trechos em questão precisam ser retirados definitivamente, por representarem uma ingerência na esfera privada de terceiros.

Apesar do prejuízo que já teve, a editora está preparando uma edição revisada e pretende lançá-la no mercado até segunda-feira. É de se esperar qual o resultado das vendas: em pesquisa realizada pelo instituto Emnid, 75% dos entrevistados disseram não achar graça nos ataques de Bohlen a pessoas com quem se relacionou anteriormente, e 98% disseram não ter a intenção de comprar o novo livro.

Best-seller anterior

Já na Feira de 2002, o sucesso de sua autobiografia Nada além da verdade (Nichts als die Wahrheit) foi "o" acontecimento em Frankfurt, concentrando todas as atenções. Foi um negócio fabuloso para a editora Heyne, de Munique. Ávidos por conhecer detalhes picantes da vida e dos casos do músico eternamente bronzeado, os leitores compraram 800 mil exemplares do livro, escrito, aliás, com auxílio da jornalista Katja Kessler.

Efeito dominó

Stefan Effenberg als Schriftsteller
Sua autobiografia também deu o que falar: futebolista Stefan EffenbergFoto: AP

Por influência ou não do sucesso do "autor" Bohlen, fato é que o mercado de livros da Alemanha foi inundado desde então por uma avalanche de autobiografias de famosos de maior ou menor talento, quase sempre auxiliados por ghost writers. O jogador de futebol Stefan Effenberg, a ex-namorada de Bohlen Nadja Abdel Farrag, e até Daniel Küblböck, de 18 anos, que fez furor no show do Superstar, são apenas alguns exemplos de pessoas que se sentem donas de uma vida digna de ser conhecida por todo mundo.

O sucesso dessas obras banais deixa editores perplexos e ocupa psicólogos, que tentam encontrar explicações para o fenômeno. A fascinação que o mundo dos VIPs exerce sobre as pessoas é ambivalente, afirmam. Por um lado, estas projetam sobre os famosos seus próprios desejos e sonhos; por outro, querem descobrir por detrás da aura o ser humano, com seus defeitos e problemas.

Quem mais ganha com isso são os próprios VIPs: com os lucros das vendas, a presença constante na mídia e por adquirirem a sensação de que têm poder sobre a opinião pública, distribuindo simpatias e antipatias dependendo de como se referem às pessoas que retratam em seus livros.