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Museu Judaico de Viena dedica mostra a Paul Celan

Soraia Vilela23 de dezembro de 2001

A capital austríaca, apesar de ter sido uma rápida estação na vida do poeta, representa uma fase importante em sua biografia. "Displaced. Paul Celan em Viena. 1947-1948" documenta a passagem do escritor pela cidade.

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Nos primeiros anos do pós-guerra, mais de 1,5 milhão de refugiados passaram pela capital austríaca, entre eles dez mil judeus vindos do Leste Europeu, para os quais Viena era a única porta de entrada na Europa Ocidental. Apenas provenientes da Romênia eram 20 mil os judeus que chegaram à Áustria. Entre estes, estava Paul Celan (1920-1970), romeno filho de judeus de língua alemã, fazendo parte de um dos últimos grupos de refugiados que andaram a pé de Bucareste, de onde haviam fugido, até Viena.

No dia 17 de dezembro de 1947, Celan atingia enfim - como tantos outros exilados, apátridas e judeus - a antiga metrópole do Império dos Habsburgos. Após a árdua e longa caminhada, Celan publicaria ali Fuga da Morte, um dos mais contundentes textos poéticos sobre o extermínio dos judeus na guerra. Capaz de dar forma ao abalo existencial sofrido pela humanidade através do genocídio ocorrido, Celan refletia sobre o horror do Holocausto e sobre sua condição de judeu.

Surrealismo e anti-semitismo -

A mostra no Museu Judaico registra os meses em que Celan passou em Viena até seguir para Paris, seis meses mais tarde, em julho de 1948. A exposição aborda, entre outros, a relação do poeta com o surrealismo e as dificuldades dos judeus numa Áustria que insistia em negar sua participação nos crimes nazistas e cuja sociedade ainda preservava, no entanto, graves traços anti-semitas.

A estada em Viena deixou certamente rastros na obra de Celan: alguns de seus poemas foram escritos na cidade e outros acabaram sendo direta ou indiretamente dedicados aos amigos ali feitos. Foi ali que Celan conheceu a então estudante de filosofia, na época com apenas 21 anos, Ingeborg Bachmann. Da história de amor vivida em Viena surgiria uma sólida amizade literária, cultuada pelos próximos anos de vida do poeta.

Também na cidade Celan publicaria 17 de seus poemas na revista Plano, editada por Otto Basil, conhecida na época por ser um dos poucos nichos literário-políticos do pós-guerra na cidade. Uma das figuras-chave na passagem de Paul Celan por Viena foi também o pintor surrealista Edgar Jené, que tornou-se mais tarde um dos maiores entusiastas da obra do poeta. O ateliê de Jené na cidade servia de ponto de encontro para artistas e intelectuais e foi ali que aconteceram as primeiras leituras dos textos de Celan.

Conflitos - A amizade entre os dois seria quebrada entretanto pouco tempo depois, quando o poeta, já vivendo em Paris, deparou-se com as ilustrações de Jené publicadas em seu A Areia das Urnas. Celan acusou Jené de "um mau gosto explícito" e apontou o livro como "o volume mais feio" já visto por ele.

Apesar do momento significativo passado ali, Viena ficaria na memória de Celan apenas como um lugar triste, do qual ele quis se ver livre o mais rápido possível. Cerca de 150 fotos, livros, pinturas e algumas raridades bibliográficas compiladas em acervos privados pelo Museu Judaico constroem um panorama político da cidade, que não foi capaz de oferecer ao poeta uma permanência a longo prazo. Além disso, podem ser vistas ainda na exposição amostras do trabalho gráfico de Gisèle Lestrange, futura mulher de Celan.

Displaced. Paul Celan em Viena. 1947-1948

fica aberta ao público até o próximo 24 de fevereiro.