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Mídia vê vitória "apesar de Blair"

(sv)6 de maio de 2005

Jornais de língua alemã vêem terceiro mandato de Tony Blair como conseqüência da falta de outras alternativas. Guerra do Iraque ainda é fantasma na memória coletiva dos britânicos.

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Blair: perdas, mas terceiro mandato garantidoFoto: AP

"Blair sabe que não pode creditar a vitória a si próprio, como nas duas últimas eleições. O Partido Trabalhista venceu desta vez não por causa dele, mas apesar dele. A posição dos britânicos não é digna de inveja. Os grandes conservadores de então não ofereceram uma alternativa que se pudesse levar a sério", escreve o Financial Times Deutschland. A mesma posição é defendida pelo diário suíço Neue Zürcher Zeitung, em artigo intitulado Nenhuma alternativa além de Blair.

Sucessos econômicos

Consenso para a mídia européia parece ser o fato de que o triunfo de Blair nas urnas só se deu graças à política econômica do Partido Trabalhista. O crescimento econômico do Reino Unido sob o governo Blair é superior ao de qualquer outro país europeu e o governo do premiê ainda não vivenciou qualquer tipo de recessão.

A taxa de desemprego é a mais baixa dos últimos 30 anos, ficando em torno dos 2,7%. Além disso, é mérito do premiê ter conseguido modernizar o Parlamento britânico, com a redução do número de nobres hereditários com lugar garantido na Câmara dos Lordes.

Simpatias pela UE

Gordon Brown
Gordon BrownFoto: AP

Em relação à União Européia, Blair é um defensor convicto da integração do Reino Unido, tendo posto fim à era de isolamento britânico dos governos Thatcher e Major. Mesmo assim, não conseguiu convencer a população do país a aceitar o euro e a Constituição Européia.

Por outro lado, muitas das promessas do Partido Trabalhista não foram cumpridas, entre elas a reforma do setor público, ou seja, do sistema de saúde, de ensino e transportes. É na construção de uma rede social mais sólida para a população carente que Blair promete se concentrar nos próximos anos. Pelo menos enquanto continuar na posição de premiê. A mídia britânica especula que o atual ministro das Finanças, Gordon Brown, pode vir a assumir o lugar de Blair, no mais tardar daqui a dois anos. Foi graças ao apoio de Brown que a campanha eleitoral de Blair realmente decolou.

Schröder: amigo de velhos tempos

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Tony Blair e Gerhard SchröderFoto: AP

O chanceler federal Gerhard Schröder enviou a Blair os cumprimentos de praxe, aproveitando para dar os parabéns ao novo-velho premiê por ter completado 52 anos. "Penso que, com a vitória, você se deu o maior presente de aniversário", escreveu Schröder. Não faz muito tempo, em junho de 1999, Schröder e Blair publicaram juntos o chamado "Manifesto da Terceira Via", teoricamente uma defesa da justiça social e de um "meio-termo" entre interesses individuais e coletivos.

Aos poucos, esta Terceira Via, no entanto, passou a ser cada vez menos usada. Os atentados de 11 de setembro de 2001 levaram vários governos europeus a uma guinada para a direita, trazendo facções conservadoras ao poder e dando ênfase a questões relacionadas à imigração e segurança.

Blair e Schröder continuaram relativamente próximos, embora os propósitos comuns da "nova" social-democracia da Terceira Via ficassem cada vez mais esquecidos. Com a Guerra do Iraque, porém, Schröder se distanciou de Blair, que se alinhava ao governo norte-americano.

Iraque na memória do eleitor

Anti Blair Demonstration in London
Londres: protestos contra a guerra do IraqueFoto: AP

A opção pelo apoio à Casa Branca por ocasião da invasão do Iraque – mesmo à revelia da população do país - é uma das principais causas da rejeição de Blair entre o eleitorado. Principalmente considerando que sua postura após a guerra foi a de um sorry pela metade. "Durante a campanha eleitoral muitos críticos perguntaram se a guerra foi realmente justificável e há quanto tempo Blair já havia tomado a decisão de levar seu país à guerra", observa o diário alemão Süddeutsche Zeitung.

Sem ser mais visto com a boa vontade dos áureos tempos dos encontros da Terceira Via, Blair terá que governar com uma maioria bem mais estreita que a de seus mandatos anteriores. Para o semanário Die Zeit, é possível que apenas os historiadores de amanhã consigam pintar um rosto mais amável do premiê britânico.

"A carreira de um político que se propôs a renovar a social-democracia européia está ameaçada de não ter um fim tão glorioso. Em dois anos, o britânico passou de homem radiante a político rotulado de mentiroso, tanto em casa quanto no exterior. E cuja saída do palco político deve causar satisfação a muitos", conclui o jornal.