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"Não" de Teerã gera impasse previsto no Ocidente

Peter Philipp (sm)28 de abril de 2006

A situação já era esperada: passados os 30 dias do ultimato da ONU, o Irã não deu mostras de que pretende suspender seu programa nuclear. Peter Philipp, analista político da Deutsche Welle, comenta.

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Teerã prossegue programa nuclearFoto: dpa

A situação lembra a bizarra prova de força quando uma pista da estrada está interditada: dois carros se defrontam, buzinando, e nenhum quer dar passagem ao outro. Até um dos dois desistir no último momento e recuar. Ou até culminar numa batida, com conseqüências fatais para ambos.

Iran hat erfolgreich Uran angereichert Militärparade Ahmadinedschad
Desfile militar para comemorar enriquecimento de urânio, Teerã, abril de 2006Foto: picture-alliance/dpa

Sob a pressão de Washington, o Conselho de Segurança da ONU deu ao Irã, no final de março, um prazo de 30 dias para desistir de seus planos de enriquecer urânio. Crédulo demais quem achava que o país reagiria a isso. Muito pelo contrário, Teerã comunicou, numa encenação bombástica, seu êxito no processo de enriquecimento, anunciando que prosseguiria neste caminho.

Campo de força da Guerra Fria

Para os estrategistas da Casa Branca, o fato certamente representa uma amarga decepção. Afinal, uma inflexibilidade dessas não corresponde em nada às expectativas da única superpotência do mundo.

Isso, sem dizer que o ultimato de 30 dias já era uma admissão de fracasso: a comunidade internacional ameaçara durante três anos o Irã de levar o caso ao Conselho de Segurança da ONU e, quando isso finalmente aconteceu, o grêmio não chegou a um consenso de como proceder contra Teerã. Trinta dias depois, a situação não poderia ser diferente.

A Rússia e a China vão continuar torpedeando quaisquer tentativas de represália e, especialmente, o uso de violência contra o Irã. E com isso pretendem desmascarar os Estados Unidos como "tigre de papel" e denunciar que as metas de Washington vaõ bem mais além de dobrar Teerã.

Concessão não bastaria

No caso da Coréia do Norte, o governo norte-americano provou que tem condições de negociar diretamente a solução de um problema. Com o Irã, no entanto, Washington não quer conversa. A meta é se livrar do regime iraniano e não dialogar.

No entanto, este regime não se deixa derrubar por palavras, algo que Washington parece ter entendido. E por isso nem mais hesita em ameaçar abertamente o Irã com o uso de violência – incluindo armas nucleares táticas.

EUA e o resto do Ocidente

Após um prazo de 30 dias, no entanto, o Conselho de Segurança não estará disposto a endossar medidas do gênero – algo que ainda vai fortalecer o governo iraniano. Mesmo quem apóia a estratégia norte-americana (se é que se pode falar disso), também está num dilema: sanções de qualquer espécie ameaçam mais quem as impôs do que aquele a quem elas se dirigem. E medidas militares arriscam justamente desencadear a escalada do conflito que se pretendia evitar.

Kombo Iran USA Mahmoud Ahmadinedschad und George Bush
Presidente iraniano, Mahmud Ahmadinedjad, e norte-americano, George W. BushFoto: AP

Por isso, estaria mais do que na hora de os europeus pararem de se mover a reboque de Washington. Os Estados Unidos e o Irã deveriam ser convocados a um diálogo direto ou multilateral, como no caso da Coréia do Norte. Só que não poderia ser um diálogo em que se tratasse de "tudo ou nada", mas sim da construção de uma confiança mútua.