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"Não sigam as orientações do presidente", diz Doria

30 de março de 2020

Governador paulista afirma que Bolsonaro "não lidera o Brasil no combate ao coronavírus". Estado brasileiro mais atingido pela pandemia, São Paulo lança campanha para que população fique em casa.

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O governador de São Paulo, João Doria
Foto: picture-alliance/Zuma/P. Lopes

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), pediu nesta segunda-feira (30/03) que a população não siga as recomendações de Jair Bolsonaro em relação ao coronavírus. Nos últimos dias, o presidente tem pedido para que a população volte ao trabalho e defendido uma forma de quarentena parcial, isolando apenas idosos e doentes crônicos. Bolsonaro também minimizou repetidas vezes a pandemia, classificando a covid-19 como uma "gripezinha".

"Quero voltar a reafirmar: escutem e atendam as recomendações médicas. E não as informações colocadas nas redes sociais. Lamento dizer, mas, neste caso, por favor, não sigam as orientações do presidente da República do Brasil. Ele não orienta corretamente a população e lamentavelmente não lidera o Brasil no combate ao coronavírus", disse Doria, durante uma coletiva de imprensa.

O governador paulista vem sendo alvo de ataques do presidente e de redes virtuais ligadas à família Bolsonaro nos últimos dias por defender medidas mais drásticas para combater a pandemia. Em reunião com governadores do Sudeste na semana passada, os dois chegaram a bater boca. 

Doria é um potencial rival de Bolsonaro nas eleições de 2022, e a redes bolsonaristas têm acusado o tucano de usar a crise para se projetar politicamente. Os dois políticos foram aliados nas últimas eleições. 

Alguns dos ataques contra Doria incluem até mesmo o uso de fake news sobre a forma como São Paulo vem contabilizando contaminados pelo coronavírus. Na sexta-feira, o próprio presidente pôs em dúvida, sem apresentar qualquer prova, o número de casos de coronavírus no estado de São Paulo.

Dados do Ministério da Saúde indicam que o estado tem 1.451 casos confirmados da doença e 98 mortes, os maiores números entre todas as unidades da federação. 

Nesta segunda-feira, Doria também anunciou o lançamento de uma campanha para instar as pessoas a ficarem em casa. "A economia a gente trabalha e recupera. A vida de quem a gente ama não dá para recuperar. Fique em casa", diz uma das peças da campanha.

Na coletiva, Doria reforçou o pedido, afirmando que "o isolamento é uma necessidade" para combater o coronavírus. "É melhor prevenir hoje do que lamentar amanhã", disse.

O governador ainda fez um apelo para que empresários de médio e grande portes não demitam funcionários em meio à crise. "Por favor, não demitam. Esta é uma crise com prazo determinado. [...] Protejam seus funcionários."

A campanha lançada por Doria contrasta com uma iniciativa lançada pelo governo Bolsonaro na semana passada e que foi rapidamente abortada. Redes do Planalto chegaram a publicar material com o slogan "O Brasil não pode parar", alinhado com as ideias do presidente sobre a pandemia. No entanto, a campanha foi barrada por ordem da Justiça. O governo apagou as publicações e depois declarou que a campanha "nunca existiu", apesar de o material ter ficado disponível por três dias.

A fala de Doria também ocorre um dia após Bolsonaro passear por vários comércios na região de Brasília, provocando aglomerações e desafiando as restrições impostas pelo governo do Distrito Federal para conter a circulação de pessoas. No domingo, o presidente ainda publicou vídeos das visitas em suas redes sociais.

Neles, era possível ouvir comerciantes e camelôs falando que "querem trabalhar" – falas afinadas com o discurso de Bolsonaro, que vem defendendo uma "volta à normalidade" e atacando medidas amplas de isolamento impostas por governadores, apesar da pandemia de coronavírus. O material, no entanto, acabou sendo deletado pelo próprio Twitter, numa rara ação contra um chefe de Estado, por violar as regras da plataforma.

A atitude de Bolsonaro entrou em choque com falas do seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que no sábado havia pedido para que a população ficasse em casa. "Se a gente sair andando todo mundo de uma vez vai faltar [equipamento]  para o rico, para o pobre, para o dono da empresa, para o dono do botequim, para o dono de todo mundo", disse o ministro na ocasião.

JPS/ots

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