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Na Alemanha, polícia fecha o cerco contra ativistas do clima

24 de maio de 2023

Acusados de ajudar no financiamento de ações criminosas, membros do Letzte Generation são alvo de busca e apreensão. Grupo de ambientalistas ganhou fama ao protestar contra a política climática em estradas e museus.

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Uma mulher com colete laranja está sentada sobre o asfalto e sorri. Ela tem uma mão colada, literalmente, no asfalto. A foto foi tirada durante uma ação do grupo de ativistas do clima Letzte Generation (Última Geração) em Colônia. Ao lado dela, um policial debruça-se sobre a mão da manifestante e tenta removê-la usando uma substãncia química para dissolver a cola.
Policial tenta soltar a mão de uma manifestante colada ao asfalto durante ação do grupo de ativistas do clima Letzte Generation em ColôniaFoto: Gero Rueter/DW

Membros do grupo alemão de ativistas do clima Letzte Generation ("última geração"), que se notabilizou por ações em que se colam ao asfalto e a veículos durante bloqueios de estradas, foram alvos de ações de busca e apreensão na manhã desta quarta-feira (24/05).

Sete suspeitos, com idade entre 22 e 38 anos, são acusados de formar ou apoiar uma organização criminosa, angariando ao menos 1,4 milhão de euros para seu financiamento, informaram a Polícia Criminal do estado da Baviera e a Promotoria de Munique.

Dois deles teriam planejado uma ação de sabotagem em um duto de combustível que conecta a cidade de Ingolstadt, na Baviera, ao porto de Trieste, na Itália. O duto é considerado uma parte crítica da infraestrutura do estado, o segundo mais rico da Alemanha.

A operação, que apura o financiamento de atividades criminosas por parte de alguns dos ativistas do grupo, mobilizou 170 agentes em sete estados alemães. Quinze imóveis foram revistados, e duas contas bancárias foram bloqueadas. O site do grupo também foi tirado do ar. Até agora não houve prisões preventivas.

Operação é "completamente maluca", reagem ativistas

As autoridades da Baviera justificam a ação argumentando a necessidade de preservar evidências sobre a estrutura e financiamento do grupo. As investigações estão em andamento desde o ano passado, e tiveram início com uma apuração da Promotoria de Brandemburgo sobre uma ação do grupo contra uma refinaria de combustível em Schwedt.

Pelo Twitter, o Letzte Generation se manifestou questionando quando lobistas e fundos governamentais baseados em combustíveis fósseis serão alvos de ação semelhante. A operação, afirmam, é "completamente maluca" – referência sarcástica a uma declaração recente do chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, que usou as mesmas palavras ao comentar sobre as táticas de protesto do grupo.

Outros grupos de ativismo ambiental se manifestaram em tom semelhante. Para o Extinction Rebellion ("rebelião contra a extinção"), a operação é uma cortina de fumaça para distrair a opinião pública sobre quem são os "verdadeiros criminosos". Já o Ende Gelände (expressão que significa algo como "já basta") declarou que os agentes estão mirando "nos que alertam sobre a crise climática, em vez de nos que são responsáveis por ela".

Quem são e o que querem os manifestantes do Letzte Generation?

Nascido em meio a uma série de bloqueios de estradas em Berlim em 2021, o Letzte Generation leva esse nome como alerta contra o colapso iminente do clima.

Na Alemanha, eles demandam do governo a elaboração de um plano que permita limitar o aquecimento do planeta a 1,5 graus Celsius em comparação com a era pré-industrial.

Mas os métodos dos ativistas, que pressionam por ações radicais no combate às mudanças climáticas, têm dividido a opinião pública.

O grupo ganhou notoriedade com ações polêmicas, como quando manifestantes atiraram comida em obras de arte em museus em Roma, na Itália, e Potsdam, na Alemanha.

Os bloqueios frequentes de estradas têm levado diversos ativistas aos tribunais – a maioria foi multada, mas já houve casos também de pessoas condenadas à prisão.

Embora saiba que suas ações incomodam, o grupo insiste que elas são necessárias para encorajar o debate sobre as mudanças climáticas na sociedade.

Líder sindical dos policiais alemães, o agente Rainer Wendt comemorou a operação. "O Judiciário está agindo. É o sinal correto vindo de um Estado de Direito", afirmou. "A população, que sofre milhares de vezes diariamente nas ruas com o terror desses autointitulados salvadores do clima, finalmente está sendo vista como a vítima real desses criminosos."

ra (AFP, DPA, AP)