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Na disputa entre China e EUA, deve sobrar para o Brasil

17 de outubro de 2019

Até agora, os agricultores brasileiros vinham lucrando com a queda de braço entre americanos e chineses. Mas, com a eleição se aproximando, Trump não terá escolha, senão ceder. E o Brasil vai acabar pagando a conta.

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Trump ao lado de Bolsonaro
Trump ao lado de Bolsonaro: americano não deve hesitar em preterir o Brasil no comércioFoto: Reuters/C. Barria

Há um ano e meio agricultores sul-americanos vêm lucrando com a disputa comercial entre China e Estados Unidos. Sobretudo o Brasil, que conseguiu elevar significativamente suas exportações de soja, milho, carne bovina e aviária para a China.

Acabaram ficando para trás os agricultores americanos, que neste último ano e meio tiveram seus produtos sobretaxados pelos chineses, em resposta às tarifas impostas pelo governo Donald Trump à China. Suas exportações para o gigante asiático despencaram de 20 bilhões para 9 bilhões de dólares em 2018.

Em 2019, os produtores de soja americanos exportaram a metade em relação ao ano anterior. Em contrapartida, o Brasil, hoje o maior produtor mundial, exporta três quartos da soja consumida na China – cerca de 20% mais do que antes da eclosão da disputa comercial.

Mas agora a maré está mudando – e o Brasil está virando o peão sacrificado no jogo de xadrez entre China e EUA. Pequim teria oferecido aos EUA elevar, dentro de dois anos, a compra de produtos agrícolas de 40 bilhões para 50 bilhões de dólares.

Em contrapartida, os EUA não elevariam, como ameaçaram, as taxas de 25% para 30% sobre importações da China no valor anual de 250 bilhões de dólares. Mas não há nada selado ainda – a assinatura do contrato deve ser feita apenas em meados de novembro, na cúpula da Apec, a Cooperação Econômica Ásia-Pacífico.

Será, segundo as palavras de Donald Trump, "o maior e mais importante acordo já feito para os grandes e patriotas agricultores americanos". Mas mesmo que as compras da China junto aos agricultores dos EUA fossem muito mais baixas, o presidente americano não teria escolha, senão aceitar a oferta.

Na verdade, ele enfrenta um dilema. Trump tem que agradar a seus eleitores no Meio-Oeste agrícola, que reclamam e colocariam sua lealdade ao presidente em xeque se o mercado da China continuar fechado para eles em 2020, ano de eleição. Até agora, Trump os manteve no jogo através de subsídios. Mas isso não vai bastar por muito tempo mais para garantir o seu apoio.

De qualquer forma, o Brasil está em desvantagem. Sob a presidência de Jair Bolsonaro, um autoproclamado fã de Trump, a ascensão do Brasil para se tornar o maior fornecedor de alimentos do mundo provavelmente vai desacelerar – e isso no exato momento em que o aumento das importações do Brasil deveria ser compensado com o aumento das exportações, de modo a reanimar uma economia estagnada.

Mas Trump só está interessado em seus agricultores, os interesses do Brasil são completamente irrelevantes para ele. Isso é normal e seria feito por qualquer presidente americano que tenha de enfrentar a reeleição. O Brasil também não poderá esperar quaisquer concessões da China, por exemplo, se Pequim reduzir mais lentamente as importações da América do Sul. Até agora, o presidente Bolsonaro tem ignorado os chineses de forma demasiadamente acintosa.

É, na verdade, ingênuo da parte do governo brasileiro achar que será tratado de forma diferenciada no comércio, só porque os presidentes ideologicamente concordam.

Também assim Trump mostra que não hesita em quebrar suas promessas com parceiros menos importantes como o Brasil: no final de maio, ele prometeu apoiar a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Mas agora propôs oficialmente a inclusão da Argentina no clube dos países industrializados e emergentes – e sequer mencionou o Brasil.

Talvez Bolsonaro devesse reconsiderar a sua lealdade a Trump. Ele poderia usar sua viagem à China em cerca de dez dias para buscar um terreno comum com os chineses. O Brasil ganharia com isso.

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