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Nike cancela venda de tênis com antiga bandeira americana

3 de julho de 2019

Fabricante gerou polêmica ao anunciar calçado que trazia uma versão da bandeira dos EUA do final do século 18, quando ainda existia escravidão no país. Símbolo já foi associado a grupos extremistas como Ku Klux Klan.

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Bandeira que gerou polêmica é conhecida como "Betsy Ross" Foto: picture-alliance/AP Photo

A fabricante americana de roupas esportivas Nike cancelou nesta terça-feira (02/07) as vendas de um novo modelo de tênis cuja estampa mostrava uma antiga versão da bandeira dos Estados Unidos que remonta ao final do século 18.

O lançamento estava originalmente previsto para 4 de julho, data da Independência dos EUA. A Nike decidiu retirar o calçado do mercado depois que o ex-quarterback da NFL (liga esportiva profissional de futebol americano) Colin Kaepernick pediu à empresa para não vender um produto com um símbolo que ele considera ofensivo pelas ligações com o período em que a escravidão ainda vigorava no país.

O ex-astro do futebol americano foi o primeiro atleta da NFL a criticar publicamente a brutalidade policial contra afro-americanos ao se ajoelhar durante o hino nacional em 2016, um gesto que logo seria imitado por outros atletas.

A Nike vinha incluindo Kaepernick em uma de suas campanhas publicitárias desde o ano passado, com as seguintes palavras: "Acredite em algo. Mesmo que isso signifique sacrificar tudo."

Chris Allieri, da empresa de relações públicas de Nova York Mulberry & Astor, opinou: "Ouvir alguém que tenha ajudado a marca de tantas maneiras faz sentido. Seria completamente hipócrita eles não o escutarem."

A Nike disse em um comunicado que "retirou o calçado com base em preocupações de que ele poderia, sem querer, ofender e desvirtuar o feriado patriótico da nação".

"A Nike é uma empresa orgulhosa de sua herança americana e do nosso compromisso contínuo em apoiar milhares de atletas americanos, incluindo a equipe olímpica e as equipes de futebol dos EUA", declarou a empresa em comunicado.

A decisão não foi bem recebida por todos. O governador do Arizona, Doug Ducey, que é do Partido Republicano, escreveu no Twitter: "Palavras não podem expressar minha decepção com esta decisão terrível. Estou envergonhado pela Nike."

Como uma medida de retaliação, o político anunciou: "Eu ordenei à Autoridade de Comércio do Arizona que retire todos os dólares de incentivo financeiro sob seu critério que o estado estava providenciando para a empresa montar uma sede aqui."

A bandeira da controvérsia é popularmente conhecida como "Betsy Ross". Ela possui 13 estrelas brancas dispostas em um círculo, cada uma representando as colônias originais que formaram os EUA.

Uma lenda popular conta que o primeiro exemplar dessa bandeira foi costurada por uma mulher chamada Betsy Ross a pedido do então general George Washington (que viria a ser o primeiro presidente do país). Mas historiadores apontam que essa história é provavelmente uma fábula e que ela só se popularizou mais de um século depois.

A própria "bandeira Betsy Ross" também seria apenas um de vários modelos de bandeiras dos EUA que existiram nos primeiros anos da independência do país. Até que, em 1794, uma lei estabeleceu um design oficial, com regras precisas para acomodar novos estados que haviam sido incorporados ao país, dando à bandeira americana 15 estrelas, que não foram dispostas em círculo.

No século 20, a "Betsy Ross" passou a ser algumas vezes associada a grupos extremistas, que se apropriaram da bandeira para propagandear um passado idealizado. A bandeira foi usada pelo grupo pró-nazista German Bund no final dos anos 1930 e pela Ku Klux Klan na tentativa de recrutar seguidores.

No entanto, a Liga Antidifamação (ADL) não a vê a bandeira como um símbolo de ódio. Mark Pitcavage, pesquisador do Centro de Extremismo da ADL, disse que a bandeira é usada principalmente para fins patrióticos. "Nós vemos isso como essencialmente uma bandeira histórica inócua", disse Pitcavage. "Não é uma coisa do movimento da supremacia branca."

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